Uma lei prá chamar de minha

• Por Nelson Correa
• 18 abril, 2011
• 1 Comentário

Foto de Sebastian Danon @ Stock.xchng by CC - Clique para visitar o site do fotógrafo

No sábado 9 de abril de 2011, em sua coluna no jornal O Globo, Zuenir Ventura lista algumas mazelas da falta de educação no convívio urbano diário que encontramos no Rio de Janeiro, mas que podem ser encontradas em centenas de outras cidades por esse Brasilzão imenso e pouco educado. Na verdade, creio que essa seja uma das nossas piores características culturais: interpretar as leis (ou regras de convivência) em função do que achamos melhor ou pior para nós. É aquela velha história de leis que não pegam. Triste não é?

Mas voltando ao Mestre Zu, como é conhecido o grande jornalista e escritor Zuenir Ventura, sou fã dos seus textos e acompanho seu trabalho desde o tempo que ele foi trabalhar no velho e falecido Jornal do Brasil (esse que anda aí pela Internet não é o mesmo, nem quando ainda era em papel). Grandes reportagens de impacto, livros, enfim, um mestre no jornalismo. Pois eu dizia, Zuenir nos conta de coisas que ele evita, pois não gosta e não quer se aborrecer, pelo que entendi.

Disse ele que passa ao largo de cachorros no calçadão da praia, depois que viu uma dessas feras, enorme, sem coleira, atacar um transeunte que caminhava calma e inadvertidamente. Também muda de calçada quando vê uma bicicleta vindo em sua direção porque sabe que o seu objetivo é lhe atropelar. Lembra que nem é preciso falar que evita atravessar uma rua confiando apenas no sinal verde. Antes, olha para os dois lados, inclusive o da contramão. Interessante que dois sábados antes dessa coluna, em 26 de março de 2011, no mesmo jornal, Mestre Zu praticamente explica porque essas coisas que ele não gosta acabam acontecendo.

Ele conta que estava em Belo Horizonte embarcando de volta para o Rio de Janeiro, e na passagem pelo raio X os fiscais encontraram uma tesourinha de unha na sua bagagem de mão e não autorizaram que ele embarcasse com ela. Nas palavras do Mestre Zu: “… e eu procurei fazer ver que aquele idoso ali na frente deles — avô de Alice, com endereço certo, ficha limpa e profissão pública — não oferecia qualquer risco à segurança nacional, ainda mais que fora a BH em missão de paz, para uma palestra na Academia Mineira de Letras. Expliquei que apoiava as medidas de precaução e não queria privilégio, apenas o direito que todos têm à exceção que toda regra permite.” (o grifo é meu)

Pois é, Mestre Zu, o dono do cachorro na praia, o ciclista na calçada e o motorista no sinal só estão exercendo seus direitos (ai!) à exceção que toda regra permite. NÃO!!! Tá vendo porque não dá prá gente viver dando jeitinhos nas leis? Alguns poderiam até ser justificáveis (a tesourinha de unha de Zuenir Ventura), mas a maioria esmagadora (pode essa composição?) é canalhice. E onde encontraremos o justo com poder de interpretar se o dinheiro público distribuído para parlamentares foi o meio ilegal de levarmos as classes menos favorecidas ao poder ou se foi somente uma deslavada roubalheira? Ou é tudo a mesma coisa? Melhor deixar a lei decidir. Bom seria se não houvesse exceções. Nenhuma. Não tá boa a lei? Mudemos a lei.