Planeta dos Macacos


Imagem: Campanha Planeta dos Macacos - CUFA

Campanha Planeta dos Macacos – CUFA

Na hora do par ou ímpar para decidir os times da pelada na nossa rua, quem ganhava tinha uma imensa vantagem, teria o Manolo no seu time. Se o Manolo não estivesse no dia, o Paulo era a preferência do ganhador. Ambos jogavam mais que o resto, Manolo era mais velho e mais encorpado que o Paulo, que era do grupo mais novo. A compensação do perdedor era poder escolher jogar o primeiro tempo subindo a rua – sim era uma ladeira, leve, mas ladeira – para no segundo tempo, atacar descendo a ladeira. Qual vantagem? Nenhuma se os tempos fossem de igual duração, mas os jogos só terminavam quando o primeiro time fazia 10 gols, desde que a diferença fosse de 2 gols. Quando um time fazia cinco gols, o intervalo era decretado e os times trocavam de lado do campo, ou da rua. Se no segundo tempo o placar chegasse em 9×9, “ia a dois”, ou como falávamos na época: vai a dois. E valia ad eternum, ou até que um time fizesse o segundo gol de diferença. Tanto podia terminar 11×9 como em 30×28. O segundo tempo poderia ser infinitamente maior que o primeiro, e descendo a ladeira, fazia uma grande diferença.

A rua era pequena e não éramos muitos. Mais precisamente, nove: eu, André, Johnny, Lu (Luís Alarico), Manolo (Manoel), Paulo Roberto, Pedroca (Pedro Paulo), Reinaldo e Rodney. Desse grupo, uns eram de classe média alta, um era filho de exilado político fora do Brasil e tinha vida econômica apertada, outros classe média mais baixa e o Manolo, que tinha as pernas tortinhas (seu segredo para o futebol?), era filho de uma empregada doméstica de uma casa da rua. Às vezes Manolo trazia um amigo que não morava na rua. Era mais velho que nós, mas jogava nossas peladinhas também, afinal, era meio perna de pau e às vezes o décimo jogador, quando a gente podia então, formar partidaços de 5 contra 5. A gente era louco por futebol. Qualquer hora livre rolava pelada na rua, no final de semana a gente jogava até escurecer ou as mães chamarem ou as pernas não mais se sustentarem. Parecíamos, todos, macaquinhos cansados, cada um arriado no seu canto, incluindo galhos. Pretos, brancos e vermelhos.

Aderi na minha conta do Twitter à campanha promovida pela CUFA contra o racismo: Planeta dos Macacos.  #PlanetadosMacacos no Facebook 



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