Picadeiro Brasil


Imagem: O pouso mais lindo do universoNós, o povo brasileiro, fingimos viver com seriedade uma realidade de mentirinha. Ou seja, somos todos atores – uns maus, outros bons – e o país é um grande picadeiro. Foi o que pensei durante minha caminhada no Parque do Flamengo, sob um céu estupidamente azul e temperatura agradável para o Rio de Janeiro. “Louco!” Sei que foi isso que você pensou. Advinhei?
:-)
Nem tanto. Vou explicar. Caminho do Morro da Viúva em direção ao Aeroporto Santos Dumont, claro que não vou até lá, é só para sua referência. E volto caminhando em direção ao Pão de Açúcar. Pela manhã é comum o vento soprar de dentro da Baía de Guanabara em direção ao Oceano. Portanto, os aviões, obedecendo à natureza, pousam contra a direção do vento, fazendo uma curva em frente ao Pão de Açúcar, voando paralelo à Praia do Flamengo até atingirem a cabeceira da pista do Santos Dumont. No que o autor da foto aí de cima (ou ao lado?), o Luis Guilherme (obrigado pela foto), chama de “O pouso mais lindo do Universo”. Não sei se é do universo, mas de todos que fiz, e foram muitos, esse é disparado o mais bonito mesmo.

“Tá mal mesmo, continua viajando na maionese”. Novamente advinhei seu pensamento, hein! É isso que você pensou, não foi?
;-)
Tudo bem, agora você vai entender. Nessa caminhada da volta, olhando para o Pão de Açúcar, reparei quando fazia a tal curva o novo Airbus da Ocean Air, agora chamada Avianca. O próximo avião que fez a curva para o pouso, foi um Embraer da Azul. E antes que eu finalizasse minha caminhada, um Boeing da agora rara Varig, tombava sua asa da esquerda para baixo, bem em frente ao Pão de Açúcar para se alinhar à pista do Santos Dumont.

Pois é, e antes que você pense que turbino minhas caminhadas matinais queimando um cigarrinho natural, na verdade minha cabeça é que não para de trabalhar. Quando a Varig quebrou, e estava prestes a interromper suas operações, duas grandes companhias aéreas demonstraram interesse no seu controle: a Lan chilena e a TAP portuguesa. O problema é que nossa legislação para transportes aéreos, o Código Brasileiro de Aeronáutica, que na verdade é a Lei 7.565, de 1986, em seu artigo 181, proíbe que mais de 1/5 ou 20% do controle acionário de empresas de aviação brasileira pertençam a estrangeiros. E a Varig, na prática, acabou absorvida pela Gol. Poderíamos ter hoje três grandes companhias áereas, mas temos somente duas: TAM e Gol, que juntas, são donas de quase 90% do tráfego aéreo.

E qual é a palhaçada dessa história?” Muito bom, você está bem atento ao texto. Obrigado. [pretensão]

Duas novas empresas apareceram, ainda pequenas, mas espero que cresçam rápido, pois quanto mais empresas competindo, melhor nós, consumidores, seremos atendidos. Estou falando da ex-OceanAir agora Avianca e da Azul. Perceberam a ligação com os aviões pousando no início do texto?
;-)
Ok, então vamos agora alinhavar com a necessidade de 80% do capital de empresas aéreas ser brasileiro. O controle acionário da Avianca (antiga Ocean Air) é de Germán Efromovich. O sr. Efromovich é descendente de poloneses que fugiram da perseguição nazista durante a II Guerra Mundial. Foram parar na Bolívia, onde nasceu o pequeno Gérman. Mais tarde, quando o adolescente Gérman tinha 13 anos, eles se mudaram para o Brasil – ninguém precisa acertar na primeira tentativa. Depois de adulto e com negócios de sucesso, incluindo a colombiana Avianca, o sr. Eframovich se naturalizou, e hoje é brasileiro de pleno direito.

Já o controle acionário da Azul, é de David Neeleman. O sr. Neeleman é descendente de holandeses e norte-americanos. Quando ele nasceu, seu pai era correspondente estrangeiro trabalhando em São Paulo. Naturalmente o pequeno David foi registrado aqui e tem dupla nacionalidade. Quando ele tinha cinco anos a família voltou aos Estados Unidos. David cresceu e fez uma carreira de sucesso como empreendedor no mercado de aviação nos Estados Unidos. Um dia, resolveu (re)aprender português e montar uma empresa de aviação no brasil, afinal, a lei garantia esse sonho.

