Triste história da descoberta da arte por um menino pobre



Imagem: Tela de Leandro Vieira

Tela de Leandro Vieira

No sábado passado (06/11/2010) policiais civis prenderam apreenderam (o ECA, Estatuto da Criança e do Adolescente proíbe prender menores, eles devem ser apreendidos) um rapaz de 16 anos (só não votou para presidente no mês passado se não quis) que era acusado de furto ao ateliê de um muralista (não confundir com a classificação política de ficar em cima do muro ou com a Marina Silva – também não é pintor de muros ou paredes, mas sim o artista que usa um muro para criar a sua arte [pintura]) no bairro carioca de Copacabana.

O ladrãozinho jovem fora da lei é ex-funcionário de um sócio do muralista no ateliê, e, antes dessa ação criminosa, ele roubou a chave que abria o ateliê. Sabe como é, ele estava namorando um forno de micro-ondas que o pessoal usava para esquentar comidas e fazer chá durante o expediente. E agora, como a favela estava pacificada, ele até poderia levar o aparelho para sua casa sem medo dele ser roubado pelos ladrões que foram expulsos do morro.

Fora isso, ele ouvia as conversas nos botequins e ruas, via na tv e nas capas de jornais na banca da esquina da Tonelero com Siqueira Campos que o importante era o objetivo final. O desejo. O chefe do país não dava bola para justiça, e mais o que pessoal reclamava, principalmente para uma tal de ética, que ele não sabia o que era e nem estava preocupado com o que pudesse ser. Por que ele não poderia seguir esse exemplo e ter o que ele queria, o micro-ondas do seu desejo?

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Na noite ou madrugada de quarta-feira, antes de ser apreendido, o aluno da nova ética nacional foi buscar seu objeto de desejo. Pegou a chave roubada e, furtivamente, entrou no ateliê. Só que sozinho, sem o pudor de se sentir olhado e controlado pelos olhos dos que trabalham naquele ambiente, um outro objeto lhe chamou a atenção: uma tela, uma pintura, que retratava um homem com atitude sóbria, sentado em frente a lareira com um cachorro de pelos longos deitado sobre as patas.

O pequeno meliante, agora um jovem iniciante dos prazeres da arte, não teve dúvida, no lugar de levar o micro-ondas, levou a tela. Sem medo de ser feliz (justiça, para que serve justiça?), ele pendurou o quadro na parede do seu quartinho lá da favela pacificada. A polícia não perdoou e acabou com o encantamento do garoto. Devolveu a tela avaliada em R$ 6.000 (particularmente acho muito… ok, pensando em homem/hora deve valer) ao dono e enviou o pequeno aprendiz (da arte do ilegal) às instituições que cuidarão do seu futuro (cuidarão mesmo?).



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1 Comentário

  • chantinon disse:

    Eu já tinha lido pelo e-mail/rss.
    E tô numa fase muito militar, ai preferi não cuspir fogo aqui :D

    Mesmo morrendo de raiva muitas vezes pelo nosso jeitinho brasileiro de ser, o sucesso de Tropa de Elite 2, e os aplausos do cinema lotado (semanas e semanas com todos os cinemas abarrotados) me fazem acreditar que a grande maioria sonha com ordem.

    Pena que na vida real, até um capitão Nascimento se corromperia pelo poder ou para se manter vivo. Em tempos de mundo globalizado, temos que nos espelhar em figuras como Nelson Mandela e Obama, e sair “comendo pelas beiras”.

    Se os matemáticos financeiros, e os investigadores jornalísticos estiverem certos, Dilma não fica nem 2 anos no trono.

    Sobre o Twitter… Você tem que começar a usar o Google Buzz.

    Ah… traçando um paralelo com o rapaz do caso…

    Eu freqüento festas de ricos e de pobres. Venho notando que os abastados estão diminuindo as drogas. Já os pobres e com menos acesso a educação, a cada dia se destroem mais.

    Existem cidades com 80 mil habitantes que 30% da população é viciada em crack e cocaína. Não estou falando de uma ou duas cidades. Se eu falar minha fonte de informação… Deixa pra lá.

    Só vou dizer que tem governador que é viciado em pó.

    É perverso o que está acontecendo nas cidades pequenas. E quando a PM cria um grupo de elite que “elimina” o problema, os advogados, juízes e procuradores acabam com a mini tropa de elite.

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