Circuncisão, faz mesmo diferença?
- Por Nelson Correa
- 30 março, 2009
- 16 Comentários
– Será que é o Paulo?
– Paulo?!
O homem baixo de pele morena vira-se ao reconhecer o sotaque e a musicalidade do português que não ouvia havia muito tempo.
– Não é possível! O que você faz aqui Edu?
Um abraço apertado e demorado marca o reencontro daqueles amigos de infância. Sorrisos largos tomam conta das faces daqueles dois jovens, passados algum pedaço de tempo depois dos trinta anos.
– Estou no Congresso de cirurgia intestinal. E você? O que faz aqui em Orlando? Férias ou deixou a informática pela medicina?
– É, só mesmo essa crise para juntar dois congressos tão diferentes nesse mega hotel. Cheguei hoje no final da madrugada de São Paulo para o congresso de web 2.0 e redes sociais que começa amanhã.
– Já almoçou? Eu volto para Israel hoje a noite, já experimentei todos os 5 restaurantes do hotel e as duas lanchonetes. Vamos almoçar no Sea Garden’s? Opções de comida leve e belos frutos do mar. Que tal?
– Claro! Vamos colocar os assuntos em dia.
À mesa, os dois jovens e velhos amigos falavam de suas carreiras, bebiam um St. Supery Napa Valley Sauvignon Blanc safra 2004, um branco frutado que acompanharia bem a lagosta grelhada na chapa com legumes, escolha de Edu e o Linguado assado com batatas, mini cenouras e brócolis de Paulo.
– Que bom saber que a cirurgia se tornou uma enorme paixão, Paulo. E sua vida em Israel, como consegue viver sob tanta tensão e insegurança de ataques terroristas?
– Edu, aposto uma outra garrafa desse maravilhoso Sauvignon Blanc que quanto à segurança, vivo muito mais tranquilo que você em São Paulo.
Responde Paulo com uma gostosa gargalhada. E continua, agora cerrando um pouco a testa, depois de levar a taça do vinho branco à boca e dar um rápido gole.
– Mas estou tenso por outro motivo. Pode ser que quando chegue de volta amanhã, não encontre Hannah mais em casa.
– Como assim?
Se surpreende Edu, que mesmo sem nunca ter conhecido a mulher de Paulo pessoalmente, já havia visto uma foto dela na Internet. Ou teria sido no email? Qual diferença isso fazia agora?
– Quando acordei na manhã no dia que viajei para Orlando, Hannah já estava acordada, recostada no seu travesseiro. Me virei para o seu lado, e antes mesmo de me dar bom dia, Hannah me perguntou o que ela já sabia antes mesmo de nos casarmos: “Paulo você não é circuncidado, certo?” Antes que eu respondesse, ela continuou: “Não quero que nosso filho não seja circuncidado. Como mamãe vai reagir ao ver que nosso pequeno Aryeh não é circuncidado.”
– Paulo, Hannah está grávida? Vocês já tiveram um filho? Pergunta atônito Edu enquanto pega os talheres para comer seu linguado assado, olhando para os olhos de Paulo.
– Não, Edu. Hannah está com 36 anos e quer ter um filho até o início do ano que vem, quando fará 37. E eu tentei argumentar que mesmo tendo sido criado dentro da religião católica, batizado, crismado, escola de freiras e etc, como meu pai, cearense e católico tradicional sempre determinou, resolvi seguir a religião da minha mãe, e assumir o judaísmo como religião. Não que minha mãe tivesse me pressionado, ela era mais umbandista do que qualquer outra coisa.
– E Hannah, aceitou?
– Nada. Insistiu, eu argumentei mais ainda. Disse que isso é uma mutilação, que a gente deixasse Aryeh decidir quando crecesse. E o tempo fechou. Brigamos feio.
