Divagações de domingo depois da F-1


Orfeu da ConceiçãoApesar de ter assistido quase metade da corrida sem som (definitivamente cansei) enquanto estive sozinho na sala, assisti o resto ouvindo as baboseiras do sr. locutor que nos lembrou ao final do gênio Ayrton Senna. Desde Senna um piloto brasileiro não liderava o mundial. Foi triste lembrar o quão cedo Senna nos deixou órfãos do domigo. Foi triste também ver uma vitória medíocre do melhor carro da temporada, apesar de “guiado” (“dirigido” em carioquês) por um brasileiro.

Mas não foi só tristeza esse domingo cinzento e frio no Rio (tal qual em Magny Cours), foi também um suspiro de esperança ver a bela corrida de Nelson Piquetzinho. Não só por ele ter segurado o indomado inglês que incomoda muita gente, até porque ali seu carro estava bem mais leve, mas pela consistência e determinação em toda a corrida, que o levou a aproveitar o erro, e ganhar a posição no finzinho da corrida, do atual melhor do mundo e seu companheiro de equipe, Fernando Alonso. Torço para que ele se espelhe nos abusados, pois potencial para ser um dos melhores ele tem.

Apesar de amargar um final de semana que ele talvez preferisse não ter existido, Barrichello já me convenceu que ele é, ou talvez tenha sido, mais piloto que o Felipe Massa. Hoje, depois de ver o Felipe ser inferior o tempo inteiro ao Haikkonen, e ganhar por conta da quebra do escapamento do finlandês, lamentei ele não ter a idade do Massa e dividir com o Kimi as atenções da Ferrari, e não precisar ter sido o coadjuvante do maior de todos os tempos, aquele alemão canalha que aprendi a admirar.

Falando no alemão Dick Vigarista, tenho quase certeza que a latinidade, primeiro com Briatore na Benetton e depois na equipe italiana por tantos anos, ajudou de forma determinante na construção do piloto imbatível que ele se tornou. Só não consegui ainda definir qual tempero latino falta pro Lewisinho deslanchar de vez. Será que é a malandragem? Talvez ele precise fazer como o Obama, que na juventude acompanhou a mãe para assistir o filme Orfeu do Carnaval. É isso, Hamilton precisa se inspirar em Vinícius de Moraes, precisa aprender com a história de Orfeu da Conceição. Não com o grego, mas com o do morro.

Ah, continuo achando muito melhor assistir Hamiltão pilotando, mesmo fazendo às vezes umas cagadinhas naturais da idade, que todos os outros juntos. Exceção para o Alonso, estamos perdendo muito com o espanhol marrento em um carro tão fraquinho. Finalizando essas divagações, já que o cheiro gostoso que vem da cozinha corta minha concentração, peço licença para fechar este artigo com Vinícius de Moraes:

“E uma última palavra : esta peça é uma homenagem ao negro brasileiro, a quem, de resto, a devo; e não apenas pela sua contribuição tão orgânica à cultura dêste país, – melhor, pelo seu apaixonante estilo de viver que me permitiu, sem esfôrço, num simples relampejar do pensamento, sentir no divino músico da Trácia a natureza de um dos divinos músicos do morro carioca.”

P.S. Naquele circo, passam poucos artistas, é a sina do “filho de papai”, é a imposição do poder financeiro. Lewis Hamilton é um desses artistas.



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3 Comentários

  • Paulo Corrêa disse:

    Continuo dizendo que você está sendo complacente demais com o “Lewisinho” e severo demais com o Massa. O automobilismo é um “esporte” para quem tem “berço”. Não conheço qualquer piloto de automobilismo que viesse de família sem dinheiro ou sem tradição nas pistas. Creio que lá fora não seja diferente daqui. O próprio Senna, o nosso maior, jamais foi pobre de má-ré-de-si, sendo, aliás, uma unanimidade, aqui e alhures, a sua genialidade. Pô, meu!, pega leve com o Massinha… Vou fazer uma poupança para comprar um Biondi Santi, Brunello legítimo, Sangiovese 100%, para comemorarmos a próxima vitória da “Scuderie Rosso” nas mãos do brasileiro, que elevou o “Pé de Chinelo” a bom piloto. Até a próxima corrida! (Se ele ganhar na Inglaterra, já está marcada a 6ª feira seguinte para degustarmos o Brunello di Montalcino. Quem sabe assim consigo fazer com que o Massinha tenha a sua torcida!?!? Beijos

    Comentário do Pô, meu!
    Querido Paulo,
    Como estou pegando no blog e respondendo comentários antigos depois da chuva que lavou a alma do Lewisinho Hamiltão, seria bobagem continuar a falar de Fórmula-1 né? ;-)
    Agora adorei tomarmos aqueles Brunellos di Montalcinos com aquele risoto especialíssimo que você preparou. Foi excelente.
    Beijos,
    Nelson

  • Sandra Leite disse:

    geekman,

    disse a vc que adoro suas crônicas. excelente sedução e enredo. desde o senna, abandonei as corridas de F1. Gostava mais dele do que do esporte…
    E vc me deixou com vontade de ouvir o Galvão de novo…e torcer para o inglês!!!

    bjs

    Comentário do Pô, meu!
    Sandra,
    Mais uma vez, muito obrigado pela força que você sempre dá.
    Quanto ao locutor, chega a ser indecente a forma como ele trata o inglês. Hummm… muito estranho… ouve um dia para você verificar. ;-)
    beijos,
    Nelson

  • Paulo Corrêa disse:

    A vitória do “Lewisinho” no jogo de water polo de ontem nos fez perder um Biondi Santi. Fica para o final da competição (só vale se o “Massinha” for campeão). Até lá…

    Comentário do Pô, meu!
    Paulinho,
    Não vi bola nenhuma ontem na transmissão da corrida. Será que a minha TV me enganou que ao invés de uma corrida de automóveis havia uma partida de water polo? :-D
    O que vi foram valentes pilotos entrando de lado, derrapando na água e buscando posições de ponta. Até o Piquetzinho foi gigante, lutando feito gente grande, tendo saído da pista no calor da disputa por uma posição no pódium. Mas é verdade, vi também pilotos apanhando lá atrás, rodando uma vez atrás da outra, duas, três, quatro até cinco vezes, tentando deixar de ser o último carro na pista, mas a droga do controle de tração foi abolido esse ano. ;-)
    Mas continuo esperançoso de brindarmos esse Biondi Santi em outubro. Nossas chances são de 50%.
    Beijos,
    Nelson

    P.S. para entender melhor esse comentário, leiam O que tinham os carros da Ferrari hoje?

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