Posicionamento Político
- Por Nelson Correa
- 6 agosto, 2014
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Acho que nunca contei essa história aqui no Pô, meu! Ou será que já escrevi sobre isso? Ô velhice chegando e que vai apagando uma coisinha aqui e outra ali da nossa memória. Depois são quase 600 posts publicados aqui. É muita coisa. E nem sinal de netos por enquanto. :-)
Quando comecei a pensar que estava entendendo o mundo, lá no início da adolescência, depois da minha primeira experiência sexual, quando passei a me sentir mais homem, mais adulto, duas figuras históricas me encantaram: Jesus Cristo e Karl Marx. E eu só tinha 13 anos.
Num par de anos de leituras variadas, deixei Jesus em uma posição destacada como um homem revolucionário e que construiu a visão que ele tinha da vida, um exemplo, alguém para aprender com ele. Descartei qualquer possibilidade de participar, independente dele, da religião católica ou de qualquer outra religião, cristã ou não.
Marx foi mais fácil. Um dos meus primeiros princípios pétreos foi a liberdade. Por conta disso, seria impossível seguir o comunismo, socialismo ou o marxismo apregoado por ele. Aprendi que minha preocupação em corrigir a vida de despossuídos, mendigos, abandonados e outros, não era obrigatória pela via do socialismo. Marx está em uma posição importante nos pensadores que respeito, e, consigo entendê-lo como fruto da sua época. O resto me cheirava a religião, e religião já havia abandonado, nunca me dei bem com dogmas inexplicáveis.
Minha primeira eleição foi em 1978. Elegemos senadores e deputados (federal e estadual). Governadores e prefeitos de capitais, nem pensar. A ditadura militar é que escolhia. Eu sempre fui contra a ditadura (lembra? liberdade!), por isso gostava do MDB que era a oposição. O partido que apoiava o governo militar era a ARENA. Nessa eleição todos os meus votos foram para o MDB, em políticos ligados a resistência contra a ditadura e/ou defensores de presos políticos. Todos foram eleitos: senador, deputado federal e deputado estadual. Aliás, em todo o país a ARENA ganhou, menos no Rio de Janeiro. Orgulho do Rio!
Vinte anos depois, no ambiente corporativo, havia um lobista que abria portas para negócios da empresa que eu trabalhava com o governo do estado. Um dia me avisaram que eu iria conhecê-lo. Iria participar de uma reunião com o AMUPOCSI (ele tinha um apelido, talvez para se esconder, mas vou usar esse: Apenas mais um político corrupto sem ideologia). Quando fui apresentado ao Amupocsi, não reconheci o rosto. Mas durante o aperto de mãos, ele me disse seu verdadeiro nome. Fui ao chão nocauteado pela mão invisível da realidade. Amupocsi era um dos meus votos eleitos na eleição de 1978. Logo ele, defensor de presos políticos e/ou lutador contra a ditadura militar, “facilitando” negócios com o poder público.
Anos depois, já recuperado, passei a ser um eleitor essencialmente pragmático. Ideologia quase zero. Apesar de ainda me sentir mais a esquerda, pelo padrão tradicional.
P.S. Recado para meus eventuais futuros netos. Outra vez estive em uma reunião com outro lobista envolvido com grande, muito grande, personalidade de um governo muito recente. Ele tinha o mesmo foco do Amupocsi. Esqueceu uma caneta na mesa de reuniões, tinha o logo de uma empreiteira. Guardei para um dia mostrar aos meus netos uma caneta que havia sido de um corrupto. Está em saco plástico e lacrada.
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