– Mas Paulo, não vejo problema nisso rapaz. Mais que um fato religioso, isso é social. Como é que o pequeno Aryeh vai se sentir frente a todos seus colegas com o pinto sem capuz? E depois, li recentemente que a circuncisão reduz a chance de pegar doenças sexualmente transmissíveis. Olhe, meu pai, criado dentro das crenças católicas, é circuncidado. Foi escolha dele, com uns 17 ou 18 anos, não me pergunte por que? Já eu não sou. Vamos meu amigo, abaixe a guarda, seja menos intransigente. A mãe é a figura mais importante para os filhos na infância. Ela precisa se sentir assim. E ter ou não o pinto com capuz não vai fazer diferença. Veja os meus filhos, foram criados dentro do modelo católico tradicional, fizeram primeira comunhão, iam à missa para comungar, e hoje? Cada um tem a sua visão religiosa da vida, sem ódio do passado, minha filha fala até em ser budista. E depois o mundo é outro, não acho que seja possível os judeus sofrerem um novo holocausto para serem identificados por seus pintos sem um pedaço da ponta. Ligue para ela e não deixe a solução para a sua volta. Vá, faça isso agora.
Paulo pousa o cálice do vinho branco sobre a mesa, enxuga os lábios com o guardanapo, suspira e convencido fala para o amigo.
– Edu, você me convenceu. Como fui estúpido. Além do mais, Hannah é vegetariana, e eu aceito isso sem problemas, mesmo tendo reduzido minhas picanhas suculentas na brasa a uma vez a cada 2 meses. E ela já até me falou que queria que Aryeh também fosse vegetariano, eu nem liguei.
– Você está maluco Paulo? Vegetariano? Perdeu o juízo? Cadê seu bom senso cara? Tu não gosta do teu filho mesmo! Vai deixar o moleque virar vegetariano? Ele vai ser viadinho cara! Pára com isso.
Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com pessoas ou fatos da vida real terá sido mera coincidência.
Hahahahahahaha!
Perfeito, Nelson!
Adorei, muito bom mesmo!!
Beijos!!
Oi Susanna,
Você gostou mesmo? Que bom! Gostei disso.
:-)
Beijos,
Gostei sim, Nelson!
O texto é cheio de críticas, mas muito leve… Ok: escreva mais crônicas como essa…
Agora que descobri essa sua faceta, vou cobrar, hein? rs
Beijos!
Oi Susanna,
Juro que é muito mais fácil escrever sobre a realidade. Entrar na área de ficção é só uma brincadeirinha. Mas vou tentando.
;-)
Valeu!
Beijos
OLha Nelson ,estou com voce ,ainda mais se forem uns doidos que ficam incendiando fabricas de galinhas…Gente aqui do pomeu e caro Nelson nao acredito no desvario das pessoas..Desculpem, mas essa estoria da Perdigao incendiada me aborreceu.Nao entendo porque cada um nao faz o que acha melhor para suas vidas .Quer ser vegan? Vai ser cara, mas nao enche a paciencia de quem nao quer .Como frango, peixe e laticinios como rotina .Mas se vou na casa de alguem e tiver churrasco como pouco ,mas como.Se a gente nao consegue mais ser tolerante com o outro com comida ,imagine com o restante!!En passant ,sou a favor da circuncisao por medidas de saude.bjs
Oi Nine,
Como vai?
Cê viu essa história de atentado anti-picanheiros, anti-coxinheiros, anti-leitinheiros e outras bobagens lá na perdigão? Você acretida que uns caras sem proteína fariam aquilo? Hummm… sei não.
Mas acho que você pegou no ponto principal: tolerância. Assim é a natureza, uns comem os outros, há milênios, e daí? Amanhã vão dizer que o problema foi causado pelos brancos de olhos azuis. Ainda bem que não tenho olhos azuis.
Agora, deixando de lado o tema mais sério e sóbrio, você falou em circuncisão, ah não… fui eu, é verdade. Mas você disse que era a favor. Não vou entrar no mérito da higiene, mas os judeus e muçulmanos, que praticam a circuncisão nos seus meninos são uns caras que admiro pela positividade e confiança no futuro.
Antes mesmo de saber de que tamanho “a coisa” vai ficar, eles já vão cortando um pedaço. É muita certeza de que os moleques não vão precisar do pedaço removido.
:-D
Beijos,
Um novo Nelson? O cronista se mostrando também um excelente contista?
Ótima história, e faz, como tudo que você escreve, pensarmos um bocado…
Graaaande Enio,
Pô, meu! Fiquei super feliz com seu elogio. Valeu.
Abraço grande,
Tá ma delícia, Nelson. E inda tem vinho bom e safra óóótema! :o)))
Uau, ma delicia é te receber por aqui.
Tá vendo, às vezes até pinta um vinhozinho. Senta aí e vamos beber.
