Adevogados ou advogados?


Adevogados ou advogados?Eu sempre tive uma vontade oculta de tentar me inscrever no famoso “exame da ordem”, que na verdade é uma prova preparada pelas OABs (Ordem dos Advogados do Brasil) regionais, que os bacharéis em direito fazem, para poder atuar como advogados após terminarem seu curso superior. Obviamente eu teria primeiro que estudar bastante direito, e depois, tentar de alguma maneira formalizar minha participação nesse desafio que separa bacharéis de advogados.

É claro que você está se perguntando: “Para que um exame de liberação da atividade profissional para o recém formado bacharel de direito?” O cara não estudou e foi aprovado em todas as matérias do curso de direito? Eu também já me fiz essa pergunta zilhões de vezes. Ora, se o recém formado não merece crédito da OAB, não era mais fácil acabar com a profusão de cursos superiores de direito que temos no Brasil e deixar só os sérios, com bom conceito no MEC, funcionarem?

Nunca pensei em tentar o Big Brother Brasil, mas eu acalentava o sonho de encarar esse desafio: o Exame da Ordem. Pensava eu: “Se o cara só vai ser certificado para trabalhar como advogado depois de ser aprovado no “exame da ordem”, para que então fazer os quatro anos de curso superior? Estuda puxado em dois anos e tenta a aprovação no “exame da ordem”. E depois meu pai é advogado, e quando garoto, andei ajudando no escritório dele numa época que lá estava em obras. Estive também em umas duas festas de final de ano. Parecia óbvio não é? Eu sei que a prova não deve ser fácil, pois comemora-se em Sergipe o resultado de 42,81% de aprovação em 2008, o que lhes garante, a honrosa primeira colocação em todo o Brasil varonil(*).

Mas nessa semana, uma juíza federal aqui do Rio de Janeiro, concedeu um mandado de segurança a seis bacharéis em Direito proibindo a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de exigir deles a aprovação no exame da entidade para que obtenham o registro profissional. Surpreso? Eu também fiquei. A senhora juíza disse que era inconstitucional esse exame, pois pela interpretação dela, a Constituição, quando diz que um profissional precisa ser qualificado, quer dizer que basta ter formação e ensino. Minhas chances foram reduzidas a zero. Nunca teria saco paciência para um curso de direito completo.

Aí você deve estar se perguntando de novo: “Mas os bacharéis têm que pagar para fazer esse exame?” Me perguntei também e fui pesquisar. Em São Paulo, o último exame, agora em janeiro/2009, a inscrição custou a besteirinha de R$ 180,00 (cento e oitenta reais). O que se faz nos dias de hoje com cento-e-oitenta-reais? E lá, em Sampa, a média tem sido de 25.000 adevogados bacharéis inscritos em cada um dos dois exames anuais. cinco vezes dois, noves fora quatro, cai um zero, ou seja, algo em torno de R$ 9.000.000,00 (NOVE MILHÕES DE REAIS) arrecadados por ano para verificar quem presta e quem não presta (a maioria não presta, sem trocadilho). Mas isso é para nos proteger dos advogados mal preparados.

É, meu sonho foi pro ralo. Mas a pergunta que todos devem estar se fazendo é: “E para onde vão os mais da metade de bacharéis de direito formados todos os anos, muitos deles bancaram faculdades particulares por quatro anos (pelo menos)? Ora, vão ser vendedores, motoristas, bancários, babás, adestradores de cães, professores, engenheiros, médicos, dentistas, cafetões, prostitutas e blogueiros profissionais, dentre outras profissões menos importantes.

Mas ainda falta uma pergunta: E quantos são os alunos do Pró-Uni (225.000 bolsas em 2009) que são financiados pelo governo federal, com o dinheiro de todos, nas centenas de faculdades “meia-boca” desse Brasil varonil (*) que não conseguem ser aprovados no exame da ordem? É dinheiro jogado fora? Olha, vamos parar de perguntas capciosas porque vai acabar ficando mal aqui pro Pô, meu! Já estou sendo classificado de neoliberal por uns e de comunista por outros, para me classificarem como membro da elite que torce pelo fracasso, é um passo. Chega por hoje.

(*) Só escrevi varonil para colocar o significado aqui. Pode ser postura honrosa, comportamento impecável e elogiável. Ou também relativo ou pertencente a varão; viril; másculo; macho. Isso na definição do Dicionário inFormal



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16 Comentários

  • Oi Nelson!

    Adorei o post!

    Me fez pensar numa questão: será que não estaria faltando uma ‘provinha’ dessas para o ‘povo’ que pretende ingressar no magistério?? Falo isso porque sou parte dessa ‘galera’ – me formo, em julho.. serei professora de história! – e vejo cada coisa, quer dizer, cada ‘tipo’ que sai de lá direto pra uma sala de aula… Tenho pena do futuro, que são, ainda, as nossas crianças…

    Beijos, queridão!

    • Nelson Correa disse:

      Oi Susanna!

      Que legal que você gostou. :-)

      Olha, na minha opinião, se for fazer prova para aprovar o profissional para trabalhar, tem que liberar a obrigatoriedade do curso superior. Uma coisa ou outra. Se o curso superior é obrigatório, existem mecanismos de controle para avaliar e corrigir distorções. Exigir os dois é um absurdo.

