Gosto de São Paulo

• Por Nelson Correa
• 25 janeiro, 2007
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Hoje São Paulo faz 453 anos. Nada melhor do que começar a escrever o que tenho tido vontade de dizer, mas ainda fico sem saber a dose ideal: falar sobre São Paulo. Pode ser uma auto-censura, pois existe um bairrismo entre as duas maiores e mais importantes cidades do país. Mas eu me apaixonei por Sampa. Pô, meu! Como um carioca, criado na Zona Sul do Rio de Janeiro nas décadas de 60, 70 e até quase o final da década de 80, pode sentir isso por São Paulo? Fácil! Não querendo achar em São Paulo o que normalmente faz com que os cariocas e não cariocas se apaixonem pelo Rio.

A partir de hoje o Pô, meu! vai trazer, na visão de um carioca, o que São Paulo tem que pode fazer com que qualquer um, até o mais chiado e gingado dos cariocas, se apaixone também. Até para que não me sinta tão sozinho e sem graça nessa declaração, vou começar usando como referência uma grande matéria de 10 páginas publicada hoje no Estadão, que lista 15 razões para não se querer sair da cidade.

“São Paulo é perto do Brasil, não exige visto e todos falam português” (Ed Motta, cantor e compositor carioca)

A matéria lista 15 coisas que viciam as pessoas em São Paulo, sejam paulistanos de nascença ou que aderiram por opção. São elas:

Alguns eu assino em baixo, outros são motivos que só os nativos conseguem entender, e naturalmente praticar. Mas independente desta lista, gostaria de adicionar mais três itens que não foram citados pelo Estadão. Sob a visão de um carioca, são mais três motivos para se apaixonar por São Paulo:

Parque Villa Lobos – homenageando o maestro carioca, o parque que fica entre a marginal do rio Pinheiros e o bairro Alto de Pinheiros, é um local privilegiado dentro da agitada metrópole. Com quadras esportivas de futebol, tênis, basquete e vôlei, além de ciclovia com aluguel de bicicletas, brinquedos infantis e muito, muito verde, o parque não permite a prática de comércio ambulante, é super limpo e bem cuidado, é muito grande e seguro, pois tem dentro dele, um batalhão da polícia militar. É um local de muita energia positiva.

Arte de rua – O grafite, que já foi um elemento que ajudava a enfeiar a cidade, evoluiu para nos apresentar sob viadutos, muros sujos e até mesmo, dentro de esgotos, uma arte forte, rica e que é a cara da cidade. Uma das grandes expressões desse movimento são Os Gêmeos. Irmãos que, como o nome não deixa dúvidas, são gêmeos e artistas fantásticos, reconhecidos no mundo inteiro, da Europa aos Estados Unidos. Até mesmo o carioca pode apreciar um pouco de sua obra pintada em alguns trens urbanos do Rio de Janeiro. Com um pouquinho de atenção, é possível esbarrar nessa arte cosmopolita, urbana e super popular em praticamente todos os cantos da cidade.

Vila Madalena – Ah a Vila Madá! Pô, meu! Acho que é o lugar mais carioca de São Paulo. Não falo do carioca que é chamado assim por ter nascido na cidade do Rio de Janeiro. Falo do estado de espírito “carioca”. Aquele que certamente estava com Tom e Vinícius quando eles, tomando um choppinho, compuseram Garota de Ipanema depois de babar com o gingado da menina a caminho do mar. Não. Não tem praia. Essa é a lição número 1 para começar a gostar de Sampa: não procure pela praia. Mas nem precisa procurar muito para achar a maior de todas as instituições de Sampa: várias padocas (padarias, ou quase… pois vendem pão) com seu concorrido brunch de domingo.

Mas a Vila Madá tem muita arte pelas ruas, com grafite nos becos, com mosaicos coloridos nas paredes e nas calçadas, adesivos (stickers) só com imagens ou com com poesias de artistas querendo mostrar sua arte. Tem também ateliês de arte, lojinhas com produtos diferentes do grande circuito, como artesanato e presentes com arte. Tem livraria onde se come jabuticaba no quintal, escolas de música, restaurantes, bares e muita agitação. Muita agitação “mermo”! Tem Escola de Samba e tem a rua, com um dos maiores agitos do bairro (e de Sampa) com barzinhos ao lado de barzinhos, chamada, pasme, de Aspicuelta, que era um jesuíta espanhol que andou por aqui no século XVI.

“Sinto falta deste coito de estrangeiros, quando orientais, baianos e italianos montam cavalos de forças e asas, bebendo o sangue de Urano mutilado por Saturno, enquanto jornalistas, cantores e pedreiros constroem uma civilização única.” (Tom Zé, músico baiano)

São Paulo pode ser como descreve Tom Zé. Pode não ser entendida, pode ser a construção do futuro, ou simplesmente diferente. É isso, amo Sampa porque ela é diferente.