Informação e opinião. Palavra e liberdade

Uma das grandes vantagens do excesso de tudo que a Internet joga na nossa cara, é que a contrapartida é o acesso a tudo. Há mais de 10 anos, no início da Internet comercial aqui no Brasil, eu trabalhava com um grupo grande de garotos já criados com o computador como brinquedo preferido (depois do video game, é claro). Eram todos excelentes conhecedores das tecnologias usadas para a informação. Pois ainda muito jovens, me preocupava como eles assumiam como verdades certas coisas lidas na grande (naquela época ainda pequena) rede.

O que está escrito, sempre foi o pressuposto da verdade, mais do que aquilo que é passado de boca em boca. Vide jornais e livros religiosos, sentenças e certidões, entre outros “documentos”. Por conta disso, minha maior preocupação com aquele mundo novo que surgia, era com a verdade. Fiz muita campanha para eles não saírem acreditando e divulgando tudo que liam. Foi por conta dessa faceta cultural que MrManson e o seu Cocadaboa iniciaram sua história de sucesso.

Esses últimos dias, uma seqüência de leituras me fez parar para pensar um pouco sobre esse tema. Primeiro o Alexandre “Techbits” Fugita, trouxe uma visão muito interessante, no artigo Googlezon toma forma, principalmente para quem não é um profissional de marketing e comunicação (eu): a notícia, no seu estado mais puro – a informação logo após a junção dos dados fundamentais – é commodity. Existe um mercado gigantesco ávido por notícias (a Internet), e existem muitos fornecedores dessa commodity. Não dá para mentir. Pelo menos por mais de algumas horas.

A seguir, conheci um dos campeões do Technorati em língua portuguesa, o blog Burajiru! da Érica Akira. Pelo que entendi, a Érica está vivendo no Japão. Pelo que constatei lendo o blog dela, ela é uma ativista política super engajada aqui no Brasil. Ela protestou contra os senadores que mentiram dizendo que votaram contra o político Renan, pois acabamos ficando com mais gente contra do que o resultado oficial. Ela está promovendo uma campanha pelo voto aberto no parlamento brasileiro. Mas principalmente, a Érica, com carinha de menina ainda, comemora a vitória de uma campanha pelo reconhecimento da nacionalidade brasileira pelas crianças de pais brasileiros, nascidas no exterior: PEC Apátridas.

A Lucia “Ladybug” Freitas, no artigo A gente pode mudar o final, lembra um texto da poeta, jornalista e atriz Elisa Lucinda, gravado no CD Ana&Jorge, que fala que o começo da nossa história é impossível mudar, mas o final, o futuro dela, nós temos condições de fazer diferente do que se pode esperar. E será muito mais fácil com essa ferramenta de comunicação, cheia de lixo, mas que nos traz e nos leva a tudo, que é a Internet.

Não é de hoje não garotada. Há 9 anos (ago/1998), hackers portugueses (Kaotik Team) invadiram e alteraram (mais uma vez) o conteúdo de 45 sites da Indonésia (maioria, governamentais) para protestar e mostrar ao mundo a opressão imposta por aquele país ao pequeno Timor Leste. E, principalmente, gritar pelo seqüestro da liberdade do líder timorense, Xanana Gusmão, preso sem julgamento. A pressão mundial foi tão forte, que Xanana foi solto e o Timor Leste conseguiu sua liberdade da Indonésia.

Essa e outras histórias de lutas pela liberdade, tiveram como grande arma, a palavra. A palavra que nos últimos poucos anos, foi amplificada, ganhou velocidade e chegou onde nunca antes havia chegado antes da história acontecer. Mas como as filas nos bancos para pagar contas e as toalhinhas higiênicas da juventude de nossas avós, aconteceram, mas estão ultrapassadas. O Carlos “Contraditorium” Cardoso acha que para protestar e mudar o mundo, só se for nas ruas. Tá certo que os franceses tiveram que ir às ruas para cortar a cabeça da realeza francesa depois de arrombarem a Bastilha. Mas até mesmo a Revolução Francesa, caro Cardoso, não começou com as armas tomadas da Bastilha, começou nos artigos publicados na imprensa parisiense e nos bochichos de ruas e cabarés da futura cidade Luz.