;-)
Beijos,
Gostei da crítica, sou favor do vegetarianismo, bem mais benéfico pra animais e humanos, apesar de nao o sê-lo. Quanto ao caso narrado acho que Paulo deveria intervir sim, o filho é de ambos, acho a circuncisão um defeito de algumas fés monoteístas qu e ainda falam em livre arbítrio. Que direito ela tem de impor suas preferências ao filho, nenhum mandamento divino me faz aceitar as coisas de livre e espontânea vontade, sao ordenações, nao existe reflexao, apenas imposição e aceitação.
A circuncisão não tem efeito algum diante da higiene e uso de preservativos, além claro de um controle do numero de parceiro(a)s, pode inclusive reduzir sim a resposta sexual no homem. Acho que isso deve ser uma opção feita quando se tem consciência suficiente. imposição, jamais.
Olá Ribamar,
Que legal que você tenha gostado.
Eu também acho que nada deveria ser imposto a ninguém.
Abraços e sucesso,
Nelson
Salvem o português! O correto é “Circuncidado”. Deus fez todos os animais perfeitos! TODOS os animais mamíferos machos têm prepúcio, Deus fez desta forma, pois é esta a forma perfeita. Deus jamais pediria uma parte do corpo de um animal, no caso os homens, num ritual de sangue para provar fé. Ninguém nunca parou para pensar nisso?
Olá Charles,
Obrigado pela lembrança da maneira correta de escrever circuncidado, vou corrigir imediatamente. Mas fique tranquilo, o português não morrerá por conta desse detalhe.
:-P
Olha, sem querer te contestar no aspecto religioso, eu ainda não vi serventia para o dente do ciso? Ok, concordo, serve para dar dinheiro para os dentistas.
:-D
Por fim, os seres vivos têm passado por milhares, talvez milhões de evoluções ao longo da história desse planeta. E não é por isso que acho que Deus tenha errado a mão na criação.
;-)
Salvem a ciência!
Abraços e sucesso,
Nelson
Nelson, obrigado por responder! Existe uma teoria sobre a origem da circuncisão que diz que os homens que não fizessem a circuncisão (a aliança com Deus) seriam punidos com a morte. Imagine que mais de 5.000 anos atrás as pessoas tomavam banho de 3 a 4 vezes por ano, sim, isso mesmo – o povo daquela região era nômade e quando a comida acabava, seguiam em busca de novos alimentos – só tomavam banho quando encontravam um grande rio. Imagine, em que estado que o pênis ficava depois de “dias” sem banho num deserto com temperaturas em torno dos 40ºC e com aquela areia fina entrando em todas as partes do corpo. Os homens morriam muito jovens – menos de 30 anos. Observaram que estes homens tinham uma caracterítica em comum – morriam com o pênis apodrecido. Era câncer! Sim, o cancêr de pênis sempre existiu. Alguns sábios, oriundos do Egito, perceberam que sem o ambiente propício (à proliferação de vírus e bactérias) o pênis não apodrecia e o homem não morria. Mas como convencer os homens a cortarem uma parte do seu corpo? Ai entra o mais sábio de todos os judeus – Moisés. Foi ele o responsável por pregar a idéia de que a circuncisão é um pedido de Deus – a aliança. As pessoas começaram a perceber que quem fazia o pacto com Deus (estirpar a pele do pênis) vivia e quem não fazia morria. Está na Bíblia – todos os homens devem ser circuncidados, todos os escravos devem ser circuncidados, todos os filhos homens no 8 dia deve ser circuncidados. Se naquela época não fosse dito que quem não fizesse seria punido com a morte Divina, ninguém faria. Alguém teve que escrever num livro sabgrado – a Bíblia. Nos dias atuais todos temos acesso à água e sabão – é só arregaçar e lavar! Se não arregaça é fimose e isso se trata com pomada Postec e/ou aparelho Glansie. Hoje, cortar o pênis é 99% desnecessário. Espero ter contribuido com as informaçãoes e estou aberto a críticas e sugestões. Nelson, agradeço mais uma vez pelo espaço. Forte abraço!
Olá Charles, tudo bem?
Show a sua explicação. Eu tinha uma ideia que isso, como muitas outras tradições judaicas são provenientes da tentativa de criar hábitos mais saudáveis para o povo. Muito obrigado por nos oferecer essa aula.
Fique à vontade por aqui. Sinta-se em casa. Sua participação é muito bem vinda.
Abraços e sucesso,
Nelson