Michael is behind you
- Por Nelson Correa
- 22 outubro, 2006
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Era a segunda vez na mesma corrida que Fisichella via surgir do nada o borrão vermelho no seu retrovisor. Momentos antes, seu engenheiro passou a mensagem por rádio, que nós tivemos a oportunidade de ouvir ao vivo e chiado: Michael is behind you.
Fisichella deve ter pensado que aquela poderia ser a última vez que a frase tão assustadora entraria cortante e ameaçadora por seus ouvidos. E foi. Ele não resistiu à pressão do alemão, que hoje brincou na pista, sem a responsabilidade de fazer nenhum resultado, era a festa de despedida. Fisichella deixou para frear tarde demais, como se isso pudesse impedir que Schumacher passasse do jeito que quisesse. Sobrou para Fisichella a grama e a perda da pontuação na corrida.
Michael is behind you, em uma tradução com toda a liberdade poética possível, poderia ser: Cara, já era. O alemão tá chegando em você. Isso não era tão comum assim, afinal o recorde de poles é e ainda será dele por muito tempo. Ou seja, o normal eram todos saírem atrás dele. Esse e praticamente todos os outros recordes da Fórmula 1 foram pulverizados por esse gênio do automobilismo.
Algumas pessoas tentam justificar que esse “passeio” só aconteceu porque ele não teve adversários. Esse argumento não se sustenta, afinal foram 15 anos, uma década e meia, de total domínio. Vários foram os excelentes pilotos que Schumacher se cansou de ver no seu espelho retrovisor. Azar o deles terem sido contemporâneos do maior de todos os tempos (é duro constatar isso).
Poderíamos buscar algumas dezenas de situações de corrida, ao longo da carreira de Schumacher, em que ele comprovou estar bem além dos demais, em verdadeiras aulas de pilotagem. É claro, existe também no passado, histórias tristes (aqui).
Mas nem foi necessário. Hoje, em uma única corrida, o Grande Prêmio do Brasil de 2006, Schumacher mostrou para quem quisesse aprender o que ele é capaz de fazer em uma pista de corridas, com um carro a quase 300km/h. Saiu em décimo por conta de problemas na classificação. Largou arrojadamente, sem tocar e nem “espanar” ninguém, pulando já com duas posições na frente, depois do “S” do Senna. Passou o Fisichella e teve seu pneu traseiro furado pelo bico do carro do italiano, sem culpa desse.
Voltou para o box se arrastando, trocou pneus, encheu o tanque e, de volta à corrida, estava em último. Um a um, Schumacher foi ultrapassando todos e passando para o pelotão da frente. Voltou a encostar em Fisichella e o resultado está ali em cima. O próximo e último “João” do alemão foi o Raikkonen, que vai sentar no banco dele ano que vem. E ele deu uma aula de arrojo e competência. Não ouvimos pelo rádio, mas é bem provável que o engenheiro do finlandês tenha falado com ele: Michael is behind you.
Foi uma bela festa. Para nós foi ótimo ganhar na festa de despedida do alemão. Afinal, ele ganhou na despedida sem festa do nosso maior de todos os tempos: Senna. Podem acreditar que no pódio de hoje estavam três (Massa-Alonso-Buton), dos quatro (mais o Raikkonen) melhores pilotos da atualidade (à partir de amanhã). Torço pelo Felipe Massa, mas na minha opinião, hoje, o melhor dos quatro é Jason Buton.
Mas vejo luz no fim do nosso túnel de abstinência de títulos na Fórmula 1. Estatisticamente, 100% dos brasileiros que ganharam nossos oito títulos mundiais, tinham seus nomes terminados em ON: Emerson, Nelson e Ayrton. Daqui a dois anos, veremos mais um ON nas pistas: o filho de Piquet, Nelson também. Além disso, torço para que a ordem das letras não seja determinante, pois um novo Senna (por parentesco por enquanto) também vai entrar na festa, é Bruno.
Agora para a minha tristeza, entramos no período mais enfadonho para os amantes da Fórmula 1. Corrida novamente, só ano que vem. E essa espera parece uma eternidade. Principalmente porque a curiosidade de como será a Fórmula 1 depois da era Schumacher é imensa. Aliás, pensando no título deste post, gostaria de sugerir para os homens que comandam a Fórmula 1, contratar Schumacher para largar sempre na última posição. Seria uma emoção só, ouvir os engenheiros no rádio para quase todos os demais pilotos: Michael is behind you.
P.S. Na verdade a mensagem do engenheiro foi para o Barrichelo, mas como também poderia ter acontecido com o Fisichella, e para respeitar uma carreira honesta do Rubinho, me permiti essa ficção. ;-)
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