Cadê a Educação?



Cadê a Educação?Eu lembro do tempo que o Governo Federal fez uma campanha educativa muito forte para nós brasileiros deixarmos de ser tão porcos com o lixo que gerávamos fora de casa. Naquela época, era muito natural ao terminar o maço de cigarros, amassá-lo e jogá-lo no chão. Dentro dos carros não ficava nada que pudesse ser arremessado pelas janelas. Até das janelas de casa, eventualmente, voavam cascas de laranja e até mesmo de melancia. Quem já existia na década de 70, conheceu o personagem Sujismundo. Foi uma tentativa de educar o brasileiro que lixo deve ser jogado no lixo. Eu acho que funcionou, e à partir daquela campanha, criou-se uma consciência de que a sujeira não combinava com educação.

Mas isso era no tempo que campanhas de marketing não serviam para fazer o caixa dois. Hoje gasta-se muito com campanhas inócuas. Veja a recente campanha do Governo Federal que usou o Galinho de Quintino, o Zico do Flamengo, tentando criar uma consciência para o homem cuidar do seu “pinto” e evitar o câncer peniano (vídeo). Se 5% da população masculina resolvesse visitar um urologista nos postos do SUS seria um caos, pois não existem esses médicos especialistas disponíveis no sistema de saúde pública. Talvez por isso tenha sido tão rápida a campanha.

Sexta passada cheguei ao Rio para mais um final de semana na praia e vejo na primeira página do O Globo lá de casa a foto acima, do fotógrafo Hipólito Pereira. O título, “Cadê a Guarda?”, não era uma brincadeira como o já velho, “Onde está Wally?”. Aquelas ruas que se cruzam na fotografia estão localizadas no Leblon, um bairro facilmente adjetivado como: rico, chique, cabeça, transado, moderno, hype, etc. Pode-se ver, bem no canto superior esquerdo, uma luz verde de um sinal de trânsito (semáforo ou farol em paulistês). Ou seja, os carros que “sobem” a foto deveriam ter pista livre para avançarem. Mas os carros que cruzam da esquerda para a direita, apesar do asfalto estar pintado com um quadriculado amarelo, fecharam o cruzamento mesmo com o sinal (farol) vermelho para eles. Dessa forma deram um nó no trânsito.

O que o jornal carioca pergunta é onde está a Guarda Municipal, hoje formalmente responsável por controlar o trânsito da cidade. Mas um desavisado poderia achar que as diferenças de vocabulário regional estão chegando no limite, onde já se viu os cariocas chamarem EDUCAÇÃO de guarda?

P.S. 1) Recentemente um amigo carioca ficou espantado quando ouviu de outro amigo carioca que em São Paulo não se vê carros sobre as calçadas. Ele se virou para mim e questionou se era verdade. Eu falei que por onde ando, realmente não se vê carros sobre as calçadas. Aqui mesmo nessa foto, aparecendo bem acima do táxi amarelo, está um carro estacionado sobre a calçada, diga-se de passagem, bem estreita.

P.S. 2) Gabeira, você vai ter muito trabalho para mudar o Rio, mas eu topo, porque eu também quero um Rio melhor.

Correções: O local da foto é na Lagoa, como corrigiu o Anderson ali em baixo nos comentários. É um local que eu moraria com prazer, pois fica na cara da mais bela paisagem urbana que já vi por todas as cidades que andei no mundo. Foi publicada na capa do jornal O Globo do dia 7 de março de 2008.



Você gostaria de receber as atualizações do Pô, meu! por e-mail? Clique aqui.

8 Comentários

  • Só uma correção básica, essa foto não é do Leblon, é do cruzamernto da Rua Saturnino Brito com Borges de Medeiros na Lagoa, quase em frente ao clube Piraquê. Área tão nobre quanto o Leblon e e com o IPTU igualmente alto.

