Blog Action Day: a corrupção alimenta a pobreza


Blog Action Day 2008 - PovertyQuando eu era moleque na escola primária, eu sempre fiquei com a pulga atrás da orelha com a forma com que os traficantes de escravos mantinham sua atividade comercial sem baixas ou sem dificuldade alguma para chegar na África, recolher os habitantes negros e trazê-los para o Brasil, fazendo-os escravos. Nunca ouvi de professor algum como também nunca li em livros de História que essa captura dependia de incursões no território africano em lutas sangrentas, com baixas entre os traficantes brancos. Bem mais tarde, aprendi que os traficantes europeus brancos, só faziam o tráfico, a parte logística da distribuição e da comercialização final. A captura, em lutas sangrentas, onde muitos perdedores lutavam corajosamente, provocando perdas humanas de lado a lado, era feita por grupos africanos, negros também, que vendiam seus conterrâneos para os traficantes europeus brancos.

Na minha juventude de ensino médio e faculdade, fui um dos zilhões de jovens desse paí­s que debitou na conta do capitalismo selvagem a pobreza no mundo, e principalmente, aqui no nordeste brasileiro. Crianças morrendo de inanição e os canalhas imperialistas queimando tabaco do terceiro mundo na forma de grossos charutos. Revoltante! Mais tarde um pouco, aprendi que desde o tempo do império se faziam campanhas e se enviava dinheiro para o nordeste sair da pobreza e resolver o problema da seca. Poxa, Israel planta no meio do deserto, por que no nordeste é aquela miséria? Descobri que o dinheiro vai, mas corruptos, principalmente políticos, consomem o que deveria ser distribuí­do ou usado para melhorar o ní­vel de vida dessas pessoas.

Hoje, com equilíbrio, posso analisar por exemplo, os dados sobre percepção de corrupção no mundo, coletados e tabulados pela ONG Transparência Internacional. Na lista dos países menos corruptos, estão algumas nações onde a fome só existe em regimes de emagrecimento, os 10 melhores são: Dinamarca, Nova Zelândia, Suécia, Cingapura, Finlândia, Suíça, Islândia, Holanda, Australia e Canadá. No outro lado da tabela, os dez mais corruptos seriam: Somalia, Mianmar, Iraque, Haiti, Afeganistão, Sudão, Guiné, Chad, Guiné Equatorial e Congo. Pare e compare os dois grupos.

Não, por favor não se antecipe vislumbrando a possibilidade que eu queira, neste artigo, eximir de culpa políticas excludentes, corruptores do primeiro mundo, imperialistas e a história desses 20 países listados acima. Deixe eu concluir.

Qualquer especialista em gestão sabe, está careca de saber, que se não identificamos o problema com precisão, possivelmente nunca acharemos a solução. Se continuarmos a bater na tecla da opressão dos pobres pelos ricos, os coitados dos pobres, continuarão a sofrer a pior das experiências que um ser humano pode experimentar: a pobreza.

Vamos pensar globalmente, mas vamos agir localmente. O que podemos fazer para reduzirmos, excluirmos a pobreza da nossa cidade, do nosso estado, enfim, do nosso país. É nossa obrigação, dever e sentimento humanitário para cada uma das mães desse país que perderam seus pequenos filhos por inanição, por diarréia, por falta de atendimento médico, por não existir saneamento básico, pela ausência de educação, não nos desviarmos um milímetro, na cobrança e nas nossas atitudes referentes à busca de transparência total na governança pública.

Independente da ideologia política, posição ou partido, qualquer deslize com o dinheiro público precisa ser fortemente rechaçado. É inaceitável que em um país como o nosso, ainda exista tanta roubalheira com total impunidade. A fome só será resolvida, onde houver justiça (punição) para reprimir a corrupção. E a corrupção só será combatida com eficácia, se houver transparência na gestão pública. Chega de alimentarmos a pobreza com a corrupção.

Pense nisso antes de assinar a doação para uma ONG construir uma cisterna no semi-árido nordestino, e se sentir leve e com o dever cumprido para com os pobres e necessitados.