O que sobra disso tudo? Sobra que a opinião hoje, pode ser buscada em várias fontes diferentes. Não é mais preciso ter dinheiro para comprar a Veja e a Caros Amigos para ler os dois lados. A informação é commodity. Não tenho mais medo do que o poder pode fazer com as mentes através da Internet, como fez no passado através da tipografia. No mais, ainda prefiro muita discussão, antes de gritos de ordem e turba guiada, na maioria das vezes cega.

Continuo defendendo que a primeira grande arma para a garantia da liberdade é a palavra.

P.S.1) Se eu já fosse grande, assim como o Edney, poderia dizer que esse é um post para colocar em favoritos. Mas até hoje ainda não sei se ele fala isso pelo tamanho ou pela qualidade da pesquisa e número de links.  :-D

P.S.2) Mas se eu fosse realmente grande e resolvesse escrever vários P.Ss. eu seria o Inagaki e não o Edney. Hummm… pensar enlouquece. ;-)

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7 Comentários

  • Olá Nelson “Pô Meu!” Corrêa,

    Pensando sobre o conceito da informação pura e simples ser commodity, muitos podem questionar essa afirmação. Então acho que quem souber manipular (não no sentido “manipulativo”) essa commodity com maestria está em vantagem.

    Gostei bastante deste texto e vou guardar no delicious, hehe!

    Abraços!

    Comentário do Nelson “Pô, meu!” Corrêa:
    Grande Fugita!
    Você sabe que cada vez mais penso na informação como uma commodity (obrigado pelo ensinamento). Veja que os grandes produtores dessa commodity estão até trazendo o público em geral para ajudar na sua geração. Como qualquer commodity, quanto mais barata, melhor.
    Depois, realmente, como usá-la, onde usá-la, e os produtos finais criados com ela, concordo com você, será o diferencial competitivo. A opinião é tudo.
    Valeu! :-D
    Abração,
    Nelson

  • Excelente post, Nelson. Não apenas o salvei, mas já mandei link dele para alguns amigos.
    Só tenho um comentário a fazer. Não discordo, em absoluto, de você. Informação é commodity e, como sempre foi dito, informação é poder. Mas o que é informação, afinal? Você mesmo critica no texto as pessoas que assumem como verdadeiro qualquer texto que recebam, afinal “está escrito”. O Melo já brincou de maneira excelente com a frase “se está na imprensa, é Verdade Absoluta”. Mas, ao meu ver, dentro de uma ótica de profissional de informática, a maioria do que temos à disposição são os dados brutos. Mesmo quando na forma de notícias. Falta no processo, para a maioria das pessoas, meios de confrontar esses dados com outros (outras opiniões, o outro lado da história), pesar as afirmações, eliminar os absurdos. Só então teremos, realmente, a informação. Se cada um fizer isto, 99% dos e-mails com histórias absurdas deixariam de ser repassados. Explicações pouco convincentes jamais seriam aceitas. E, quem sabe, uma revolução diferente começaria…
    Nossa, ficou quase um post…

    Comentário do Pô, meu!
    Caro Enio,
    Se ficar um post, não esquente, será ótimo. Um dos motivos Uma das vocações do Pô, meu! é ser local livre de discussãopara a livre discussão. :-D
    Receber a informação, comparar e processar é o que quero que meus netos façam. Formar a opinião, a partir de diversas outras, é um belo mecanismo criador de inteligência. E usar a palavra, sempre, como arma de liberdade. ;-)
    A casa é sua, volte sempre.
    Abraços e sucesso,
    Nelson

  • cardoso disse:

    Nelson, a diferença é que os franceses ficavam enchendo a cara nas tavernas discutindo a revolução, mas o assunto era o mesmo.

    Se você cada semana fala de um asssunto diferente e esquece a semana passada, nunca chegará a uma massa críticica para nada.

