Foi bonita a festa pá


Daniel escolheu a camisa brancaEu já torci muito pelo Vasco da Gama. Quando garoto, uma vez chorei, literalmente, com a derrota e a perda do título no último minuto. Já me tomei de raiva por perder o campeonato para o maior inimigo. Mas muitas vezes cheguei em casa, depois de vitórias homéricas no Maraca, completamente rouco. Rouquidão que fazia questão de preservar até o horário do recreio da escola no dia seguinte. Era o troféu da vitória que eu podia mostrar ao amigos, torcedores do Vasco ou não.

Eu era apaixonado por futebol. Fui bem ensinado (ou seria melhor usar doutrinado?) pelo meu pai. Não importa, acho que ele fez o que deveria ter sido feito. Fui vascaíno desde pequeno, de vestir a camisa nas peladas da rua em ladeira (trocávamos de campo no quinto gol nas partidas de 10 gols). Aos sábados e domingos, jogávamos mais de 8 horas de futebol por dia. Chegávamos em casa sujos, suados e com a pele mais vermelha de que a que imaginávamos nos índios americanos. E olhe que só vi o primeiro título do Vasco da Gama quando tinha 11 anos de idade. Mas íamos ao Maracanã desde sempre, meu pai, eu e meu irmão.

Tive o prazer de ver com a nossa camisa, Roberto Dinamite. Vi também Romário e vi Juninho Pernambucano, vi muitos que viraram meus ídolos com a camisa cruzmaltina. Sempre tendo o futebol como uma das paixões, meu primeiro emprego, aos 17 anos, foi como professor de futebol de salão para crianças de 8 a 12 anos no Clube Naval, no Rio de Janeiro. Quando meu filho nasceu, tentei ser mais democrático que meu pai, dei opção para que meu moleque escolhesse a camisa de futebol que quisesse. Mas seguindo a tradição familiar, ofereci-lhe uma preta com a faixa diagonal branca e uma outra, branca, com uma faixa diagonal preta, ambas com uma cruz de malta vermelha. Ele preferiu a branca, me contrariando, como os filhos gostam de fazer, e se tornava a terceira geração de vascaínos da família no Brasil.

Mas vieram tempos de trevas, de abuso. Nós, vascaínos de verdade, que temos a tradição democrática e anti-racista de abrir as portas do time para negros e pobres quando o futebol era esporte da elite rica e branca, fomos violentados por um certo indivíduo, que fez seu, o nosso Gigante da Colina. Depois das atitudes facistas e repugnantes desse ditador na final do Campeonato Brasileiro de 2000, contra o São Caetano, com dezenas de pessoas feridas com a queda do alambrado das arquibancadas, eu desisti de acompanhar futebol. Eu desisti de torcer para o Vasco da Gama. Claro, não foi só sua patética figura naquele dia que causou tudo isso, esse episódio foi só a gota d’água, depois de tantas ações esdrúxulas, suspeitas de roubo, desmandos, e tudo de ruim contra o meu Vasco. Eu era campeão brasileiro pela quarta vez e deixava de torcer para o meu time, que na verdade, não era mais nosso, e sim daquela coisa.

Mas não há mal que não se acabe. Democraticamente, ele, o inchado ditador foi expulso pelo voto ano passado. Não sem tentar atitudes escusas e sombrias nos bastidores de São Januário. Um novo presidente foi eleito. Para nos tirar da segunda divisão, Roberto Dinamite, sim, ele mesmo, nosso ídolo dentro do campo, o maior artilheiro do Vasco, o novo presidente, trouxe treinador e jogadores, colocou ordem, mas principalmente, nos devolveu a esperança de ver o Vasco novamente na ponta superior da elite do futebol brasileiro.

Ontem, a festa cruzmaltina no Maracanã lotado com 79 mil vascaínos, que vibraram com a goleada de 4 x 0 sobre o Ipatinga, foi a lavagem final de alma para todos nós. Estamos prontos. Nos orgulhamos dessa virada na nossa história. Nos orgulhamos de sermos o primeiro time do Brasil com pobres e negros em campo. Nos orgulhamos de sermos o primeiro time brasileiro campeão sul-americano. Nos orgulhamos de termos entrado no futebol carioca pela segunda divisão e termos sido bicampeões da primeira divisão nos dois primeiros anos que estávamos lá. Nos orgulhamos de tantos feitos históricos desse time, e agora, nos orgulhamos de sermos o único clube carioca, talvez o único de todo o Brasil, que tem dois campos que podemos dizer nossos: São Januário e o Maracanã.

Bônus
Clique no player abaixo para ouvir o hino do Vasco da Gama em versão de Fernandinha Abreu e Luiz Melodia.



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4 Comentários

  • Paulo Corrêa disse:

    Para nosso gáudio o arquirrival caiu de três… A continuar deste jeito vamos acabar passando mais um ano sem o clássico das multidões no campeonato brasileiro. o que, convenhamos, não será nada mal!!! Fiquei esperando o post do Rubinho e sua sambadinha espanhola. Bjs

    • Nelson Correa disse:

      Olá Paulo!

      Olhe só, depois de tantos anos afastado completamente do futebol, uma das coisas que perdi foi esse tal “gáudio” pela derrota de alguns rivais. Não ligo mais. Pode ser que aos poucos, eu volte a sentir novamente o “gáudio”, mas sei não… Por enquanto, só me pego sorrindo quando a Argentina toma uma piaba.
      :-D
      Quanto ao Rubinho, pensei em escrever sim. O artigo tá fermentando na minha cabeça, se crescer, coloco no forno.
      ;-)
      Beijos,
      Nelson

  • Claudia disse:

    Vasco é uma paixão!!!!(Como autêntica filha de português…rs)
    Rumo a primeira de onde nunca devíamos ter saído!!
    Beijos

    • Nelson Correa disse:

      Olá Claudinha!

      Bom ter você por aqui.

      É verdade, mas para que a gente não viesse fazer essa limpeza de alma na segundona, o Vasco nunca deveria ter ficado com aquela figura por tanto tempo no comando. Mas já que caímos, nada como uma volta por cima não é?

      beijos,
      Nelson

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