Solene Corno


No vestiário do clube após a pelada de quarta-feira à noite, enquanto desamarravam seus tênis e se preparavam para o banho, suados, cansados, doídos mas felizes, os três homens de meia idade (HMI-1, HMI-2 e HMI-3) comentavam sobre o companheiro Zezinho que saiu direto do campinho de futebol society de grama artificial para seu carro, sem nem trocar de roupa. E pior, sem o chopp de saideira que encerra aquela noite religiosa de toda quarta-feira.

HMI-3: Vocês viram como o Zezinho está estranho? Ele já não é mais aquele zagueiro tão viril, a gente percebe que o cara continua com boa visão de jogo, mas o corpo não mais responde de imediato ao comando cerebral.

HMI-1: Será que é o peso do início da meia idade? Não dá mais para ir em todas.

HMI-2: Ih, pára com isso. Nada a ver, nós devemos ter a mesma idade dele e eu pelo menos, continuo batendo um bolão, veja os três gols que fiz hoje.

HMI-1: Eu tenho achado o Zezinho estranho…às vezes me parece aéreo, parece que não consegue mais ficar concentrado no jogo, será que está com problemas em casa? Não vejo mais a Mariazinha aqui no clube há algumas quartas-feiras.

HMI-3: E olha que ele fazia questão de trazê-la toda quarta à noite. Eu nem ligo se minha mulher quer ficar vendo a novela. Ele queria a Mariazinha plugada nele 24 horas por dia, ninguém aguenta isso.

HMI-2: Sei não hein… mês passado estava indo pegar meu carro no estacionamento e ouvi eles discutindo no carro dele. Ele reclamava, quase gritava, que a Mariazinha estava gorda e apontava para as pernas dela, dizendo que estavam cheias de celulite. Pecado isso, Mariazinha está até bem para a idade, engordou só um pouco, mas é natural.

HMI-3: Eu já tinha falado com ele para largar aquela menina que trabalha no escritório dele. Ela consome ele, fica querendo presentes, quer encontros toda hora, é um estresse e deixa o cara frustrado de não conseguir acompanhar o pique.

HMI-1: Não sei se é a pré-menopausa ou se é porque nessa idade da Mariazinha, as mulheres já aprenderam tudo e ainda não esqueceram nada, pois desejam sexo com maior frequência, melhor qualidade e mais carinho – que não dure alguns minutos apenas.

HMI-3: Vocês sabem que a minha família é grande, somos 9 irmãos, e observo as mulheres da família: irmãs, primas e tias. Algumas viveram situação semelhante, e elas só têm dois caminhos: ou se fecham deprimidas ou buscam o prazer em outros olhos, outros braços, outros beijos…

HMI-1: E traem com o coração… enquanto os homens traem vocês sabem com o quê…

Os três já estavam debaixo da ducha forte e morna quando entram no vestiário, dois homens jovens que chegavam com suas raquetes e as roupas claras sujas da terra vermelha das quadras de tênis.

HJ-1: Cara, cadê o Ricardo que não vem mais bater bola conosco há mais de um mês.

HJ-2: Nem te conto. Nosso amigo e parceiro de tênis, nosso velho Ricardão tá saindo com uma coroa casada aqui do clube!

Solene cornoHJ-1: Fala sério? E ela ainda dá bom caldo?

HJ-2: O Ricardo me disse que ela é quente prá caramba. Talvez porque o maridão não estava mais comparecendo. Ela disse pro Ricardo que o marido deve achar ela uma baranga.

HJ-1: E o Ricardo nesse aspecto é um maestro né? Toca qualquer instrumento o cara. Ele encara qualquer partitura. Hahahaha.

HJ-2: Mas não deve ser difícil, pois além de quente e esfomeada, ele me disse que a coroa é um violino, só precisa de um bom músico para tirar a música certa do instrumento, ao invés do maridão dela, que só deve arrancar ruídos. Hahahahahaha

HJ-1: E o marido ainda não percebeu nada não? Olha que tenho tomado conhecimento de histórias de maridos traídos que já conseguiram gordas indenizações da justiça para reparar os apetrechos que as mulheres lhes colocam na cabeça.

HJ-2: Claro que ele deve desconfiar. Tenho até medo do cara perder a cabeça e dar um tiro no Ricardo. Mas ele me contou, que toda quarta-feira, no dia que eles se encontram, o cara espera a mulher para um jantar solene, onde, entre vinhos caros e jantar fino, ele lhe pede perdão, mas não explica o motivo. Vai entender…

Severino, que é um cearense baixinho, que saiu da sua terra em busca de oportunidades de trabalho,e cuida do vestiário masculino do clube há mais de duas décadas, passa pelos chuveiros verificando se tudo está em ordem e comenta baixinho junto com um suspiro:

Severino: Solene corno.

Obs: Este mini conto teve inspiração, podendo-se até mesmo considerar co-autoria, do juiz de direito Paulo Mello Feijó. (Veja aqui porque)

Esta é uma obra de “quase” ficção, qualquer semelhança com pessoas ou fatos da vida real terá sido mera coincidência.



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2 Comentários

  • Dayse Corrêa disse:

    Hi brother! Estava aguardando ansiosa seu post sobre a r. sentença. Muito bom o que você fez com as poucas informações que tivemos do texto (estou tentando descobrir a íntegra da sentença). Andei vendo os comentários nos jornais e maior percentual de rejeição (crítica negativa) do público que aceitação. Na minha opinião, eu achei ótimo o texto da sentença, até porque, Direito é poesia, Direito é Humanas, não dá para transformá-lo em Exatas. Porém, terá sido pela rejeição que o MM. Dr. Juiz deu nota oficial informando que a r. sentença foi elaborada por “juiz leigo” (aqueles que não são juízes e sim estudantes da EMERJ, mas que recebem salário) e, ele, S.Exa., apenas homologou o projeto de sentença (http://srv85.tjrj.jus.br/publicador/noticiasweb.do?acao=exibirnoticia&ultimasNoticias=16975&classeNoticia=2). Minha pergunta é: se os comentários fossem positivos, teria ‘ele’ assumido integralmente a ‘paternidade’ do Solene Corno? Kisses

    • Nelson Correa disse:

      Hi sister!

      Eu não poderia perder a oportunidade de fazer piada com essa história. Mas acho que esse pessoal poderia perder menos tempo com sentenças cheias de firula e dar mais sentenças. Quando a situação se normalizasse e um processo não demorasse até vários anos, acho que eles podem entrar em devaneios.
      :-D
      Mas o que mais gostei foi a tentativa de acabar com essa palhaçada de dar indenização aos cornos. Coisas muito mais sérias que acontecem com o consumidor, que é amparado por legislação específica, não resultam em sentenças de milhares de reais, como os cornos têm ganhado ultimamente.

      Bom tê-la aqui novamente.

      beijos,
      Nelson

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