Hacker Jobs


Imagem: Bandeira pirata na Apple

Original Macintosh pirate flag that was painted by Susan Kare

Os que se aventuram a ler este Pô, meu! sabem que não acho o Steve Jobs um semideus. Sabem que eu o admirava por sua criatividade e, principalmente, por seu tino de negócios. Escrevi logo depois da sua morte a minha opinião sobre ele no artigo Steve Jackson ou Michael Jobs.

Mas como um bom debatedor, não podia confiar plenamente só no meu feeling para criar uma opinião sobre o cara que movimentou hordas de fãs. Fui na livraria (fui nada, comprei pela Internet mesmo) e trouxe a biografia autorizada de Steve Jobs escrita pelo jornalista Walter Isaacson. Imaginei que as 607 páginas do livro fossem suficientes para sustentar minha opinião ou me fazer mudá-la.

Cheguei ao fim do primeiro terço e nada foi mudado. Aliás, foi até reforçada a minha visão do mago da Apple. Nesta fase do livro, a Apple está lançando o Macintosh. Foi uma festa. Até Ridley Scott, o diretor do na época revolucionário filme de sci-fi, Blade Runner – O Caçador de Andróides, foi contratado para fazer um comercial que citava o livro 1984, de George Orwell e o seu Grande Irmão (representado na época pela IBM, a Big Blue). Este comercial foi apresentado em um dos intervalos milionários do SuperBowl de 1984. A festança foi paga pelos compradores do novo computador da Apple, que deveria ter saído da fábrica de Cupertino por 1.950 dólares, mas por conta do marketing, teve que custar 2.450 dólares. E daí? Quinhentinhos a mais por um Mac.

Veja abaixo o vídeo do comercial do Macintosh produzido por Ridley Scott. A seguir, um pedaço muito interessante do livro que ajuda a traçar o perfil do gênio que arrebatou e ainda arrebata legiões de religiosos fãs.

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“Jobs gostou. De fato, o conceito do anúncio tinha uma ressonância especial para ele, que se imaginava um rebelde e gostava de se associar aos valores do bando bagunçado de hackers e piratas que recrutara para o grupo Macintosh. Em cima do prédio deles esvoaçava a bandeira pirata. Jobs tinha deixado a comunidade das maçãs no Oregon para começar a corporação Apple, mas ainda queria ser visto como um integrante da contracultura, e não da cultura empresarial.

Mas, no fundo, ela sabia que vinha abandonando gradualmente o espírito hacker. Alguns até podiam acusá-lo de ter se vendido. Quando Wozniak continuou fiel à ética do “feito em casa” compartilhando de graça seu projeto para o Apple I, foi Jobs quem insistiu que vendessem as placas para os colegas do grupo. Foi ele também que, apesar da relutância de Wozniak, quis transformar a Apple numa corporação, abrir o capital e não distribuir gratuitamente as opções de compra de ações aos amigos que tinham trabalhado com eles na garagem. Agora estava para lançar o Macintosh e sabia que isso violava muitos dos princípios do código hacker. O preço era bem alto. Jobs tinha decretado que a máquina não teria slots, o que significava que os aficionados não poderiam conectar seus cartões de expansão nem mexer na placa-mãe e acrescentar funções. Chegara a projetar o computador de um modo que impedia até entrarem nele. Mesmo para abrir o gabinete era preciso ter ferramentas especiais. Tratava-se de um sistema fechado e controlado, que mais parecia ter sido projetado pelo Big Brother do que por um hacker.”

(In Steve Jobs, por Walter Isaacson, págs. 180 e 181)

Vou voltar para ler as 400 páginas que faltam. ;-)



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