Corpo de mulher


Imagem: Mulher na janelaA vinda de Dita Von Teese ao Brasil me lembrou de um menino que conheci lá pelos primeiros anos da década de 70. Não insistam, não vou dizer quem é e muito menos localizá-lo geograficamente, pois a história que vou contar não pode ter seus personagens publicados. Só posso dizer que junto da insistente prática para se tornar um profissional de futebol, o menino sonhava em pilotar carros de corrida. Mas ambas aspirações ele tinha certeza que atingiria com facilidade, o sonho difícil de realizar que trazia da infância anterior, era o corpo de mulher. Como seria? Como reagiria? Que textura teria? Que sensações traria além das que ele imaginava consequências naturais? Esse sim, era um sonho quase inalcansável, talvez por demorar mais que a vontade do menino conseguisse esperar.

Eram dúvidas que só aumentavam nas fotos de revistas importadas, normalmente emprestadas por tios solteiros dos amigos da rua. Elas traziam mais ansiedade e menos revelações. Por mais que o corpo feminino de maiô ou biquini já chegasse muito próximo da realidade, ainda escondia quase tudo desconhecido. Eram mais dúvidas e mais ansiedade.

Mas na rua que esse menino morava, havia uma casa cheia de quartos onde só moravam mulheres. Essa casa apareceu nessa mesma época das dúvidas. Ele não sabe se ela existia antes ou se na verdade, ele nunca havia prestado atenção nela. Também não lembra como descobriu a escala que começava por volta de 6h da tarde, somente nos dias úteis. Mas sabe que continuava lá pelas 8h da noite, com fechamento entre 11h e meia-noite. Com um super extra esporádico, sem data e horário, algo como um bônus especial.

Na prática, a coisa funcionava assim. A casa onde as moças moravam tinha 2 andares. No andar inferior, só a porta de entrada, que ficava em uma varanda, e uma janela sempre fechada ou escondida pelas plantas do jardim. No segundo andar, um dos quartos tinha uma sacada (uma varandinha) e o outro uma janela. Essa janela era semi encoberta por plantas e galhos de uma árvore do próprio terreno. A casa onde o menino morava tinha 3 andares e ficava totalmente em frente da casa onde as moças moravam. Nenhuma visão do que acontecia dentro da casa das moças era observada nos dois primeiros andares da casa do menino, mas o terceiro andar, um único salão quase dentro do telhado em formato suíço, com uma única janelinha na frente, era um posto de observação avançada.

O menino me contou que jogavam futebol na rua, seis ou oito, dependendo da disponibilidade da molecada. Depois que a escala foi oficializada, todos esperavam ansiosos pelas 6 horas da tarde. Quando a moça A (ele me pediu discrição) apontava no início da rua, a partida acabava, não importa quem estivesse ganhando, e todos subiam para o posto de observação. A moça A, talvez entre 30 e 40 anos, baixa e uns 10 quilos acima do peso ideal chegava no seu quarto, tirava a roupa, e só de calcinha, enrolada na toalha, ia para o banheiro tomar banho. Voltava do mesmo jeito. Tirava a toalha e colocava uma camisola. Diferente das peladas de futebol, quando cada gol só levava ao delírio metade dos moleques em campo, nessa pelada, todos, sem exceção, vibravam com o que viam.

A moça B chegava entre 8 e 9 horas. Às vezes a molecada ainda estava lá, ouvindo música, jogando sinuca, mas sempre com um vigilante na janela. Quando se avistava a moça B, a janela de vidro era fechada (ele imaginava que dava aparência de não ter ninguém por lá) e a luz era apagada. A moça B era mais nova, talvez entre 25 e 30 anos e com no máximo, uns 3 quilos acima do peso ideal. Ela repetia o mesmo roteiro da moça A, algumas vezes variando somente ao colocar um short e blusa ao invés da camisola. É verdade que algumas raras vezes, retirou a calcinha, de costas para a janela. Talvez quisesse provocar os meninos. Eles achavam que tinham dado sorte naquele dia.

Na escala do final da noite, já não havia a companhia da molecada toda, às vezes só um parceiro de uma partidinha de sinuca. Era a vez da moça C, que convenhamos não era mais tão moça, sua idade deveria variar entre 50 e 60. E nem tão interessante era, talvez estivesse uns 20 quilos acima do peso, uma boa parte deles divididos entre os dois seios enormes. Ele, o menino, me confessou que não era atraente a moça C, mas mesmo assim ele era atraído pelo seu corpo nu. Acha que fez parte do aprendizado das formas do corpo feminino.

Finalmente, existia a moça D. Essa, ele acha que sonhou dormindo com sua existência. Só não tem convicção disso porque existem mais duas testemunhas das suas aparições. Ela tinha o corpo perfeito, esculpido, alta. Mas era careca e chegava sempre de peruca. Era escrachada, se despia por completo, ficava à vontade, andava nua de um quarto para outro, ia da janela para a varanda sem nenhum pudor. Só não tinha hora certa. Podia ser antes da moça C ou no meio da madrugada. Era muito louca a moça D.

Durante um bom tempo, meses, talvez um ou no máximo dois anos, eram esses os corpos de mulher mais próximos do menino. A escala sumiu quando o menino enfim, foi introduzido nos mistérios reais do corpo feminino. Eu acredito que isso o tenha ajudado a entender um pouco a natureza física da mulher. No mínimo gerou grande admiração. Só não sei se foi suficiente para temperar suas emoções quando pôde tocar de verdade no corpo de uma mulher, já que isso ele não me contou. Ainda.



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