    Quando a Cicarelli baniu o YouTube quem falava do assunto mais de 3 dias seguidos era atacado por leitores insatisfeitos dizendo que a gente estava se repetindo, era hora de virar o disco.

    Comentário do Pô, meu!
    Grande Cardoso,
    Eu me dei por satisfeito no caso “Cicarelli”. Afinal, o que eu queria era: (1) Mostrar até onde eu pudesse mostrar, que o juiz é obrigado a entender, nem que seja através de assessores, até onde, realmente, o “poder” dele pode chegar. Não pode ser somente cumpra-se. Bingo! e (2) Liberarem o Youtube o mais rápido possível. Bingo! Objetivos atingidos. Não tenho nada contra a Cicarelli, não vejo os programas da Cicarelli, não compro produtos por conta da Cicarelli, ou seja, para mim a Cicarelli é só um bocão em um belo corpinho.
    Eu por exemplo vivo falando, e mal, desse governo que está aí. Vou falar até que o governo mude, ou trocando as moscas, ou mudando a merda. Independente de salsinhas ou patrulheiros ficarem me enchendo o saco.
    O que quis e faço questão de repetir, é dizer que a palavra sempre foi, e será uma arma muito importante como elemento de mudança. Pô, meu! Você é um mestre no uso dessa arma. Não pode esquecer que se o Luther King tivesse Internet, ele teria feito muita campanha pelos direitos civis no blog dele.
    Mudanças concretas, reais e duradouras só existem quando se consegue mudar as cabeças e mentes e não só a força vigente e o status quo. E cabeças, mudam-se através de palavras.
    Valeu ter vindo aqui bater esse papo comigo. :-D
    Abração,
    Nelson

  • Erica Akira disse:

    Nelson, eu acredito muito nisso, a palavra é mesmo um dos elementos de mudança.
    Ontem, era restrita aos jornais e revistas.
    Hoje, você não precisa estar empregado em um grande jornal para estar acessível: os blogs estão aí prá isso (e não apenas para diário de adolescentes).
    É certo porém que visibilidade sempre terão apenas a grande mídia, e com sorte, os grandes blogs….
    Mas no quesito acessibilidade, nós pessoas comuns estamos presentes na rede da mesma forma que um grande portal de jornal, basta saber o endereço.
    Abraço!

    Comentário do Pô, meu!
    Erica,
    Vida longa e eterna para a palavra! :-D
    Eu adoro uma tese do Millor Fernandes. Quando chegam para ele e dizem que uma imagem vale mais que mil palavras, ele, grande defensor da palavra, pede ao interlocutor: explica isso sem palavras. Fantástico né?
    Abraço,
    Nelson

  • Sandra Leite disse:

    Caro mestre geekman Nelson,

    Deparo-me não com um post, mas com um tratado a favor da palavra. Encanta-me seu estilo de escrita pesquisando com o maior cuidado cada “palavra” . Talvez seja esse seu encantamento pela “palavra”, pela”informação”. To com você. Mas o excesso de tudo pode nos levar ao excesso de nada. Os extremos podem colidir. E mais uma preocupação (esta que é nossa) é saber onde está a verdade…Porque o excesso de tudo gera relativização das coisas também. O que é verdade pra vc pode não ser pra mim. De qualquer maneira, adorei seu tratado. A cada linha , mais possibilidades e tanto mais respostas.
    Queria confundir um pouco :-)
    Mas tudo isso é pra dizer da admiração que tenho ao Pô, meu! Fica convencido disso, cara. você é genial :D
    bjs

    Comentário do Pô, meu!
    Sandra,
    Muita gentileza esse seu comentário. Obrigado.
    Só a possibilidade dos extremos colidirem, afasta completamente o meu temor de que “o poder” pudesse conduzir para a verdade dele. Se puderem compartilhar a convivência, para, na discussão, se depurarem, todas as verdades são bem vindas.
    Mais uma vez, obrigado.
    Bjs,
    Nelson

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