Há muros e muros


Imagem: PenitenciáriaNos 20 anos sem Muro de Berlim, recordemos os muros de Israel e do Novo México. São menos vergonhosos?” Foi a tuitada do jornalista Gabriel Priolli Netto (@gabrielpriolli) na noite do aniversário de vinte anos da queda do Muro de Berlin e do início do fim da U.R.S.S. (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas). Eu não sigo o Gabriel, mas sigo a jornalista baiana Vera Martins (@veramartins), a pessoa mais indicada nos #FF (Follow Friday) que já conheci no Twitter. Foi ela quem retuitou o Gabriel e disparou o meu processo de auto-questionamento.

Esse tema de muros acaba sempre nos levando a frase mais usada em encontros motivacionais e, que ninguém sabe o autor: “Build bridges instead of walls and you will have a friend” que quer dizer literalmente: construa pontes ao invés de muros e você terá amigos. Isso é bonito, mas a gente sabe que alguns muros são imprescindíveis, não importa se são de concreto, tijolos e cimento, arame, madeira ou de plantas (cercas-vivas).

Qualquer um que compre um terreno, antes de construir qualquer coisa, vai pensar no muro. Até os terrenos urbanos que são invadidos pelos sem-teto, ganham imediatamente fitas demarcatórias de cada lote. Como criar gado, cavalos, porcos ou galinhas sem murar a área onde os animais serão criados? Você já imaginou se no colégio do seu filho não houvesse um muro que protegesse as crianças? E a sua casa? Já imaginou o risco se não houvesse muros?

Além desses muros que nós mesmos construímos, existem muros que o poder público constrói para proibir que pessoas que agrediram a sociedade, praticando crimes (roubando, matando, sequestrando, etc), não deixem de cumprir suas penas de reclusão. São os muros das penitenciárias, e os que estão atrás deles, não podem sair até que cumpram as penas pelos crimes praticados.

Os EUA construíram e provavelmente continuarão construindo um muro na fronteira com o México para impedir a entrada de imigrantes ilegais. Sua construção foi iniciada em 1994 e hoje é formado por vários quilômetros de extensão. O foco inicial era a fronteira Tijuana-San Diego, mas hoje existem pedaços nos estados do Arizona, Novo México e Texas. Em Israel, desde 2004, é construído um muro com o objetivo de proteger o território de Israel contra a entrada de palestinos. Desde a fundação do estado de Israel que os palestinos lutam por sua destruição. Por conta das guerras que já existiram entre Israel e os povos árabes, seus vizinhos, os israelenses construíram o muro, como os chineses fizeram por várias dinastias desde o século II D.C. na construção da Grande Muralha: motivados por segurança.

Depois de quase me perder sob tantos muros, estou achando que, na melhor das hipóteses, o Gabriel Priolli é inocente. A outra hipótese era achar que ele estava mal intencionado, mas não acredito nela. E por quê penso assim? Porque o Muro de Berlin é a representação física e concreta de todos os muros que todas as ditaduras comunistas impuseram e impõe (Cuba, Coréia do Norte e em breve, novos personagens) às liberdades das pessoas que, infelizmente, são proibidas de usufruírem das suas prerrogativas básicas de escolha, de ir e vir, de definirem seus destinos.

O Muro de Berlin, assim como a ditadura de Cuba que impede os cubanos de saírem da ilha, ou todas as outras fronteiras muradas, e derrubadas, da falecida Cortina de Ferro prendem inocentes, tolhem liberdades, e só protegem os ditadores e o status quo de seus seguidores. Colocar no mesmo nível o Muro de Berlin com os muros das fronteiras dos EUA com México e Israel com Cisjordânia é o mesmo que achar normal que qualquer um de nós, cidadãos honestos, fôssemos colocados contra a nossa vontade e sem direito à justiça, atrás dos muros das penitenciárias, sem data para sair. É inocência pensar assim. Ou não.



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2 Comentários

  • Jerson disse:

    Seu %#$&*@#, muro é muro e ponto final. Os Estados Unidos saqueiam os países pobres, dão condições melhores aos seus habitantes depois levantam muros para que os esfomeados que eles roubaram não entrem. Bela estratégia, muito louvável e humanista.
    Em Cuba acontece algo parecido, se você conseguir chegar vivo aos Estados Unidos, o governo americano oferece a qualquer cubano o paraíso na terra. Acontece que ninguém noticia quando imigrantes de outros países “livres” da américa central fazem o mesmo, ou apenas colocam todos no mesmo balaio, taxando todos de cubanos.
    Qual o país mais miserável da américa central, cuba é que não é, com todos os problemas que possa ter.

    Author : Jerson (IP: 201.94.216.239 , r25-pw-tijucas.ibys.com.br)
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    City: Londrina
    State: Parana
    Connection: Sercomtel

    • Nelson Correa disse:

      Normalmente jogo fora mensagens ofensivas. De recordação, guardo uns poucos comentários não publicados por serem engraçados, apesar de abusivos.

      Mas esse, pela flagrante estupidez resolvi publicar, apesar de não responder, só para que sirva para mostrar como discursos estúpidos costumam iniciar pela ofensa.

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