    Comentário do Pô, meu!
    Caro Anderson,
    Muito obrigado pela correção. Sou um carioca que anda afastado e nem lembra mais onde passou grandes momentos da adolescência (Clube Piraquê). É mesmo uma área nobre e maravilhosa.
    A correção foi feita.
    Abração,
    Nelson

  • Paulo Corrêa disse:

    A reportagem que inspirou o texto foi publicada no dia 06/03/2008 e inspirou, também, a coluna do Arnaldo Bloch, no Segundo Caderno do mesmo Jornal, do dia 08/03/2008, cujo teor é bastante interessante, também. No dia em que li a coluna antes referida, lembrei-me de um episódio que ocorrera na véspera ou ante-véspera da leitura. Estava na rua Mena Barreto, no trânsito pesado de 17 horas, quando me deparei com a seguinte situação: se continuo andando com o carro, corro o risco de “fechar o cruzamento”, impedindo a passagem dos que vinham pela rua Dezenove de Fevereiro. Orgulhei-me de minha educação e civilidade quando percebi que o sinal fechou para mim e, caso não tivesse me mantido onde estava, prejudicaria todos aqueles que estavam na rua Dezenove de Fevereiro e pretendiam cruzar a Mena Barreto. Meu orgulho foi, repentinamente, substituído pela minha perplexidade quando olhei pelo retrovisor e percebi que a motorista do carro que estava imediatamente atrás do meu vociferava, já que não tinha conseguido entrar na rua 19 de Fevereiro, já que eu permanecei parado aguardando os carros que seguiam a minha frente prosseguirem, para que eu também pudesse fazê-lo. Ontem, passando pela Av. Brasil, pude perceber um motorista, talvez fosse o Sujismundo, não pude ver, jogar uma sacola de supermercado não reciclável pela janela do carro, contendo vários objetos inservíveis (L-I-X-O), que, certamente, contribuirão para o alagamento da pista nas próximas fortes chuvas, facilitando a ação dos meliantes do Complexo da Maré, que certamente terão como alvo outros cidadãos que nenhuma responsabilidade têm pelo ato de desrespeito e incivilidade daquele “Sujismundo”. O que me parece é que para isso concorrem dois fatores: a falta de educação (civilidade) e inteligência, levando-me a crer que o problema não é só de falta de informação, já que esta te dá uma visão específica e direcionada, mas também de falta de formação, que te permite ter a visão globalizada que impede atitudes como estas. Viva, pois, São Paulo, com suas calçadas livres de carros e acessíveis exclusivamente a pedestres, ainda que me tenha surpreendido tal revelação. Depois desse “comentário” só me resta despedir-me. Do co-blogueiro e seu irmão Paulo.

    Comentário do Pô, meu!
    Uêba! Arrumei parceiro na blogagem! :-D
    Ainda tenho muita esperança que possamos ver mais amor à cidade no Rio de Janeiro. Você deve se lembrar quando fomos para Nova Iorque em 1974 e a cidade era nojenta. Tomada por pizzarias como os botequins sujos do Rio, drogados, cinemas pornôs e etc. Pois a cidade virou outra. Está deliciosa. Um tesão de cidade. Anda-se pelos pontos nobres em qualquer horário com uma sensação de segurança impressionante. Aqui mesmo em Sampa, a educação veio através do ponto mais sensível do cidadão: o bolso. O Rio vai mudar, tenho certeza!
    beijos,
    Nelson

  • Aqui já houve, sim, carros estacionados sobre as calçadas, que foram coibidos com o poder de multas. Assim como carros fechando o cruzamento. De fato, o que está faltando na foto é a fiscalização.
    Em Brasília, o ex-governador Cristovam Buarque mobilizou boa parte da polícia para multar motoristas que avançassem sobre a faixa de segurança quando houvessem pedestres passando. Foi muito criticado, mas talvez hoje Brasília seja a única cidade do país onde os motoristas realmente respeitam as faixas de segurança.

    Comentário do Pô, meu!
    Enio,
    Pode acreditar, existem muitas pequenas cidades que esse tipo de civilizade é prática corrente. Eu morei há mais de 10 anos atrás em uma pequena cidade do Vale do Paraíba Fluminense. Era tão pequena que quase não havia trânsito e sinal (farol em paulistês) então, nem existia. Mas havia uma cidade vizinha, um pouco maior, que tinha alguns semáforos. Mas em outros pontos da cidade, bastava uma faixa de pedestres para que os motoristas respeitassem os pedestres que queriam atravessar a avenida.
    Isso é educação. E educação só vem por dois caminhos: 1) treinamento/repetição (propaganda oficial) e 2) dor no bolso (multas)
    Abraços,
    Nelson

  • Carol Costa disse:

    O que mais me espanta no Rio é o talento para estacionar em fila dupla. Nunca vi nada parecido em lugar nenhum. Quando me falaram, achei que é trote… Tive que ver com os próprios olhos para acreditar que sim, as pessoas aí acham normal ter de empurrar os carros da frente para pegar o seu.

