Todo filho é pai da morte de seu pai


Imagem: Meu pai

Meu pai.

“E feliz do filho que é pai de seu pai antes da morte, e triste do filho que aparece somente no enterro e não se despede um pouco por dia.”

Hoje posso me sentir um pouco feliz por ter podido ser o pai do meu pai antes da morte dele. Não precisei fazer nenhum esforço para isso, bastou abrir os braços e sorrir para ele. Recebê-lo em minha casa e me despedir dele dia após dia por pouco mais de três meses, foi seu último presente para mim.

“O que um pai quer apenas ouvir no fim de sua vida é que seu filho está ali.”

Se minha presença ao seu lado, seja cozinhando para ele, ajudando-o com os remédios, levando-o ao tratamento quimioterápico e às consultas médicas, tirando-o e colocando-o na cadeira de rodas para a cama, para a mesa e para o sofá da sala, levando-o ao banheiro ou participando do banho, em cada gesto meu, eu tinha a certeza que ele sentia que não estava tão sozinho naquele momento tão difícil para ele..

“Ou, quem sabe, a velhice do pai e da mãe seja curiosamente nossa última gravidez. Nosso último ensinamento. Fase para devolver os cuidados que nos foram confiados ao longo de décadas, de retribuir o amor com a amizade da escolta.”

Mais que um dever ou obrigação, acompanhar meu pai, ajudando minha mãe, sempre presente e muito valente, foi uma forte e extraordinária experiência de vida. A oportunidade de estar ao seu lado diuturnamente, por rápidos, estupidamente rápidos, desnecessariamente rápidos… cem dias, foi tão forte quanto o nascimento dos meus filhos.

Hoje meu velho faria aniversário. Já é o segundo sem que ele esteja aqui para comemorarmos. Mas no primeiro, dada a proximidade de sua morte, eu ainda estava na vibração daqueles últimos meses. Por isso, nesse, hoje, mais tranquilo, sinto como se fosse o primeiro.

Abraço forte, meu pai.

As frases destacadas saíram do texto do poeta Fabricio Carpinejar, publicado no jornal Zero Hora, de Porto Alegre, em 6 de outubro de 2013. Caíram no meu colo como uma chave para me ajudar a decifrar e entender melhor a experiência de ter sido o pai do meu pai na morte dele.

O texto integral você pode ler aqui. Neste link, Carpinejar recita seu texto em sua página do Facebook



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