Levamos o indiano para um churrasco
- Por Nelson Correa
- 30 julho, 2013
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Quando trabalhei em uma gigantesca multinacional norte-americana, a região que estava alocado me fazia ter uma linha hierárquica (administrativa) fora do Brasil, direta com América Latina, que ficava na Flórida. Eram esses caras que assinavam minhas férias e outras burocracias na minha relação com a empresa. Como a estrutura organizacional era matricial, minha área de atuação era subordinada a uma diretora norte-americana que trabalhava em Washington e, acima dela, havia um vice-presidente indiano que trabalhava em New York.
A estrutura brasileira era bem grande e me atendia no dia-a-dia trabalhista, me pagava e cuidava dos detalhes legais aqui do Brasil. Mas eu vivia no telefone e sabia direitinho as várias diferenças de fuso horário ao longo do ano com a costa leste dos Estados Unidos, ora falando com o pessoal da Florida, ora com minha chefe em Washington.
Nosso chefão de América Latina era um cubano. Ele vinha muitas vezes ao Brasil e fui diversas vezes ao Quartel General da Flórida. Aqui levávamos ele para comer em churrascarias rodízio, lá íamos em restaurantes de frutos do mar ou de comida internacional, neutra.
Certa vez, meu vice-presidente estava de visita ao Brasil e a unidade brasileira convidou-o para jantar. Me chamaram também, já que eu estava dentro da estrutura que ele comandava. Uns vinte comensais. Eu morava havia pouco tempo em São Paulo e quando cheguei no endereço do restaurante, tomei um susto enorme. O jantar seria no Barbacoa do Itaim Bibi, uma belíssima churrascaria.
Eu pensei: – por Krishna, temos 20% de chance de não cometermos uma grande gafe, já que 80% da população da Índia é de hindus, que adoram as vacas, nunca para comer seus pedaços. Eles associam o animal à fertilidade e a divindades como Krishna, que teria sido pastor. Os guardas de trânsito são proibidos de tirá-las das ruas, o que dirá matá-las e comê-las. Acho que por conta disso, colocaram o indiano, meu vice-presidente, ao meu lado, nem ao lado do presidente brasileiro ele ficou. Como Pilatos, lavaram as mãos. Se livraram do problema.
Naturalmente eu estava muito constrangido, e pedi desculpas pelo tipo de restaurante que estávamos, que aquilo era uma falha indesculpável e que me sentia muito envergonhado, apesar de não ter interferido na escolha. Ele, um gentleman, me acalmou e disse que dada sua posição em uma empresa global, tinha que ser maleável e adaptável aos costumes de outros povos. Me pediu autorização para comer outra carne que não fosse de vaca. Naturalmente! Como me oporia?
Mas por que estou me lembrando disso tudo agora? É que acabei de ler um tuíte de um cubano (@Karel Becerra) que nos seguimos mutuamente no Twitter, ele diz: “Matar una vaca para comer en #Cuba ? Desde 4 a 20 años de condena de cárcel !” Traduzindo livremente, matar uma vaca para fazer um churrasco ou um simples picadinho com mandioca dá cana de 4 a 20 anos!
Seriam os cubanos hindus também? Nada disso Joselito. Lá em Cuba, como um quilo de carne de vaca “oficial” pode custar até um terço do salário mensal dos cidadãos, e para não permitir que se crie um mercado negro de carne da vacas abatidas na calada das noites, a pena é bem forte.
Foi um alívio saber o motivo principal, por momentos fiquei preocupado de ter levado para várias orgias churrascais e sangrentas o chefão de América Latina, um cubano. Ufa.
Essa ta boa! Gostei da estoria. Grande Abraco ao amigo.
Zezinho,
No dia fiquei um pouco tenso, mas hoje rio da estória. :-)
Abração,