Twitter, sociologia de botequim


Imagem: Tio William Bonner do TwitterEra o início da madrugada do dia 13 de outubro de 2007 quando recebi um convite para entrar no Twitter do Edney (@interney), blogueiro-referência, gente muito boa e uma das pessoas mais bacanas que conheci na blogosfera. Fui lá no site do Twitter, avaliei, não vi como aquilo poderia ser interessante, mas entrei e coloquei meu sentimento do momento na minha descrição: “Sou um aventureiro da informação, apaixonado pela palavra e louco pelo diálogo. Só não sei ainda aonde tudo isso vai dar.”

Naquele tempo, o Twitter só era frequentado pelos iniciados. Tudo era novidade. A gente estava aprendendo como tirar proveito daquela tecnologia, como fazer aquilo ficar proveitoso sem que tivéssemos de ler toda hora: “vou tomar banho”, “estou no MSN e meu chefe pensa que estou trabalhando”, “dei um peito horroroso”. O pessoal foi arrumando jeito de transformar o Twitter em uma bela ferramenta de comunicação. Lembro quando o Inagaki (@inagaki) chegou e falou: “Vou reduzir a quantidade de pessoas que eu sigo para 200, pois é impossível acompanhar mais que isso”. Eu não reclamei, pois estava no grupo dos 200 do Inagaki.

Um ano depois, o Edney mostrava que ele era “The one” na blogosfera e estourava a marca de mais de 20.000 pessoas que acompanhavam suas tuitadas. Mas aí chegamos em 2009. E veio a grande mídia. O Fantástico fez reportagem mostrando a “novidade”. De início vieram os famosos. Num instante, pulverizaram os números “estratosféricos” do Edney. E eles davam brindes quando atingiam determinados números de seguidores. E como pombos na praça quando jogam migalhas de pão, vieram em bandos, os fãs dos famosos. Na sequência vieram políticos e, quase junto, os jornalistas não iniciados. Entremeados nessas ondas, apareceram os carentes de espírito que usavam técnicas automatizadas para ganhar mais seguidores e se parecer um pouco mais com os famosos.

É verdade que esses novos usuários não iniciados, principalmente famosos, não estavam acostumados com a comunicação em via dupla. Normalmente eles emitiam o sinal de comunicação e os outros em geral, os não famosos, só recebiam o sinal. Ou seja, um só falava e o outro só ouvia. Só que o Twitter é como se a pessoa fosse para a rua, vai falar mas também vai ouvir. Talvez o primeiro caso famoso de rejeição por falta de prática na comunicação nos dois sentidos, foi protagonizado pela Xuxa. Perfeitamente sintetizado pelo jornalista Mauricio Stycer (@mauriciostycer) no artigo A desastrada aventura de Xuxa pelo Twitter.

Os políticos são um caso à parte. O senador Aloizio Mercadante (@mercadante), por exemplo, no Twitter desde março de 2009, usa o Twitter como se estivesse fazendo o programa de propaganda política gratuita: só ele fala. Até a publicação deste post, ele tinha tuitado 566 vezes, nunca retuitou ninguém (reenviar uma mensagem recebida de outro usuário do Twitter) e só respondeu aos seus seguidores 10 vezes (1,77% dos seus tuítes). Nenhum deles recebeu mais de uma mensagem do senador. Pelo horário das tuitadas, dos dias da semana que tuíta, pelo uso quase total da interface web, sou capaz de apostar que quem tuíta em nome do senador é um assessor. Eu, pessoalmente, já fiz inúmeras perguntas a ele e nunca recebi uma resposta. Estatísticas do Twitter do Mercadante

Já o senador Cristovam Buarque (@Sen_Cristovam), no Twitter desde fevereiro de 2009, que no início não tinha muita intimidade com a tecnologia, foi aprendendo aos poucos e, hoje, apesar de não retuitar ninguém, 12% dos seus tuítes são respostas aos seus seguidores. Nunca consegui uma resposta do senador Cristovam, mas vejo que ele ultimamemte tem respondido a muitas pessoas. Ele deve ser o responsável pelas tuitadas, pois mais de 60% delas saem de um celular (provavelmente o dele), e tuíta de segunda a domingo. Estatísticas do Twitter do Cristovam

O jornalista, craque de mídias, Marcelo Tas (@marcelotas) faz retuíte em 1/3 das suas tuitadas. Além disso, quase 15% são respostas aos seus seguidores. Estatísticas do Twitter do Tas. E o grande furor no uso da tecnologia atualmente, o extra-famoso, William Bonner (@realwbonner), no Twitter há apenas 3 meses e com quase 200 mil seguidores fãs, usa quase 20% de suas tuitadas para responder seus seguidores e outros quase 20% para retuitar mensagens recebidas. Sou capaz de apostar que Bonner receba mais de 10.000 mensagens por semana, o que torna esses números extraordinários. Ele tem dado um show de relacionamento com a comunidade tuiteira. Estatísticas do Twitter do Bonner

Uma excelente referência para quem quer entender melhor esse mundo, principalmente para políticos, já que ano que vem teremos eleições, é o livro “Tudo o que você precisa saber sobre o Twitter” de Juliano Spyer (@jasper), Luiz Alberto Ferla (@ferla), Moriael Paiva (@moriael) e Fabíola Amorim (@bilaamorim) (download grátis), lá, recolhi algumas definições sobre o Twitter que eles fazem antes de entrar fundo no tema, vejam só:
– O Twitter é para o mundo o que a praça é para uma cidadezinha
– É um confessionário em praça pública
– É a melhor forma de liberdade de expressão. Você fala, quem quer ouvir escuta e compartilha. Quem não quer não ouve e não censura
– O Twitter transforma famoso em amador e amador em famoso
– O Twitter é como pátio de hospício, cada um falando “sozinho”, eventualmente alguém responde

Pois nesse hospício que tende a nivelar todo mundo, ainda é possível ler a bronca da jornalista Bárbara Gancia (@barbaragancia) que reclamou: – Um “analista político” c/ 23 followers vem dizer q meu amor p/ Serra está me cegando! Só rindo! Os caras fazem qq coisa p/ chamar atenção…(aqui) Como se fizesse alguma diferença ter muitos ou poucos “followers” (seguidores). Como se isso fosse um sinal de melhor ou pior qualquer coisa.

Hoje mesmo, assistindo à transmissão do Grande Prêmio de Fórmula-1, tuitei sobre um comentário do excelente comentarista da Globo e ex-piloto de F1, Luciano Burti. Acredito que ele tenha ficado muito aborrecido, pois ganhei dele meu primeiro block no Twitter. Ou seja, ele faz questão de não “ouvir” mais nada que eu “falo” sobre ele e com ele por lá e, não quer que eu “ouça” mais nada que ele fale. Só porque eu disse: – Depois dessa de fechar os dois olhos no túnel de Mônaco, pensei até em dar unfollow no @LucianoBurti (aqui)

Na verdade, ninguém está completamente certo ou errado. Como o Twitter é um confessionário na praça central do hospício, tá valendo tudo, desde que todos possam se comunicar. Obviamente, uns obterão resultados mais proveitosos dessa experiência do que outros. O segredo é se libertar de ideias pré-concebidas, vide o tio Bonner no seu helicóptero virtual (aqui1, aqui2, aqui3, aqui4 e aqui5.

Boa viagem!



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