Esse post faz parte da campanha Blog Action Day 2008, cujo tema é pobreza. A idéia do Blog Action Day é juntar o máximo possível de blogs, este ano foram 12.251 sites participantes, para atingir o maior número possível de leitores, este ano estima-se que 12.148.025 assinantes desses blogs participantes em todo o mundo, lerão hoje, sobre o tema “pobreza”. Além disso, existem campanhas de doações. Visite o site do Blog Action Day em português e leia mais sobre essa ação global.



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3 Comentários

  • Nine disse:

    OI nelson!sou a favor do agir localmente para transformaçao do global.Concordo com tudo que voce disse ,so gostaria de assinalar que se ocupar de pessoas, deveria a meu ver ,ser mais importante do que com animais ,plantas o que for.Prefiro ajudar a minha propria espécie em primeiro lugar!abs

    Comentário do Pô, meu!
    Oi Nine,
    Concordo contigo.
    Você viu a dinheirama gasta para salvar aqueles pingüins que se bandearam para o nordeste brasileiro? Quantas crianças poderiam ser alimentadas com a grana gasta para mandá-los de volta para o sul do continente? Brincadeira!
    :-(
    Abraços,
    Nelson

  • andre fucs disse:

    Nelson,

    Apenas para corrigir: Afirmar que Israel planta no deserto é insistir em uma tecla que não é absolutamente verdadeira. Uma parte razoável do território israelense encontra-se em uma região conhecida como o “Crescente fértil”, onde, muitos acreditam, teria surgido boa parte das técnicas de agricultura que viriam a ser utilizadas pela humanidade.

    Comentário do Pô, meu!
    Oi André!
    Seja muito bem vindo!
    :-D
    Vamos lá, eu sempre pensei que alguma parte do território israelense fosse deserto. Nunca pensei que fosse todo o território. Me baseei no vídeo abaixo, uma reportagem do The New York Times.
    Quanto a terem criado técnicas que depois foram usadas por toda humanidade, isso é indiscutível meu amigo. Ali naquela região foi o burburinho do mundo em determinada época da humanidade.
    ;-)
    Mas me confirme então se Israel não controla e domina técnicas de agricultura em regiões de deserto.
    Abração,
    Nelson

  • andre fucs disse:

    Nelson,

    Mais de 50% do território israelense é considerado desértico, desses apenas uma pequena fração é cultivada. Há avanços no uso de regiões desérticas mas em geral a água é bombeada para essas regiões e o plantio feito dentro de condições razoavelmente controladas. Não é milagre e não é invenção Israelense. O que os Israelenses inventaram é a versão moderna da drip irrigation

    Eu assisti à reportagem e é um tanto tacanha, deixando margem para interpretação de que Golan possui condições de cultivo semelhantes ao Negev.

    Veja um e veja o outro e você rapidamente entende que são totalmente distintos.

    Banias Waterfall aos pés das colinas de Golan

    Sde Boker, quase que no meio do Negev

    Como disse, o grosso do cultivo agrícola em Israel é feito em regiões próximas à água, sendo elas o Vale do Rio Jordão, Vale do Hula, Negev Ocidental e algumas outras mais.

    Curiosamente o uso de cisternas para coletar água da chuva e plantar no deserto é uma técnica usada há centenas de anos, sendo que em ruínas como as da cidade de Avdat é possível ver algumas delas com uma bela centenas de anos “nas costas”.

    Eu entendo onde você quer chegar com a sua afirmação e ela de fato faz total sentido, especialmente porque assim como em Israel, boa parte do nordeste brasileiro é semi-árido e a produção em caso de irrigação seria capaz de produzir milagres sociais naquela região. Esse é justamente um dos objetivos da transposição do Rio São Francisco, porém, parece que no Brasil o povo gosta é de ir ao cinema para ver nordestino sofrer… com salas cheias não me espante que muitos artistas sejam contra a obra. :-)

    Comentário do Pô, meu!
    Valeu pela aula André.
    Legal que você entendeu o que quis dizer. Apesar de termos o hábito de sermos ufanistas em tudo, a corrupção de políticos não “é coisa nossa”! Veja que o ex-premier israelense está sendo investigado e teve que deixar o conselho de ministros por conta de corrupção.
    A diferença, pô, é que aqui ninguém nunca é punido de nada.
    E o sofrido povo nordestino vai sempre entubando a desgraça da seca e de sua filha mais velha, a fome.
    Abração,
    Nelson

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