Enfim a revolução, mudaram-se as moscas
- Por Nelson Correa
- 18 novembro, 2007
- 7 Comentários
No início de 1977, a banda inglesa de rock progressivo, Pink Floyd, lançou o premiado (4 discos de platina) álbum Animals, que conta nas 3 músicas (5 faixas), a história de 3 animais: os porcos, os cachorros e as ovelhas. Esses animais são uma representação metafórica do ser humano. Isso está te lembrando um best seller famoso de George Orwell? Não é oficial, mas Roger Waters, o líder do Pink Floyd, certamente usou o romance A Revolução dos Bichos (Animals Farm) do George Orwell, como inspiração.
“Inocentemente passando seu tempo no pasto
Vagamente atento a um certo desconforto no ar
É melhor você tomar cuidado
Pode haver cães por perto
Eu examinei o (rio) Jordão e vi
Que as coisas não são o que parecem ser.”
(estrofe da música Ovelha, álbum Animals, Pink Floyd)
“Uma elite de 74 mil servidores federais desfruta de mordomias como auxílio moradia de R$ 3 mil, carro de luxo, TV de LCD, celular com gasto ilimitado, apartamentos com banheira de hidromassagem e enxoval renovado a cada dois anos, informa JOSÉ CASADO.” (capa do jornal O Globo de hoje).
A idéia central do grupo inglês era falar do comportamente humano, fazendo um paralelo com o perfil dos animais mostrado na história A Revolução dos Bichos. Os cachorros representam a megalomania do capitalismo selvagem. Aqueles que não medem esforços para possuir e manter o poder financeiro a qualquer preço. Os porcos são os políticos e demais formadores de opinião, que são na verdade os condutores do caminho a ser seguido, só se importando com suas próprias necessidades básicas e imediatas. O mais importante é a vaidade de ter o poder. E as ovelhas… bem as ovelhas, são ovelhas, seguem seus pastores cegamente.
“O senhor é meu pastor, e nada me faltará
Deitar me faz
Por verdes pastos
Guia-me mansamente a águas tranqüilas
Com uma faca afiada, ele liberta minha alma
Ele me pendura em lugares altos
Ele me converte a costeletas de carneiro.”
(estrofe da música Ovelha, álbum Animals, Pink Floyd)
“Sem controle, as mordomias se alastram pelos três poderes, e o padrão de luxo é copiado pelos escalões inferiores, como mostra a série de reportagens iniciada pelo GLOBO hoje. Os privilégios, que eram vetados até o fim dos anos 50, surgiram como incentivo à mudança para Brasília, mas, em 1975, o governo Geisel restringiu o uso de carros oficiais aos seus ministros. Hoje, a elite do funcionalismo ganha 24,5 vezes a renda média do brasileiro e é mais bem paga que a cúpula burocrática dos Estados Unidos.” (matéria em 6 páginas no O Globo de hoje)
“O que você ganha fingindo que o perigo não é real?
Submisso e obediente você segue o líder
Descendo os corredores em direção ao vale do aço
Oh que surpresa!
Um olhar de choque terminal em seus olhos
Agora realmente as coisas são o que parecem ser
Não, este não é nenhum pesadelo.”
(estrofe da música Ovelha, álbum Animals, Pink Floyd)
“Em abril de 2003, Nosso Guia (N.E. Lula) animou uma festa no Palácio do Planalto. Anunciou uma parceria com a Federação Brasileira dos Bancos, Febraban, para a construção de um milhão de cisternas no semiárido nordestino: “Acho que vamos conseguir este um milhão de cisternas muito antes do que vocês estão esperando”. Passaram-se mais de quatro anos, e a repórter Carolina Mandl revelou que as cisternas construídas foram 220 mil (22%). Lula e a Febraban deveriam organizar uma nova festa, comemorativa da quebra, com folga, da marca dos R$ 40 bilhões de lucro pela banca. Segundo a empresa Austin Ratings, quando Nosso Guia chegou ao Planalto o lucro dos bancos fechara o ano em R$ 25 bilhões. Essa foi a parceria que deu certo. Encher o cofre do andar de cima é mais fácil do que construir cisternas no andar de baixo.” (Elio Gaspari, O Globo de hoje)
Porcos e Cães sempre se atraíram. Estão juntos na Ásia, na África e na América. Estiveram juntos no passado e vão estar juntos no futuro. Um sempre alimentou o outro. Um sempre dependeu do outro. Qual a novidade disso? Não é essa a novidade. A novidade é ver estarrecido (será?), quem sempre tentou separá-los, estar agora calado e aceitando os novos Porcos chafurdando libidinosa e promiscuamente com os velhos Cães. Acho que descobri o significado de ovelha negra. Acho que sou ovelha negra. Ovelhas negras pensam.
