Viação ou aviação?


A garça está decolandoEste não é um post pago. Surgiu a partir de um comentário de um grande e velho amigo na minha página do Facebook quando me juntei ao grupo (tornei-me fã, pela nomenclatura usada pelo site de relacionamento) da companhia de aviação Azul. Neste comentário, meu amigo José Peixoto me pede para explicar qual a diferença entre a novata Azul, a velha Varig e as atuais operadoras. Pauta de amigo é missão a ser cumprida no Pô, meu! Vamos que vamos!

Os 3 ou 4 amigos-leitores do Pô, meu! que insistem, e com frequência, lêem o que coloco aqui nesta garrafa digital para o futuro, sabem que comecei minha vida profissional trabalhando na aviação. Se você ainda não sabia, acredite, sou um apaixonado por essas máquinas voadoras, que ao subverterem as leis de equilíbrio da natureza, provam que a criatividade e a curiosidade humana não têm limites.

Pois é, eu já fui mecânico de helicópteros e aviões. Trabalhei em uma empresa que teve a maior frota de helicópteros da América Latina, e foi uma das cinco pioneiras da aviação regional no Brasil que foi criada no final da década de setenta para levar o transporte aéreo para as pequenas e médias cidades que ficaram abandonadas pela aviação regular na era dos jatos.

Conheci a história com alguns detalhes destas cinco pequenas empresas de aviação regional: Votec (a que trabalhei), TABA, Nordeste, Rio Sul e TAM. Se parasse para contar essas histórias, talvez enchesse um livro de muitas páginas. Mas agora, vou ficar no paralelo entre a empresa que trabalhei e a TAM. Eram a água e o vinho. Aliás, só a Rio Sul, que pertencia à Varig, podia fazer frente, em potencial de crescimento, com a TAM. A Rio Sul, virou Varig e morreu com as velhas doenças da Varig. A Nordeste também foi comprada pela Varig, e se juntou à Rio Sul. A TABA naufragou em um modelo de gestão centralizador e arcaico. A Votec, vítima de sua própria política interna, faliu. Já a TAM, comandada pela paixão de um dos mais brilhantes empresários brasileiros, o Cmte. Rolim Amaro sobreviveu e hoje é a maior empresa aérea do Brasil.

Para não me deixar empolgar por esse tema e escrever o livro da minha história na aviação dentro desse post, vou simplificar. Vejo em David Neeleman, o fundador da Azul, a mesma paixão pela aviação e pelo empreendedorismo que via no Cmte. Rolim há 30 anos. A Varig morreu pelo gigantismo sovado por um mercado regulado, onde o custo não era um problema, mas sim, distribuído pelos passageiros. Interessante que a Varig tem uma história obscura e mal explicada no fechamento da Panair do Brasil, na época da ditadura militar. Assim como obscura, no mínimo insensata, foi a autorização da sua compra pela Gol em 2007.

Não conheço detalhes da história da empresa (Grupo Áurea – uma das maiores empresas de transporte rodoviário do Brasil) de onde foi tirada a costela que formou a Gol. Deveria até me envergonhar, mas sou sincero, tenho uma certa rejeição de amizade com empresas de transporte rodoviário no Brasil. Esse mercado se caracterizou na sua formação, e até hoje ainda é assim, pelo monopólio ou garantia de barreiras à entrada de novos concorrentes. Quantas cidades brasileiras são servidas por somente uma empresa rodoviária? Essa pergunta deveria incomodar muita gente, mas nunca ouvi sendo feita, ou pior, nunca vi a sua resposta.

A parte meus preconceitos, a operação de baixo custo (low fare) da Gol, quando iniciou, era completamente diferente da atual da Azul. O baixo custo da Gol nos impunha barrinhas de cereais nos aviões, atendimento lento e com poucos atendentes nos aeroportos, enfim, pagávamos pouco e recebíamos menos também. Depois que cresceu e ficou com a marca Varig, a Gol deixou de ser low fare, voltando a trabalhar com tarifas mais baixas no ano passado, com a entrada de novas empresas nesse mercado. Mas é inegável que foi com a sua chegada que o mercado brasileiro se abriu para a concorrência de preços.

Interessante nessa história é que nossa legislação não permitiu que a Varig fosse vendida para a Lan Chile ou TAP Air Portugal porque existe um limite de 20% das ações ao capital estrangeiro. O passageiro perdeu uma companhia como opção e a concorrência ficou, na época, restrita a somente duas empresas. A Azul foi criada por um “brasileiro” que voltou a aprender português depois que resolveu montar a Azul Linhas Aéreas. David Neeleman é filho de americanos que moravam no Brasil quando ele nasceu. Viveu aqui até os cinco anos e voltou com a família para os Estados Unidos. Você a essa altura já percebeu porque ele pode ter mais que 20% de ações de uma empresa brasileira de aviação.

