Gabeira e as passagens aéticas



Gabeira, isso foi sério.Caro Deputado Federal Fernando Gabeira,

Eu fiz campanha pela sua candidatura para prefeito do Rio de Janeiro. Só não votei no senhor porque meu título eleitoral está registrado em São Paulo, pois voltei recentemente para o Rio de Janeiro. Sempre acreditei na sua probidade, na sua moral e na sua ética. Por tudo isso, e por querer muito vê-lo liderando a oposição no estado do Rio de Janeiro na campanha do ano que vem, seja como candidato a governador ou como for mais útil para o Rio de Janeiro, é que lhe peço:

Renuncie agora ao seu mandato de deputado federal.

De forma alguma quero colocar-lhe no mesmo nível de parlamentares que renunciaram como: Severino Cavalcanti, Jader Barbalho, Antônio Carlos Magalhães, Waldemar Costa Neto, Roberto Jefferson, José Dirceu entre outros. Ou de alguns com passado notório de falcatruas e mamatas regulares, independente de qual grupo político estivesse no poder. Mas o senhor errou. Infelizmente. Só não posso meu caríssimo deputado, passar a mão na cabeça de parlamentares que faltaram com princípios éticos ou que tenham deixado de cumprir regras (leis?) inerentes da atividade pública. Mesmo que isso tenha acontecido com o “meu” deputado, com o deputado que votei ou que fiz campanha.

O Art. 37 da Constituição Federal determina que “A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência …”. Para entender o que quer dizer legalidade, busquei no site do Prof. Leandro Cadenas a seguinte explicação:

No Direito Administrativo, esse princípio (da legalidade) determina que, em qualquer atividade, a Administração Pública está estritamente vinculada à lei. Assim, se não houver previsão legal, nada pode ser feito. A diferença entre o princípio genérico e o específico do Direito Administrativo tem que ficar bem clara na hora da prova. Naquele, a pessoa pode fazer de tudo, exceto o que a lei proíbe. Neste, a Administração Pública só pode fazer o que a lei autoriza, estando engessada, na ausência de tal previsão. Seus atos têm que estar sempre pautados na legislação.

Como publicou em nota oficial o presidente da Câmara, deputado Michel Temer: “Em razão da ampla utilização de passagens aéreas nos gabinetes parlamentares, o presidente da Câmara reconhece que deputados, inclusive ele próprio, destinaram parte dessa cota a familiares e terceiros não envolvidos diretamente com a atividade do Parlamento. Tudo porque o crédito era do parlamentar, inexistindo regras claras definindo os limites da sua utilização.”

Essa justificativa de que não “existiam regras claras” também foi usada pelo senhor. A não ser que o site do O Globo tenha mentido, o senhor disse: “Eu não tive a capacidade de enxergar e questionar a Câmara. Na época, era essa a definição: cada deputado poderia gerir de forma soberana sua cota”. E se não havia uma lei clara que autorizasse o uso de passagens pagas pelo dinheiro público para parentes de parlamentares, independente de questionamentos éticos ou morais, ninguém poderia usar o dinheiro público para estas despesas. E se eu estiver errado quanto à lei, certamente não erro quanto ao julgamento da moral e da ética neste caso.

Concluindo meu prezado e admirado deputado Gabeira, se eu tomasse qualquer atitude diferente desta que estou tomando, nunca mais em minha vida eu poderia questionar qualquer desvio ético, moral ou legal de nenhum outro político brasileiro. Pior, como meus eventuais futuros netos (que são os destinatários do conteúdo deste blog) me julgariam no futuro? “Vovô era igual a todos os outros, seus interesses pessoais estavam na frente de qualquer outro”.

De maneira alguma quero que meus eventuais futuros netos não se orgulhem das minhas posições políticas, quero que orgulhosamente as respeitem, mesmo que não concordem com elas. Eu acredito piamente que o senhor está arrependido. Pois então, saia daí, venha para a rua, pode me chamar, e vamos todos juntos lutar, gritar, contra os absurdos e desvios da administração pública no nosso país. Só daqui de fora o senhor terá força e, principalmente, respeito, para ser ouvido e, liderar uma mudança radical, profunda e estupidamente necessária para que os meus eventuais futuros netos e os seus também, tenham um país muito melhor do que esse que vivemos.

Lhe espero ansioso aqui na rua, estou junto com o senhor para mudar esse país.

Grande abraço e sucesso,


Você gostaria de receber as atualizações do Pô, meu! por e-mail? Clique aqui.

8 Comentários

  • Nine disse:

    Nelson,nao adianta pegaram nosso deputado com a “calças na mao”.Mas uma decepçao…Por favor Sr. Gabeira ,faça o que o Nelson pede …por uma questao de decoro,ética,senao o Sr. vai nos deixar constrangidos por ter feito campanha para o senhor. abs
    PS.Bom ter voce de volta Nelson!

    • Nelson Correa disse:

      Oi Nine,

      Voltei. Eu fico com outras prioridades, fico longe um tempão, mas sempre volto.
      :-)
      Que bom que você é mais uma voz no sentido de não aceitarmos os erros, mesmo dos nossos. Na minha opinião, essa é a única maneira de mudarmos nosso futuro. Temos que começar de alguma maneira a não usar a frase: “mas todo mundo faz assim”.

