Abaixo a ditabranda!


Jornal do Brasil com o tempo no dia do AI-5A Folha de São Paulo teve uma atitude repugnante em editorial do dia 17/02/2009 ao classificar a ditadura militar, que censurou, torturou, matou, acabou com direitos políticos, podou a liberdade e eliminou a democracia no Brasil de 1964 até 1989, de ditabranda. Como se fosse possível classificar em posições intermediárias uma ditadura, assim como uma gravidez ou honestidade. Ou se está grávida ou não se está. Ou se é honesto ou não é. Não existe meia gravidez, meio honesto ou meia ditadura. Ditaduras eliminam liberdades e são indefensáveis, sob qualquer ponto de vista.

Dias depois, sob uma avalanche de protestos, a Folha de São Paulo tomou uma atitude indelicada e inaceitável. Dentre todas as mensagens de protesto contra a classificação da ditadura em “ditabranda”, duas mensagens, da professora da USP e cientista política Maria Victoria Benevides e do advogado, jurista e também professor da USP Fábio Konder Comparato receberam a grosseira resposta de que a indignação deles era “obviamente cínica e mentirosa”. Tudo porque eles nunca se indignaram publicamente contra outras ditaduras de esquerda.

Pelo amor de Deus. Isso é patético. Uma posição não justifica outra. Nunca quis saber se o cara que estava ao meu lado gritando abaixo a ditadura, na verdade gostaria de estar gritando “abaixo essa ditadura”. E hoje, isso é muito claro para mim, apesar de lá nos anos 70 eu nunca ter entendido isso. Não quero nem saber se os professores Benevides e Comparato nunca protestaram contra a ditadura cubana ou outra qualquer. Importa que eles, com toda justiça, protestaram veementemente contra a ideia torpe de classificar a ditadura que se instalou no Brasil em 1964 como “ditabranda”, eu estou do lado deles, nesse aspecto.

Esse assunto já está até requentado, mas não acho exagerado repetí-lo. Não sei como se posicionou a Folha de São Paulo durante o período de trevas comandado pela ditadura militar, mas o tempo tende a apagar as memórias, e se não repetirmos isso, um dia poderá aparecer quem diga que nem houve ditadura. Não é isso que uns malucos falam da matança perpetrada pelo ditador mais popular do século passado (Hitler) contra judeus? Aqui no Rio, o grande bastião contra a ditadura foi o Jornal do Brasil, que hoje praticamente está morto. Por isso, independente do que acham de outras ditaduras, eu estarei sempre a favor de quem protesta contra a nossa ditadura da segunda metade do século XX.


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21 Comentários

  • Nine disse:

    oi Nelson ,foi feio esse negocio da FOlha de SP .O Marcelo Coelho tb comentou no blog dele.A Folha com certeza perdeu varios leitores com isso.Nao entendo como os conselheiros deixaram passar uma frase tao infeliz.Esse jornal tem jornalistas competentes ,sérios ,nao entendi o porque!ja estava lendo so as quartas por causa da coluna do Marcelo ,agora nem isso!Fiquei muito decepcionada.Foi leviano e desrespeitoso com as familias e sobreviventes da ditadura que assombrou esse pais.abs

    • Nelson Correa disse:

      Oi Nine,

      Não é mesmo vergonhoso para um jornal tão importante essa atitude?

      Olha, eu não prego que jornal tenha imparcialidade na sua linha editorial. Isso é infantilidade. Ele tem que ser imparcial na notícia, no espaço das matérias, e obviamente, tem que assumir publicamente uma posição se a sua linha editorial for a favor de alguém.

      Mas não pode nunca usar o poder da mídia de informação para subverter a história. Como você mesmo falou, é um desrespeito aos parentes e amigos dos que morreram ou que, sem justiça ou julgamento, sofreram covardemente nos porões da ditadura.

      Beijos,

  • Nelson, Nelson! Tem selinho pra você lá no meu blog!! [postagem do dia 02/03/09]

    Beijos!

