Engolimos ou cuspimos?


Imagem: Foi oral mas foi oficialNosso Ministério das Relações Exteriores está ficando calejado em trapalhadas, factóides e mentiras. Não que ele seja o único, claro que não, esse é o modelo da nossa gestão pública, que criou a extraordinária última opção de ermergência: “Eu não sabia”. Extraordinária porque funciona. Pelo menos tem funcionado.

A seqüência é grande, podemos contabilizar o pastelão em parceria com Chávez em Honduras, a festa com os ditadores cubanos e a greve de fome do preso político (que morreu) comparado aos presos comuns de São Paulo, a divulgação da pseudo carta confidencial recebida do governo dos Estados Unidos sobre o acordo com Irã e Turquia, o apoio a vários ditadores facínoras, principalmente na África e a mais recente, as lambanças junto com o carniceiro que executa as ordens do clero xiita iraniano.

No tema Irã, primeiro foi o show para os fotógrafos, de mãos dadas e braços levantados, comemorando a vitória do acordo (de paz?). Demonstração de apoio ao mais novo amigo de infância do presidente. Depois as cobranças dos brasileiros (alguns, claro) para uma atitude mais firme contra a posição do governo de Ahmadinejad de prender e matar oposicionistas. É bem verdade que nunca nos metemos contra os inimigos de Ahmadinejad, afinal, ele é amigo do cara. E inimigos políticos, devem pensar os nossos homens no poder, não merecem que se dê a mão mesmo.

Então quem sabe… seria uma boa idéia aproveitar essa comoção com o apedrejamento e morte da iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani e aparecer de bons moços na mídia. Eles, os bons, vieram a público oferecer asilo à mulher que foi condenada à morte por apedrejamento. Já temos o Cesare Battisti, isto iria calar a boca dos que querem a extradição do italiano, somos do bem e defendemos a vida, devem ter pensado eles.

O problema é que amadores costumam errar falas, entrar em cena na hora errada, esbarrar em outros atores, esquecer posicionamento, enfim… amadores fazem merda. Repetida aqui no Brasil e em viagem ao exterior pelo presidente, a oferta de receber Sakineh foi desmentida pelo Irã. Ih, que feio! Os caras se aproveitando da desgraça da pobre mulher muçulmana para parecerem “legais”. Cool guys, como diria Obama.

Mas hoje, na capa do O Globo, nosso chanceler e o nosso embaixador no Irã dão a versão final de que fizeram sim, uma oferta oficial ao Irã para receber Sakineh Mohammadi Ashtiani. Disseram nossos diplomatas:

– Foi oral, mas foi oficial.

Aí eu pergunto:

– E nós, engolimos ou cuspimos?

P.S. Não deixe de ler a coluna da Miriam Leitão de hoje.



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3 Comentários

  • valdir nascimento disse:

    Bem, eu sempre digo, quem sou eu prá dar palpite em alguma coisa,eu praticamente não entendo quase nada de quase tudo,no entanto neste caso ,independente se devemos engolir ou cuspir ,acho sim que devemos sempre na medida do possivel extender a nossa mão para ajudar a quem quer que seja,aliás acho que ja esta mais doque na hora de aprendermos à amar os nossos inimigos,mesmo porque não vejo nenhuma vantagem em amar amigos,uma vez que eles ja são nossos,afinal de contas quando um não quer, dois não briga ,conforme um ditado antigo.
    Para encerrar quero deixar uma pergunta, Se você ver um Pai de familia ,querendo matar sua filha porque cometeu um adultério contra o seu marido, você permitiria? ou você tomaria alguma providência,como por exemplo ,abrigaria ela em sua casa?
    Acho que devemos procurar ser amigos de todos ,tanto dentro do nosso próprio lar como tambem com nossos vizinhos residenciais, de bairros,cidades, estados,e paises.

    • Nelson Correa disse:

      Oi Valdir,

      É claro que sempre devemos acolher os perseguidos, os injustiçados e por outro lado, deixar que os que erram, tenham suas justas punições. Pode até ser que a senhora iraniana (Sakineh) seja uma criminosa por ter matado ou participado do assassinato do marido, como dizem as autoridades iranianas. Por outro lado, vejo que lá no Irã e em outros países muçulmanos, as mulheres são tratadas quase que como cabras, talvez valham até menos. Enfim, o que me fez escrever esse artigo é minha contrariedade com a mentira. Sei que a maioria hoje no Brasil engole e vai continuar a engolir, mas eu não, eu continuarei cuspindo a mentira. ;-)

      Abração,
      Nelson

  • mikaelly disse:

    porque cuspimos? porque nos tem vontade

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