Não seria mais fácil a gente se alinhar com a realidade e ter essa lei revista? Quem sabe a Varig não seria ainda uma empresa independente, gaúcha e brasileira, mesmo com controle acionário de estrangeiros. No fundo, no fundo, por conta de tantas tentativas de separação e de um forte pensamento umbigocentrista, talvez a Varig tenha sido sempre mais teuto-gaúcha que realmente brasileira. Mas aí já estou criando um samba do afro-descendente doido.

E agora, entendeu?

P.S. Atenção! Os antigos funcionários da Varig que contribuíram com o Aerus reclamam da situação que se encontram hoje. Visite o blog Aviões Abatidos.



Você gostaria de receber as atualizações do Pô, meu! por e-mail? Clique aqui.

8 Comentários

  • Chantinon disse:

    Nelson,
    Estou muito longe de ser nacionalista, mas depois que li Freakonomics passei a tomar cuidado com meus desejos. Também sou a favor da abertura total de mercado. Mas no caso da aviação, se não conseguimos fiscalizar duas empresas, imagina 10 ou 20?
    Além disso, passei a ter raiva dos preços baixos. Eles escondem uma realidade cruel, somos todos otários. Acho que deveríamos parar de medir tudo pelo crescimento. Fazer números é até fácil, mas criar qualidade… e a preço baixo…
    O pouso no RJ realmente é lindo. A TAM no passado dava de cortesia vôos panorâmicos nas aterrissagens, e na ordem sempre achei esses os mais incríveis: Floripa (o panorâmico da chegada a ilha é sensacional), RJ (Santos Dumont) e PE (Tanto chegada como partida com o panorâmico pelo mar são fantásticos).

    • Nelson Correa disse:

      Caro Chantinon,

      Que lástima! Quase imperdoável. Não conheço a sua Recife.

      Mas conheço Floripa. E mesmo assim, ainda concordo com o Luís Guilherme, o fotógrafo, pousar no Santos Dumont em direção à Ponte Rio-Niterói, fazendo a curva ao lado do Pão de Açúcar, não tem igual.

      Abração garoto!
      Nelson

  • valdir disse:

    Assim como os passaros precisam se alimentar,os aviões tambem.
    Os passaros ,criação de D´US ,ele mesmo òs alimenta,os aviões criação do homem deve ser alimentados pelo próprio homem.
    Tanto as decolagens e aterrizgens dos passáros,quanto as dos aviões,ambas são maravilhosas.
    Existem passaro que comem mais do que outros,assim tambem acorre com os aviões.
    Moro em uma chácara,local de muitos passaros, quanto mais eu os alimento mais pássaros aumentam.
    Precisamos de mais aviôes,o que esta faltando são alimentadores.
    Não sei se a falta de alimentadores é por causa do preço da passagem,ou o preço é por falta de alimentadores.
    Não sei o que faser. me desculpem boa sorte, abraços

    • Nelson Correa disse:

      Oi Valdir,

      Bom você contribuindo aqui conosco.

      Quanto a existir ou não quem os alimente (passageiros), eu acho que tem sim. Lembro que alguns anos (poucos) atrás, existia uma empresa que operou com preços bem baixos, a BRA. Cansei de ver pessoas simples fazendo vôos do Nordeste para São Paulo e vice-versa que talvez nunca fizessem, se a passagem não fosse barata.

      Na Europa e nos Estados Unidos existem empresas que operam com passagens baratíssimas. Algo como passagens a 30 ou 40 reais, trazendo os valores para a nossa realidade.

      É claro que esse tipo de operação demanda um cuidado muito grande, pois as margens de lucro são estreitas. Acho que é disso que nosso empresariado foge.

      Ah! E se você deixar de dar comida para seus pássaros, não se preocupe, eles acharão onde se alimentar na natureza. Só estão buscando o mais fácil.
      ;-)
      Abraços e sucesso,
      Nelson

  • valdir disse:

    KKKKKKK, É ! você tem toda razão, são mesmo uns folgados,valeu um abraço.

    • Nelson Correa disse:

      Oi Valdir,

      Não deixe de alimentar os bichinhos não.Eu só não gosto de ver pássaros em gaiolas. Acho que todos os seres vivos têm o direito básico e fundamental à liberdade.

      Abraços e sucesso,
      Nelson

  • valdir nascimento disse:

    Não se preocupe, eles não estão em gaiolas,eu tbem não gosto que eles fiquem presos,aliás,prá ser sincero,eu matei um passarinho quando tinha apenas dose anos,e acidentalmente,sofri muito com este ocorrido na época.shalom

  • Nelson Correa disse:

    Oi Valdir,

    Que bom que eles estão fora das gaiolas! Quanto ao acidente, acontece, principalmente com meninos.

    Abraços e sucesso,
    Nelson

Deixe uma resposta para Nelson Correa Cancelar resposta