    Comentário do Pô, meu!
    Carol,
    Tem muita coisa que o carioca ainda acha normal, além da esplêndida natureza que Deus lhe deu. Mas essas coisas eu até entendo, isso é hábito. Tá certo que precisa ser modificado, mas é hábito.
    Quer ver uma coisa? Aqui em Sampa, os motoristas têm o hábito de não agradecer quando você deixa eles entrarem na sua frente saindo de uma rua secundária ou mesmo de uma garagem de prédio. Os motoristas de Sampa, que não têm mais o hábito de estacionarem nas calçadas (pelo menos por onde ando aqui) mas também não gostam de colocar seta para mudar de faixa. Preferem que você dê uma bobeada e entram abruptamente na sua frente. Não são práticas das mais educadas, mas a gente tenta entender que estamos todos, cariocas, paulistas, brasileiros, uns mais, outros menos, em um processo evolutivo de civilidade. Vamos cobrar e reclamar para poder acelerar isso. ;-)
    Abraços e sucesso,
    Nelson

  • Carol Costa disse:

    Pois é, São Paulo não é lá muito exemplo de civilidade no trânsito, não. Aliás, nem seria possível, com todos os recordes que batemos de congestionamento…

    Comentário do Pô, meu!
    É sim Carol!
    Apesar da loucura de tantos carros nas ruas, o paulistano respeita o cruzamento, respeita o acostamento, e talvez seja um dos motoristas que mais respeitem as regras de trânsito, principalmente se olharmos pelo prisma da gigante megalópole.
    Mas ele não é gentil. Ele é frio. Ele não sabe dizer obrigado. Mas aí deve ser por conta da falta do biquini junto com ele no ônibus. :-D
    Abraços,
    Nelson

  • Carol Costa disse:

    Ah, Nelson, sacanagem… Precisa humilhar com essa história de biquini?
    Biquini, aqui, nem pra tomar sol na laje!

    Snif…

    Comentário do Pô, meu!
    Carol,
    Eu adoro Sampa e também os paulistanos.
    Mas sou da tese “perco o amigo mas não perco a piada” (talvez minha característica carioca mais arraigada) e vivo sacaneando meus amigos daqui com duas coisas: 1) o biquini no ônibus, eles nunca terão e, 2) que Sampa é a maior cidade do interior do Brasil (litoral é Santos, Ubatuba, etc…) :-D
    Não chore, é só sair do interior e ir para o litoral. Faço isso todo final de semana.
    Abração,
    Nelson

  • Carol Costa disse:

    Ah, claro, suuuuper fácil pegar estrada todo final de semana para merecer duas horinhas de sol. Fora que eu vou perder o shopping de sexta à noite, um clássico na vida paulitânica.

    Se amanhã fizer calor, vou tomar um banho de sol na laje só de despeito!
    Hunft!

    Comentário do Pô, meu!
    Amanhã vou prá praia, afinal essa semana terei mais um dia. Não nego que morro de saudades de Sampa, mas ir pro shopping não faz a minha cabeça. Prefiro dar uma caminhada ali na beira da enseada de Botafogo e no Aterro do Flamengo (o Ibirapuera com praia do carioca). :-)
    Aproveite sua laje!
    Ah… leva uma caipirinha e um balde d’água. Na boa. ;-)

  • Aline disse:

    Coomoo vcs saoo bestaass Idiiotas
    Otariioos
    LULA
    te odeio

    Comentário do Pô, meu!
    Ô Aline, quanto ódio nesse coraçãozinho. Eu também não gosto do Lula, mas ódio faz mal pro seu carma. Tenta umas caipirinhas, uns beijos na boca, uma praia ou a lareira na serra fria. Te garanto que você vai se sentir melhor.
    Volte sempre.
    Abraços e sucesso,
    Nelson

Deixe uma resposta