      Depois, acho que pouquíssimos parlamentares tem condições de sair agora de cabeça erguida e voltar com muito mais força para que estas mudanças sejam comandadas por ele. O Gabeira é um deles.

      Obrigado por vir sempre por aqui.

      beijos,

  • Dayse Corrêa disse:

    Hi brother,
    Há alguns anos atrás, quando trabalhei em um projeto da Unesco, acabei por conhecer algumas das nossas figura políticas. Gabeira foi um deles. Tive um contato maior pois a mulher dele chegou a trabalhar diretamente comigo em um trabalho de campo. Votei nele de forma consciente (o que não quer dizer nada, pois também conheci FHC e votei nele também).
    Pedir que ele renuncie, ao meu ver, não seria o melhor a fazer agora. Ele renuncia entra seu suplente que, o que pior fará que ele, que fez o que fez junto com todos os outros (até o Presidente do TCU!).
    O que nos importa agora é que o belo puxão de orelhas público que ele levou, possivelmente fará com que ele se torne um político mais consciente, mais apaixonado, mais honesto pelo receio de novo puxão de orelhas público, onde aí, talvez, fosse sua derrocada.
    Se você fez campanha para ele, se eu votei nele e, se tantos votaram, podemos ser accessíveis e permitir sua mea culpa. O que não podemos é pedir sua renuncia e sofrermos nas mãos de um suplete que, sabe lá Deus o que de tão pior faria em detrimento do nosso sofrido mas apaixonado povo brasileiro.
    Reveja seu pedido de renúncia analisando pela ótica da “entrada do suplente” e, mais, permita ao Gabeira sua redenção.
    Kisses

    • Nelson Correa disse:

      Hi sister,

      Respeito sua experiência e sua opinião, mas não abro mão de não aceitar mais “mijadas fora do penico”. Como foram quase todos, o ideal era essa lista aparecer. Aparecer também as despesas que eles fazem com refeição nos seus estados de origem e são reimbolsados (!!!!!) e mais outras despesas. Depois então convoca-se uma nova eleição. Infelizmente seu brizola e seu lula lideraram o plebiscito para esse nosso modelo podre de presidencialismo.

      Se fossêmos parlamentaristas, sem nenhum impacto para o país, derrubava-se o congresso e se fazia-se uma nova eleição. Aí poderíamos também acabar com o senado, teríamos um parlamento unicameral. Prá que Senado? Prá gente ouvir do senador cafeteira que eles, coitadinhos, vão acabar recebendo vale refeição. Tão nobres, né? Basta só a câmara de deputados.

      Não sister. Nem que fosse você, uma pessoa de passado sério, de atitudes éticas e morais, se tivesse bancado passagem com o dinheiro público para seus filhos passearem nos USA eu tb pediria seu afastamento. Se não fizermos assim, como vamos cobrar dos outros?

      Beijos,

  • Chantinon disse:

    Nelson,
    Infelizmente, muito infelizmente, ética é uma das palavras mais usadas nesse regime populista-socialista-utópico-mafioso.
    Vivemos um tempo muito dificil, quase sem regras. Me pergunto todos os dias quando o ser humano irá aprender a lidar com a libertade sem mergulhar no ópio do poder. Poder nesse caso nem é dinheiro, mas sim a facilidade de como tudo é aceitável.

    Ontem um amigo me disse:
    Eu não dou minhas opiniões hoje em dia. Tudo que eu opinar é considerado politicamente incorreto, já que as coisas hoje são invertidas, falar não roube, não corrompa é politicamente incorreto. Ele falava que era contra as cotas nas faculdades e do caso da miss nos EUA que perdeu um concurso porque falou em uma entrevista que era contra casamentos homossexuais.

    Cada dia sofremos mais pressão, e terminamos nos sentindo acuados.

    Continuo confiando no Gabeira. Ele não é santo, mas quem é?

    abraços

    • Nelson Correa disse:

      Meu caro amigo Chantinon,

      Como sempre, você está transbordando de razão.

      Mas eu não vou desistir nunca de continuar falando.

      E é por confiar no Gabeira, que gostaria que ele desse o exemplo, apresentasse a conta junto com um pedido de desculpas, devolvesse a grana e fosse para uma nova campanha com a bandeira da seriedade no congresso.

      Ainda tenho esperança. Você acha que ainda ter esperança me coloca na posição de estúpido? As vezes me preocupo com isso. Será que pensam que sou babaca?
      ;-)
      Abraço grande,

  • Chantinon disse:

    É o que eu quis falar Nelson, hoje somos os politicamente incorretos.
    Estava vendo agora a pouco o canal GNT, e sempre me pergunto como essas mudanças no mundo foram tão rápidas que não tive tempo de me acostumar. Não consegui ver mais que 5 minutos do programa tipo documentário, de jovens explicando como a internet é uma ótima ferramenta para sexo fácil. A informação de fácil acesso parece não colaborar para um mundo melhor.
    Tô aqui torcendo para o Gabeira aceitar seu conselho.

Deixe uma resposta para Nelson Correa Cancelar resposta