  • bruno imbrizi disse:

    Somos leitores/comentaristas recentes um no blog do outro e eu não devia já vir assim querendo debate sem antes testar as afinidades, mas o nível é alto e podemos pular essa parte. Sobre o assunto da ditabranda eu ouvi uma outra opinião, um outro ponto de vista diferente (talvez discordante) do seu. Está no podcast do Diogo Mainardi: A Vichy do PT – http://veja.abril.com.br/idade/podcasts/mainardi/

    Ultimamente concordar com o Mainardi é pior que falar que não curte Beatles ou que ser ateu, mas vamo lá: eu concordo com o Mainardi. Recomendo o áudio (ou o texto, tanto faz) e aguardo o revide! :-)

    • Nelson Correa disse:

      Oi Bruno,

      Cara, adoro receber as visitas, que na segunda vez já são meus amigos, e a única coisa que não tolero é falta de educação. Coisa que nem de perto, passa por você. Portanto, fique à vontade. Adoro opiniões, mesmo diferentes das minhas, principalmente se pudermos discutí-las. Vamos a essa. ;-)

      Cara, eu fico aborrecido com outra coisa, patrulhamento. Bom, é verdade que patrulhamento é uma grande falta de educação. Então continuo só com a falta de educação. Olha, aqui no Pô, meu! pode até concordar com o Mainardi. Até porque eu acho que o Mainardi pinta de propósito, suas ideias com tintas mais fortes do que as que ele realmente sente.

      Eu fui lá e li o texto do Mainardi, para não ser induzido, contra ou a favor, pelo discurso. Discurso é sempre muito perigoso. E não vi o Diogo concordando com a classificação de ditabranda. Duvido que ele teria coragem de concordar com essa classificação.

      Vi ele sentando o braço nos professores da USP e membros históricos do PT. Ele só usou a oportunidade para criticar a visão deles que na verdade, apóiam sim a ditadura cubana. Mas eu acho, do fundo do coração, que esse não era o momento de discutir isso, pois um ponto muito mais importante (eu não dou tanta importância assim para eles) estava sendo desvirtuado: o abrandamento do regime de força e exceção que foi usado no Brasil de 1964 a 1989 (ou para os puristas, até 1984).

      Mas sua opinião só enriquece a discussão Bruno. Obrigado por nos trazê-la.

      Abração,

  • Agora sim, o meu comment:

    “Ditabranda”??

    Esse foi o trocadilho mais infeliz de que tive notícia nos últimos tempos. Infeliz porque não carrega consigo a graça de uma piada sem graça…

    Farei eu o meu trocadilho, também sem graça – aliás, falando muito sério: espero sinceramente que o outono chegue logo. Não é no outono que as “Folha”s caem das árvores?? Pois!

    Beijos Nelson!

    PS: Adorei o texto!

    • Nelson Correa disse:

      Oi Susanna,

      Foi realmente infeliz demais. Mais do que infeliz, é uma posição canalha essa defesa de brandura que matou, torturou, prendeu sem justiça, e nos tirou a liberdade por tanto tempo. Inaceitável.

      Agora vou te dizer uma coisa, estava há 22 anos fora do Rio, esse é o meu primeiro verão depois do retorno… eu estou desesperado pela chegado do outono. Meu Deus, esse cara não chega! Quando o verão vai embora e o outono vai chegar???? Quando????
      :-D
      beijos,

      P.S. Obrigado. :-)

      • Nelson, você não sabe!

        Ontem, após ter lido o seu post, eu resolvi comentar sobre o assunto com o meu chefe – que é judeu, e vive do mercado financeiro como gestor. Fiquei pasma com a postura dele.

        Ele disse que sim, a ditadura no Brasil foi branda, se comparada às outras que ocorreram no mundo. Eu tentei argumentar, afirmando que não concordava com ele – afinal, como tomar uma tortura física, ou o cercear da liberdade, por brandos?? -, mas ele me rotulou categoricamente, indicando que o meu conceito de “brandura” é binário. Ou seja, ele disse: “pra você, se matam/torturam uma pessoa, ou milhares delas, já não existe brandura, não é?” Eu disse que sim. Ele prosseguiu.

        “O meu conceito de brandura é relativo. O seu pai sofreu danos com a ditadura?” Eu disse que não. “Então, nem os meus pais. Por conta disso eu posso afirmar que a nossa ditadura foi bem mais leve que as outras. Aliás, esse assunto sequer existia lá em casa.. É por isso que eu concordo com o conceito da Folha”.