Nelson,
Que texto fantástico!
Infelizmente a cada dia vejo o quanto o Orwell foi um visionário.
Ele apontou como seria o futuro, e pelo jeito, estamos em 1984.
Ou uma mistura de 1984 com Laranja Mecânica.
Por coincidência, escrevi sobre esse mesmo tema, só não postei ainda.
Ah! continue sendo ovelha negra!
abraços
Comentário do Pô, meu!
Chantinon,
Valeu demais pelo fantástico. :-D
A realidade cansa de ser antecipada pela ficção, a gente é que não dá muita importância. Pior ainda, é quando a própria história se repete porque a gente não aprendeu a prevenir os erros.
Fui no Caos Urbanus e adorei, virou recomendação do meu blogroll. ;-)
Abraços e sucesso,
Nelson
Não tem muito o que dizer. Apenas elogiar a qualidade do seu texto, e lamentar os fatos que o post retrata…
Comentário do Pô, meu!
Obrigado caríssimo Enio. Você é um dos quais meus netos terão que agradecer por eu continuar escrevendo. :-D
Abração,
Nelson
Nelson
Acho que esse “pit stop” que você fez nos seus posts, deixou um gostinho de quero mais nos seus leitores e fãs (euzinha) e o texto está primoroso.
Um dia escrevo assim!
Parabénssssssss, geekman!
Comentário do Pô, meu!
Sandra,
Muito obrigado pela massagem no ego.
talvez o que você e outros leitores do Pô, meu! gostem é que o que sai escrito é de prazer e não de obrigação.
Abração,
Nelson
Meu irmão mais velho é um talento (que se acha a cada post). Triste é verificar que esse lindo texto retrata o Brasil de hoje, em que tanto confiávamos. As despesas corporativas dos cartões da Presidência já ultrapassaram a marca dos 4 bi, despesas que não são, sequer, esclarecidas, a pretexto de se garantir a segurança, que certamente não é a nossa, que estamos cada dia mais inseguros do que nos ocorrerá adiante. “Os cães ladram e a caravana passa…”
Comentário do Pô, meu!
Meu irmão mais novo é um amor (com esse elogio público). :-D
Mesmo triste, mesmo doendo, repetir e repetir e repetir, quem sabe faz eco e mais gente se preocupa em ajudar a acabar com a roubalheira pública? Quem sabe? Eu não desisto de gritar!
beijos,
Nelson
Nelson,
você me fez querer desenterrar esse vinil do Pink Floyd. Sorte que o meu toca-discos ainda funciona…
Esse paralelo tem tudo a ver. Política, música e romance eram mais ligados entre si no final dos 60 e início dos 70. Teve até um rescaldo nos 80, mas os 90 e os 2000 estão muito emo.
Deve ser a exacerbação do eu que o sistema conseguiu fazer crescer. Um dos reflexos disto é também o surgimento dos blogs…
abraço
Comentário do Pô, meu!
Grande amigo Norberto!
Eu nem tenho mais toca-discos. Mas me sinto livre para receber dos amigos, em mp3, as músicas dos discos (vinil) que comprei durante muitos anos de festas no sótão da R. David Campista (rio). E foram muitos mesmo. Sem culpa. ;-)
Cara, não sei se isso diminuiu mais recentemente ou se a idade aprofunda as recordações mais antigas, mas sinto isso também.
Abração,
Nelson
Brother, sei que nossa família é feita de inteligentes (rs), mas acho que você deveria pensar em mais um vestibular: jornalismo! Afinal, qualquer dia desses você estará saindo do blog (yeah!)
Comentário do Pô, meu!
Hi sister! Hummm… boa idéia. Vou colocar essa possibilidade junto da lista de coisas a aprender, como: tocar bateria, escrever de verdade, manter o blog em dia, terminar o curso de Adminstração, etc… a lista é grande, mas não penso mesmo em me aposentar um dia. :-D
Beijos e obrigado.
Nelson
a capa do álbum Animal ficou mto maneira sem contar com as belas músicas d Pink Floyd
Comentário do Pô, meu!
Pink Floyd era o bicho! :D
Abraços e sucesso,
Nelson