      Espero que seus alunos guardem excelentes lembranças da professora Susanna. Eu só estudei história no antigo ginásio, que seriam as últimas 4 séries do atual primeiro grau (é assim ainda que chama?). Me lembro de somente um único professor, uma grande figura baiana que só usava gravatas brancas. Dizia ele que era resultado de promessa. Do prof. Pereira Reis, além da lembrança, me resta passar pela rua que tem seu nome ali perto do cais do porto, no Rio de Janeiro.

      Beijos e sucesso nas salas de aula.

  • Dayse Corrêa disse:

    Hi brother! Ontem comentavamos que pensei em lhe encaminhar este artigo, entretanto, enquanto pensava, você correu por fora e, nem cabeça por cabeça foi, ganhou a prova! rs… Na quarta, quando almoçamos todos juntos, papai e eu esperando vocês na porta do restaurante, encontrei um desembargador que foi meu professor e, o comentário que partiu dele foi: o judiciário está cheio de “despreparados”. A cada dia aumentam a dificuldade nas provas, chegando a ser mesmo algo fora do normal. Um outro professor, procurador de justiça, disse que o concurso da magistratura está errando na receita do bolo, já que passar 3, 1 em um concurso, das duas uma, ou é sinal de erro na receita ou sinal de que mesmo com o tal do exame de ordem, não estão mesmo qualificados ou preparados. No próprio concurso de nosso irmão, passaram 7! Voltando à OAB, as cifras encontradas por você são pequenas. Calcule aí, agora, com a obrigação de troca de “cartão” (carteira da Ordem), sendo cobrado R$ 30,00 de cada advogado e, levando-se em consideração que no RJ existem aproximadamente 160 mil inscritos, imagine no Brasil? Eu sou um dos poucos profissionais militantes que, dentro do meu pedacinho, não posso reclamar, mas quantos colegas encontro sem trabalho, realmente trabalhando como vendedor, motorista de taxi,e outras, sem condições até de pagar um dos cursinhos para um concurso (outro bom tema para vc – CURSOS PREPARATÓRIOS -). Advogar no Brasil hoje é um grande e lucrativo comércio, é curso para concursos, é curso para exame de Ordem e, como comecei com uma citação do mestre que me fez gostar de Direito Constitucional, terminarei com outra citação dele nessa mesma conversa que tivemos: “- a EMERJ (Escola de Magistratura) perdeu o foco, foi criada para preparar juízes e hoje, é impressionante a falta de qualidade dos alunos que passam, além de ter se transformado em mais um cursinho!”. Será que a fiscalização aos Cursos superiores em abundância que teem aí seria algo muito menos vantajoso para a própria OAB? Melhor encerrar aqui… rs… Kisses

  • Ih Nelson…

    Na boa, eu nem gosto de pensar nos sufocos que jah passei por conta de profissionais “adevogados” que tem registro na OAB e tudo e extremamente despreparados. Eh muito triste pensar que eh possivel se pagar alguem pra te defender num caso qq e qdo vc vai ver contratou um sanguessuga! E depois? Depois vc se F*** de verde e amarelo! Mas e dai, neh? A grana desse povo que faz prova todo ano jah tah no bolso quente da OAB, entao tah tudo certo!

    E a Dayse jah falou tudo: advogar virou comercio e, em boa parte, comercio negro na cara de pau! Olha, nem gosto de falar muito pq tb vao me chamar de nazista se duvidar! rsrsrsrsrs…

    Quero aproveitar pra te agradecer imensamente pelo comentario no meu Blog! Muito gentil da sua parte!

    Forte abraco!

  • Nelson, mais uma coisinha: tomei a liberdade de colocar seu blog no meu blogroll… Tem problema?

    Abraco!
    Bia

    • Nelson Correa disse:

      Olá Bianca,

      Quer dizer que a senhora tomou a liberdade de fazer propaganda desse humilde Pô, meu! no seu Sweet but not Sticky sem nem perguntar antes?

      Fez bem feito, faria o mesmo. Ah…aliás, fiz também. Olha ali na minha listinha.
      ;-)
      Abração,

  • Nine disse:

    Nelson so li seu post hoje pois estava ai no Rio maravilha e sem comp!Mas tenho muito telhado de vidro e se começar a falar disso ,desses seres,vao dizer que estou é despeitada…entao vou ficando por aqui mesmo .Mas entre nos ,concordo com tudo que foi dito acima e abaixo!bjs

  • Nelson,

    Tah falando serio? Eu ateh te contaria minhas aventuras com os adevogados que conheci por aih, mas ouvi falar em responsabilidade juridica na Internet e fico um pouco receosa… rsrsrs! Sabe-se la, amigo…

    Um abracao!

  • Dayse Corrêa disse:

    Com autorização expressa do dono do blog, o brother, garanto à Nine e a Bianca a liberdade de expressão, mesmo sem termos aqui a 1ª Ementa….
    Brother, vc autorizou o “arroubo” meio revolucionário dos nascidos no meio da revolução… ehehehehe… kisses for all!

  • Allan Ladeia Miranda disse:

    Adorei o artigo. Só para constar, sou advogado e passei no exame de ordem na primeira tentativa (MG-Dez/2004). Entretanto, minha monografia de conclusão de curso foi justamente a Inconstitucionalidade do Exame de Ordem. Muitos dos meus argumentos utilizados estão, em resumo, neste seu artigo. Brilhante! Muito inteligente! É para fazer as pessoas pensarem… Parabéns pelo artigo!

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