Brasileiro fala português. E português?


LinguagensAproveitando o gancho dado pelo amigo Denny Roger, que nos comentários levantou a questão, quase uma reclamação. Ele diz que tem visto muitas apresentações feitas em eventos aqui no Brasil, para brasileiros e por brasileiros, com boa parte do conteúdo em inglês. Denny pede minha opinião. É claro que vou dar.

A situação mais sem noção que vivenciei em termos de apresentação em congressos foi há exatos seis anos. Era um evento no Rio de Janeiro, do segmento de telecomunicações, e eu estava entrando em uma multinacional de telecom. No segundo dia, tivemos uma apresentação de um português (nem adiante perguntar o nome que não lembro e não vou me esforçar para lembrar) que trabalhava na Inglaterra, na British Telecom. Ele deu bom dia, se apresentou e disse que faria a apresentação dele em inglês, pois nossos portugueses trazem muita diferença e ti-ti-ti e bla-bla-bla. Eu fiquei indignado.

– Pô, meu! Esse portuga é muito besta, vai dizer que precisa disso?

Teve um cara que se levantou e foi embora. Eu achei interessante, meu pai foi o primeiro brasileiro da família, cresci ouvindo avós e tios falando, uns mais, outros menos, com o sotaque lusitano. Agora eu poderia ver como é falar inglês com sotaque lusitano. Deveria ser interessante. Vamos ouví-lo.

Cadê o sotaque do português? Ele não tinha um mínimo sotaque de Portugal. O inglês dele era limpo, British. Eu não entendi como era possível. Estava achando aquilo tudo muito estranho. No final da apresentação, o pessoal começou a fazer perguntas… em inglês. Até que um dos assistentes, que talvez entendesse bem o inglês mas não o falasse tão bem, derrubou aquela história e, em português, disse que faria a pergunta em português e solicitou a resposta também em português. O que foi acompanhado por quase metade da audiência. O nosso palestrante lusitano se rendeu, ouviu a pergunta, pediu desculpas se não o entendessem e respondeu em português.

Tentou responder, mas não funcionou. O sotaque dele era terrível. Até eu que sou formado de berço nos trejeitos da fala lusitana, e do norte, talvez o sotaque mais complicado dos portugueses, para entender tive que me concentrar bem. Ao término da resposta, o próprio indivíduo que perguntou pediu para ele repetir a resposta… em inglês.

Voltando ao seu assunto Denny, eu acho que o mais importante é a comunicação. Esse é o objetivo. Mas realmente acontece uma certa preguiça e falta de respeito de uns palestrantes que não se esforçam em retrabalhar a apresentação para o público que vai assistir. Eu mesmo, certa vez iria dar um treinamento no México e fui pego de surpresa na véspera… opss… assim esse post vai ficar muito grande. Fica para outra vez essa história do México.
;-)



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4 Comentários

  • Denny Roger disse:

    Nelson, bom dia!

    Lendo o seu post e sobre a história do México, lembrei de duas situações interessantes. Uma foi no Brasil e a outra na Argentina (recentemente). Publiquei a história no meu blog. ;-)

    Mas eu lembro que voce ficou “ninja” no idioma espanhol e até ministrou palestras falando em espanhol. Mas conta ai essa história porque é muito boa.

    Abraços,
    Denny Roger

  • Augusto disse:

    Nelson,

    uma ótima história parecida com a do português que você comentou é a do Richard Feynman quando esteve no Brasil:

    ” I got to the Brazilian Academy of Sciences meeting, and the first speaker, a chemist, got up and gave his talk — in English. Was he trying to be polite, or what? I couldn’t understand what he was saying because his pronunciation was so bad, but maybe everybody else had the same accent so they could understand him; I don’t know. Then the next guy gets up, and gives his talk in English!
    When it was my turn, I got up and said, “I’m sorry; I hadn’t realized that the official language of the Brazilian Academy of Sciences was English, and therefore I did not prepare my talk in English. So please excuse me, but I’m going to have to give it in Portuguese.”
    So I read the thing, and everybody was very pleased with it.
    The next guy to get up said, “Following the example of my colleague from the United States, I also will give my talk in Portuguese.” So, for all I know, I changed the tradition of what language is used in the Brazilian Academy of Sciences.”

    • Nelson Correa disse:

      Faaaala Augusto!

      Muito boa essa história. Me lembrei da transmissão de Copenhague para a escolha da sede dos Jogos Olímpicos 2016. Tanto o governador do RJ quanto o prefeito do Rio fizeram suas apresentações em outra língua que não o português: o governador em inglês e o prefeito em espanhol. É importante frisar que havia tradução simultânea. Aí, na hora que tinham que ouvir e pensar antes de falar, quando foram sabatinados pelos delegados, ambos responderam em português. Prá que a “firula” de decorar um texto em outra língua se não a dominam completamente?

      Abração,
      Nelson

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