Bagdá Café
- Por Nelson Correa
- 22 agosto, 2010
- 4 Comentários
Sábado, 21 de agosto de 2010 em uma cidade maravilhosa às margens do oceano Atlântico, no continente sulamericano. Fatos:
– Um dos grandes traficantes de drogas de favela, que comanda uma das maiores comunidade da zona sul da cidade, decidiu ir a uma festa na favela vizinha, uma pequena comunidade que já recebeu até visita de um papa, que é sua também.
– Como não é bobo, leva consigo um exército de 60 criminosos fortemente armados com pistolas, granadas, fuzis e metralhadoras.
– Policiais da Inteligência do Batalhão da Polícia Militar, em um bairro noblíssimo da zona sul da cidade, vizinho dessas favelas, tomam conhecimento durante a madrugada que o tal chefe do tráfico da grande favela estava em uma festa na pequena favela vizinha, que é dele também.
– Estes policiais decidem sair para uma emboscada na entrada da favela e tentar prender o chefe do tráfico.
– Por cautela ou seja lá o que se passou na cabeça dos 12 policiais militares, eles resolvem não acordar os comandantes da Segurança Pública do estado, e vão atrás do criminoso sem o aval dos seus comandantes.
[Não me pergunte se é preciso o aval do comando para sair atrás de bandidos e tentar prendê-los, estou só relatando fatos.]
– Na saída da favela houve o encontro entre os criminosos e os policiais que estavam à paisana.
– Aqui há um hiato nos relatos da imprensa, pois entre a saída da pequena favela e um hotel 5 estrelas à beira da praia onde o campo de batalha foi formado, há uma belíssima (extraordinária) estrada na montanha, pendurada sobre o mar, com aproximadamente 3km de um ponto ao outro do teatro de batalha.
– No entorno do hotel 5 estrelas, que é caminho obrigatório para a grande favela, os criminosos encontraram outros policiais militares, muito provavelmente avisados pelos 12 que estavam na espreita, à paisana, na saída da pequena favela.
– O estacionamento do hotel, a avenida à beira da praia, a própria praia, as ruas em volta do hotel e o próprio hotel viraram um campo de batalha, com muitos tiros de armamento pesado (de guerra), granadas, escaramuças e perseguições.
– Trinta e cinco hóspedes do hotel 5 estrelas foram feitos reféns e depois libertados pelo Batalhão de Elite da polícia.
– Aproximadamente 50 bandidos fugiram para a grande favela próxima do hotel (cerca de 1km)
– Uma mulher que a polícia identificou como criminosa procurada pela justiça, morreu na rua (no campo de batalha).
– Quatro policiais militares foram feridos sem gravidade.
– Dez criminosos que estavam no hotel se entregaram à polícia.
– Dezenas de hóspedes e outros tantos funcionários do hotel, em pânico, abandoram o hotel.
– A polícia suspeita que o chefe do tráfico da região, e alvo da operação sem o aval do comando da Segurança Pública, tenha ficado ferido.
– Carros foram perfurados por projéteis de grosso calibre (de guerra) e vidros de lojas e do hotel, também.
– Pelo menos um cidadão que estava no teatro de batalha foi ferido por tiro, mas sem gravidade.
– Por sorte ou seja lá como isso pode ser chamado, quase não houve baixas.
– Provavelmente a Inteligência falhou pois não sabia quantos eram os bandidos que teriam que enfrentar. Se soubesse que eram 60 não mandariam somente 12 policiais, por mais treinados que fossem, como estavam à paisana, não deviam estar portando armas pesadas, de guerra.
Domingo, dia seguinte:
– Secretaria de Segurança Pública, para aumentar a sensação de segurança da população no local que fora campo de batalha na véspera, estaciona vários veículos da polícia sobre calçadas do bairro, na entrada das favelas e em pontos estratégicos.
– Não há notícias se as forças de segurança pública do estado estão buscando o chefe, provavelmente ferido e os outros 50 criminosos que se escafederam e seu poderoso armamento de guerra.
– O governador garantiu que bevemente as duas favelas desta história, a grande e a pequena, estarão livres do poder paralelo. Não disse quando.
– O secretário de segurança pública destacou a ação firme, profissional e com efetividade da polícia.
– O ministro das cidades atribuiu o episódio a uma ação isolada de um grupo de bandidos da região. Seja lá o que isso queira significar.
– Não há comentários sobre os 12 policiais responsáveis por tudo isso que vimos ontem, muito menos seu paradeiro ou futuro.
– Grande portal da internet mostra que a rotina voltou ao local do teatro de batalha. Pessoas estão curtindo a praia e o domingo de sol, menos de 24 horas após a guerra no local.
– População do resto da cidade não demonstra indignação e muito menos cobra das autoridades o fim desse estado de sítio.
Notícias Gerais:
– Pesquisas mostram que atual governador deve ser reeleito no primeiro turno. Também mostram que o candidato da situação ao governo federal que é apoiado pelo governador, também deve ganhar no primeiro turno, demonstrando apoio explícito da maioria da população.
– Dezenas de policiais militares fazem blitzes com bafômetro que caçam todas as noites, de segunda a segunda, motoristas com álcool no sangue (a minoria <5%) e inadimplentes com IPVA (a maioria >95%). Um sucesso! Centenas de apreensões foram feitas nos últimos 12 meses.
– Escolas de samba começam a contar os meses para o grande desfile do carnaval 2011.
– Não. Não é verdade que Bagdá Café seja um filme dramático de guerra. Na verdade, é uma comédia, um dos principais cult-movies dos anos 80.
Assista Alpha Dog, um filme sobre ricos envolvidos com tráfico.
Um dia já fui liberal e defensor dos direitos humanos. Cancei. Ainda acredito que a grande maioria das pessoas são boas, mas a cada dia vejo que a alienação e irracionalidade tomam conta de todos. Corrupção não é somente dar dinheiro ao guarda, aceitar é uma forma de apoiar, e é pelo voto que vemos quem é nosso povo.
Caro Chantinon,
É essa constatação que me deixa mais triste com o futuro próximo: na média, o brasileiro ainda apoia tudo-isso-que-está-aí com convicção. Ou como diria o Barão de Itararé, ou qualquer outro: “Ou se restaure a moralidade ou nos locupletemos todos”
Abraços e esperança,
Nelson
É, seu Nelson,embora eu tenha um certo costume em querer contrariar opiniões, neste caso em expecifico, como tirar sua rasão? não tem como,não é mesmo? e parabêns pela comparação feita,muito boa mesmo, analogicamente falando.
Oi Valdir,
Eu só fiz relatar os fatos que foram publicados pela imprensa. Nesse artigo não tem quase nenhuma opinião. Ok, tem um pouco de sarcasmo no final, mas é impossível eu deixar de colocar uma pitadinha ao menos, de sal. ;-)
Abraços,
Nelson