Bento e Capitolina


Bentinho e Capitu - descoberta do primeiro amorO viver organiza o fluxo de energias que anima nossa alma. O tempo, na maioria das vezes, acaba domando a selvageria dos hormônios juvenis. Mas a boa notícia é que, ainda que domados, eles não estão mortos ou encarcerados. E mesmo com alma bem comportada, é possível (mais do que lembrar) sentir novamente como era a paixão adolescente, aquela que faz o coração palpitar forte, que faz sentir um calor subir o corpo e explodir em nossas faces, que faz o mundo todo sumir ao redor e que faz sentir desejo e entender, que nada que você conheceu sozinho se equiparará à explosão que acontecerá. E isso bastaria, como sentido da vida.

Não quero discutir o Dom Casmurro e nem a Capitu de época pós moderna. Bentinho era um fraco frente à mulher vibrante, que ele soube identificar pelo olhar de ressaca (esqueça o álcool, olhe em direção ao mar) como aliás, são quase todos os homens? Ou Bentinho, induzido pelo experiente e vivido José Dias, optou pela paixão ao lado, vizinha, da exuberante menina que se transformava em mulher, quando deveria ter seguido sua natureza, e optar pelo amor descoberto no seminário? O amor que ele traiu ou que o traiu? Aqui não faz sentido a discussão.

Não importa que a Capitu de Machado de Assis nos é apresentada pelo filtro do olhar inseguro do pobre Bentinho. Nunca saberemos se a verdadeira Capitu é a mesma que Bentinho descreve. Mas a Capitu, morena, olhos de cigana, ágeis e inteligentes, de cabelos negros revoltos, moldando e valorizando o rosto, cujos lábios querem te beijar, é a melhor mulher do mundo. Independente se foi quando se tinha 15 anos, ou se ainda será quando se tiver mais 15.

O trabalho de Luiz Fernando Carvalho e dos atores da minisérie Capitu, da Tv Globo, foi excelente, acho que duas cenas sintetizam o que escrevi acima: A Inscrição. Foi bom lembrar que a gente escrevia os nomes, ou somente as iniciais, em muros ou em qualquer lugar. Melhor ainda é descobrir que ela também é cúmplice ao encobrir o que não se pode revelar, ainda. E você pensava que só você sabia disso.

A outra é Na Varanda, pois é nesse momento da varanda que se descobre que se conhece só metade do mundo, a outra metade é descoberta ali. É na varanda que vivemos Colombo.

Se você não conhece isso, lamento dizer, você ainda não viveu. Lembrando o poetinha: Quem já passou por essa vida e não viveu / Pode ser mais, mas sabe menos do que eu / Porque a vida só se dá pra quem se deu / Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu / Ah, quem nunca curtiu uma paixão nunca vai ter nada, não / Não há mal pior do que a descrença / Mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão / Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair / Pra que somar se a gente pode dividir / Eu francamente já não quero nem saber / De quem não vai porque tem medo de sofrer / Ai de quem não rasga o coração, esse não vai ter perdão /Quem nunca curtiu uma paixão, nunca vai ter nada, não” (Vinícius de Moraes)



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16 Comentários

  • Sandra Leite disse:

    nelsonnnnnnnnnnnnnnn, soh passei aqui pra dizer que me perdi e devo ter me encontrado tb…e salve o Chile!

    Feliz 2009, geekman pra vc e familia

    besos

  • Infelizmente eu só consegui assistir ao primeiro episódio da série. Agora me resta esperar até o lançamento em dvd…

  • Bia disse:

    Pô, meu, eu simplesmente adorei a minissérie, amei a trilha e, como você deve ter lido lá no Desbancando, fiquei tocada mesmo com a cena da Inscrição. E, sim, posso dizer: graças a Deus, eu vivi! E embora esteja cortando um dobrado pra esquecer uma desilusão recente, dane-se, eu vivi! E vou continuar pronta para viver o que a vida me reservar (ou melhor, o que eu buscar dela) em 2009.
    Desejo pra você um ano novo intenso, surpreendente e feliz. E que o seu projeto de aprender bateria dê certo!
    Beijo grande.

  • Chantinon disse:

    Voltou com tudo Nelson!!!
    Que bom ver o blog novinho em folha.
    Ainda mais com esse tema tão apaixonante logo de cara.
    Vivemos dias tão cinzentos, tão sangrentos, e mesmo no meio disso tudo sempre surgem as paixões.
    Sempre gosto de me recordar de “Dr. Jivago”, e como o amor nesse filme mostra todos os seus lados, das dores as alegrias, dos valores e dos momentos.
    Que 2009 seja cheio de paixão para todos.
    Abraços!

    • Nelson Correa disse:

      Caro Chantinon,

      Que bom recebê-lo na casa nova. Concordo com você, as paixões são sempre muito boas. No mínimo, conseguimos belas discussões falando sobre elas. Veja automobilismo (aqui no Pô, meu!), política, religião e mulheres.

      E que realmente 2009 venha a ser um ano apaixonante!

      Abraço forte e sucesso,
      Nelson

  • Drika disse:

    Oi Nelson,
    Passando para retribuir a visita, agradecer e retribuir a assinatura do feed e dizer que também adorei a chance de ouvir o magnífico texto do Machado na telinha.
    Para mim, acostumada há tanto tempo com a mediocridade reinante na TV, foi mesmo um acontecimento.
    Beijos,
    Drika
    PS: Que seu 2009 seja repleto de LUZ!

  • Ulisses Adirt disse:

    Adorei o “pelo olhar de ressaca (esqueça o álcool, olhe em direção ao mar)”… fiquei rindo o resto do texto.

  • Cristina disse:

    Um texto escrito à paixão. Aqueles primeiros beijos inesquecíveis…
    Lagoa ao fundo, piscina, cinema, pracinha…Todos já fomos Colombos na vida.
    Outros beijos

  • Acauã disse:

    Pô Meu, esse site é muito maneiro Parabéns Aí :D

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