Sentado na perna direita

• Por Nelson Correa
• 13 dezembro, 2006
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Independente de Allende ter sido um dos únicos políticos socialistas latino americanos com alguma vocação democrática, ou de ter ou não fechado o jornal El Mercurio quando era presidente, ele foi um marco na história política da América Latina.

Nem é muito importante agora discutir se o modelo socialista adotado por Allende estava levando o Chile ao caos econômico. Muito menos se foi virtude de Pinochet buscar na escola econômica de Chicago comandada por Friedman, a receita para o choque liberal que mudou uma economia que estava baseada em um estado que detinha 80% da produção do PIB.

Allende lutou política e democraticamente por muitos anos para ser o presidente do Chile. Pinochet tomou na força militar essa presidência e esteve à frente do governo por muitos anos. Não é difícil imaginar onde estaria o Chile hoje, se Allende não tivesse sido retirado à força do comando. O muro de Berlin caiu, e com ele, o véu que pôde mostrar ao mundo o fracasso dos países socialistas. O Chile estaria certamente no mesmo barco.

O Chile deu partida com Pinochet, em um modelo econômico que destoa do resto da América Latina, mostrando que mesmo nessa região, só menos atrasada que a África, é possível estar próximo dos países do primeiro mundo.

Hoje, nada disso é muito importante. A história fará justiça e julgará o resultado dos modelos defendidos por Allende e Pinochet. Mas não precisaremos esperar o julgamento da história para o homem que morreu dias atrás: Augusto Pinochet, com relação às barbáries cometidas contra opositores no Chile de 1976 até 1990.

Certamente, haverá um colo, com a perna direita livre, numa das sucursais do inferno, destinada aos ditadores facínoras. O diabão responsável por essa repartição já deve estar com Augusto no seu colo. Provavelmente, esperando ansioso mais algumas semanas, para colocar junto desse, sobre a perna esquerda, outro ditador facínora dessa mesma sofrida América Latina: o barbudo do Caribe.

O que eu, pessoalmente quero ver, é como a diplomacia brasileira vai tratar quando o da perna esquerda for chamado para sua prestação de contas. Será que o classificarão também como um dos representantes do período de trevas que viveu a América Latina? Ou será que o Itamarati considera que existem ditadores sangüinários bons e ditadores sangüinários ruins?