        Julgo eu que, por conta da existência de pessas que pensam assim como o meu chefe, é que a Folha existe e propaga esse tipo de informação por aí, não acha?

        Beijos!

        • Nelson Correa disse:

          É Susanna, por isso que tem gente que diz que o holocausto não ocorreu: não teve o pai sofrendo danos pelos nazistas, então o holocausto… tá bom… foi brando… afinal, existe até um estado formado pelos judeus: Israel.

          Brincadeira essa visão. Pois o que seu chefe deveria pensar é que 20 anos de ditadura, fora os mortos, torturados, carreiras encerradas e etc, foi sustentada pela força e pela corrupção. Como renovar quadros políticos depois de 20 anos sem que a gente, que morava em capital de estado, não votava para prefeito, governador e o próprio presidente. Veja que a primeira eleição deu Collor, seguido de Lula e logo depois Brizola, pode? Tava todo mundo com o voto enferrujado.

          Sem controle dos que eram poder por parte da sociedade através da imprensa, lembre a ele que existia uma forte censura, gastos sem controle foram feitos, que estamos pagando até hoje. Ou seja, se o seu chefe acha que nada influenciou a vida dele, então certamente ele se locupletou com a ditadura. Como? Só perguntando a ele. Pergunte, quem sabe ele ao se indignar, perceba que todos sofremos pelo menos algumas perdas de forma coletiva.

          Beijos,

  • bruno imbrizi disse:

    Valeu Nelson, sua reposta foi demais, não sobrou muito para a tréplica. Eu acho que o que o Diogo faz é jogar nosso atraso na nossa cara. E eu acredito que ele faz isso com a melhor das intenções, por isso eu paro para ouví-lo.

    Agora, realmente, ele não concordou com o termo. Daqui de fora não tive a oportunidade de saber direito o que aconteceu, onde ele foi usado, porque gerou tanta polêmica, quem foi que escreveu, etc. de fato me parece uma aberração querer minimizar o trauma no passado dos outros. O que eu gostei foi a mudança de foco no podcast. Qualquer oportunidade de bater em quem promove o atraso deve ser aproveitada.

    Estou sempre acompanhando. Um abraço.

    • Nelson Correa disse:

      Tá vendo Bruno?

      Aqui no Pô, meu! a gente pode discutir política, futebol, religião e até Fórmula-1, principalmente porque o Hamilton, que era a torcida da casa, nos proporcionou uma conquista inesquecível em 2008.

      Só não pode discutir sobre mulher. Aqui ou se gosta de paixão de mulheres, ou entendemos a opção, mas sem discussão. ;-)

      Abração,

  • j. noronha disse:

    Eu não vivi na época da ditadura mas li o suficiente à respeito para saber muito bem o que acontecia.

    Me assusta ver gente esclarecida defendendo posições dessa época e até mesmo simpatizando com os herdeiros da ‘ARENA’.

    Pior que pelo andar da carruagem, em cem anos Hitler vai ser nome de rua.

    • Nelson Correa disse:

      Grande Mestre Noronha,

      Acreditarei sem desviar o olhar e, muito menos contestar, que o senhor nasceu depois de Tancredo. (Ai meu Deus, mas mestre é mestre).

      Eu sempre imaginei que a história é o grande juiz de nossas ações. Falava, deixa que um dia a história vai julgar esse cara e vai provar que ele era um incompetente que só vez merda. Mas a possibilidade de mudarem a história me arrepiou.

      Não duvido que possa existir uma pracinha no interior do Rio Grande, com balanços e um campinho de futebol chamada Praça Adolf Hitler. Arghhh!!!!

      Abração, você sabe que suas visitas aqui são sempre bem vindas.

  • Helô disse:

    Meu tempo tá curto e a conexão em doses homeopáticas só piora. Mas não posso deixar de lado esse assunto.