Por fim, em um dos meus vôos pela Azul de Campinas para o Rio, final de noite, tivemos no avião, vestido à vontade (esporte), o presidente da empresa, Pedro Janot. Ele se apresentou e percorreu durante o vôo todo o avião, cumprimentando cada um dos passageiros, ouvindo questionamentos, opiniões, críticas, ou só batendo um papo rápido. Me fez lembrar o Cmte. Rolim ao pé da escada, junto ao tapete vermelho, recebendo e cumprimentando seus passageiros nos vôos da TAM. Como apaixonado, eu gosto de quem (ao menos) aparenta que também goste daquelas “garças” metálicas. Como consumidor, quero um mercado competitivo que nos ofereça segurança, qualidade, eficiência e baixo preço. Que venham mais “voadoras”!

P.S. 1) Talvez não tenha ficado totalmente claro o título do post. Quando eu era gerente de manutenção na Votec, colocamos um anúncio no jornal para contratar pintores de aviões. Um dos requisitos era ter experiência comprovada em aviação. 100% dos candidatos tinham trabalhado em alguma empresa de ônibus. Quando eu perguntava sobre a experiência em aviação, eles me mostravam a carteira de trabalho e diziam: – Olhe aqui, trabalhei na Viação Alta Muralha. Todos tinham trabalhado em alguma empresa cujo nome era Viação alguma coisa. Desisti e contratei os que passaram nos testes.
:-)
P.S. 2) Fotos. A fotinha na capa é minha mesmo e pode ser vista inteira no meu Flickr. A foto aqui dentro do post não sei o autor, mas achei-a no blog (muito gostoso) da portuguesa Ianita.

P.S. 3) Missão dada é missão cumprida, meu caro amigo Zezinho.



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9 Comentários

  • Clara Favilla disse:

    Muito legal o texto no estilo e nas informações. Gostei demais.
    Abraços

  • Helô disse:

    O PS1 me lembrou uma estorinha que aconteceu quando resolvi ser empresária (e dei com os burros n’água – mas isso é outro assunto)na área de turismo. Precisávamos contratar alguém com experiência em sistema de reserva de passagens aéreas. Amadeus, Sabre, esses bichos. O que apareceu de candidato não foi brincadeira, grande parte deles com experiência comprovada, sim – no sistema da estação rodoviária de Porto Alegre. “Ah, mas é sistema!”

    beijo beijo.

    • Nelson Correa disse:

      Oi Helô,

      E eu que pensava que só tinha acontecido comigo.
      :-D
      Olha, hoje em dia, com Internet e os sistemas de reservas bem mais acessíveis, talvez fosse melhor contratar um nerd.

      Bom tê-la por aqui novamente.

      Beijos,
      Nelson

  • JUnqueira Kess disse:

    tb sou apaixonada pelas ” garças voadoras”.
    gostei do post :)
    interessante

    • Nelson Correa disse:

      Oi Kess,

      Obrigado pela sua visita e sua contribuição. Legal você ter achado interessante. Aliás, garça voadora é uma redundância, mas era assim que a gente chamava essas coisinhas voadoras.
      ;-)
      Abraços e sucesso,
      Nelson

      P.S. 1) Desculpe demorar tanto com a resposta. A explicação e as desculpas estão aqui.

  • Silva disse:

    Olá amigo, vim aqui para deixa o link onde estão todas as obras do Cientista Herbert Alexandre Galdino Pereira da área de Eletromagnetismo Aplicado e Aviónica. Ele é autor da Teoria do Triângulo das Bermudas, que visa explicar o que ocorre com os aviões ao entrarem nessa zona, Teoria dos Celulares e Eletricidade Estática, e Orientação aos Aviadores Brasileiros ao voarem a Serra do Cachimbo, em Mato Grosso, pois existe campo Magnético na área do Brasil (relaciona-se ao vôo 1907 e com o Tráfico Aéreo). Entre outras obras.
    Deixo o Link aqui em baixo para Leitura e Downloads das Obras deles.

    http://www.scribd.com/people/documents/13555060-fuma-a

    Um abraço.

  • Bene Leonardo disse:

    Olá Nelson bom dia!

    Gostei muito do texto, e vc tem razão quando sita a paixão pelo que fazemos, acredito que é esta paixão que nos faz fazer e dar o melhor de nós e pelo que li sobre o David Neeleman ele é um eterno apaixonado pela aviação e quem ganha com isto somos nós. Porque a Azul Linhas Aéreas, esta crescendo e se continuar assim será em pouco tempo uma empresa de muito sucesso, mais uma vez parabéns. e tenha um lindo dia.

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