    Vamos por partes. Meu pai cresceu sofrendo as consequencias (na dúvida, não acentuo mais nada!)dos envolvimentos do pai dele em toda e qualquer revolução que surgia por essas plagas. Talvez por isso – e por respeito à minha mãe, católica para quem comunistas precisavam de orações para terem suas almas salvas – nunca trouxe debates políticos para nossa mesa. Cresci sem saber que vivia sob uma ditadura. Não tive amigos perseguidos, não soube de ninguém desaparecido. Só tive noção do quanto essa ditadura me afetou quando derramei algumas lágrimas de emoção ao acompanhar a escolha de Tancredo e muitas outras ao votar pela primeira vez para presidente.

    Concordo, assino embaixo, participo de passeata de alguma houver: assim como não existe meio virgem ou meio verdadeiro, não existe classificação para ditadura. Ditadura, seja ela de que tipo for, é dura. Ponto final. Faço coro: perguntemos ao chefe da Susanna o que ele acha dessa discussão toda sobre o Holocausto. Afinal, se os pais deles estão (ou estavam) por aqui, não foram vítimas – o que, seguindo a argumentação dele…

    Isso posto, passemos ao Mainardi. Ele é uma metralhadora giratória, que de vez em quando dá tiro no próprio pé. Mas é uma metralhadora que não cansa de nos cutucar para que pensemos no que temos a ver com tudo o que está aí (falando nisso, sugiro a leitura do blog do Marcelo http://evocecomisso.blogspot.com/ que faz exatamente isso, todos os dias e com muita inteligência). O Mainardi tocou num ponto muito importante: aquela gente que “pretende ser eternamente recompensada por seus gestos durante o regime militar.”

    O que me levou a pensar sobre outro ponto, muito delicado (e ao falar sobre ele estou arriscando ser moralmente açoitada em praça pública): os judeus que querem ser considerados ad eternum como O Povo Perseguido. Não estou negando nada do passado de perseguições sofridas pelo povo judeu e abomino o bispo inglês. Mas assim como os judeus, outros povos padeceram sob Hitler, alguns países da África são um eterno campo de exterminação e não tem outra palavra senão genocídio para o que os europeus praticaram em todos os cantos do mundo ao espalhar sua “cultura civilizada”. Para ilustrar meu ponto, bastou uma vez eu ter mencionado a palavra holocausto num contexto que não incluia judeus para uma amiga, judia nem tão seguidora dos preceitos da religião, saltar sobre mim, furiosa: o Holocausto já aconteceu!

    O assunto é polêmico e eu poderia seguir, mas meu intervalo já acabou há horas. Desculpe pelo tamanho do comentário, meu filho reclama desde que aprendeu a montar uma frase com sujeito e predicado que eu me empolgo e falo demais. Só pra encerrar: deixo registrado meu protesto contra “Não duvido que possa existir uma pracinha no interior do Rio Grande, com balanços e um campinho de futebol chamada Praça Adolf Hitler”. Assim não, Nelson!

    beijo de sol (até que enfim parou de chover na serra gaúcha).

    PS – confessa, vai, essa tua frase foi só pra cutucar meus brios!

    • Nelson Correa disse:

      Uau Helô! Que comentário!!! Gostei muito.

      Mas antes de mais nada, não foi nenhuma provocação com você. Se você observar, o meu velho amigo Noronha, gaúcho como você, e editor do O Fim da Várzea, foi que citou pela primeira vez que se deixar que mudem a história, um dia, daqui a cem anos, poderia haver uma rua com o nome do Hitler.

      Bom, agora que tá explicado que não houve provocação, vamos continuar. Devagar, porque aqui o sol está queimando minha cabeça. Olha, depois de 22 anos fora do Rio, esse está sendo meu primeiro verão e estou completamente desnorteado com a temperatura beirando 40ºC de dia e rondando os 26ºC na noite. Isso é desumano.

      Helô, você escreveu tudo e encerrou a discussão. Pronto. Agora vamos abrir uma garrafa de um branco bem gelado para aguentar o verão do Rio. Tomei recentemente um Concha y Toro Sauvignon Blanc e um Santa Helena Reservado Chardonnay que foram muito bem na relação custo benefício. Me indicaram o argentino Aromo Chardonnay com referências de que era imbatível nessa faixa de preço. Você conhece?

      Beijos,

  • […] Militar, andei procurando alguma coisa lá no seu blog. E achei uma publicação com título “Abaixo a ditabranda“. Você foi contra esse golpe, […]

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