Twitter, chuva e pronto-socorro
- Por Nelson Correa
- 29 outubro, 2009
- 6 Comentários
Dias atrás, o camarada Sampson Moreira, excelente blogueiro cearense refugiado em Recife, editor do Blogurinhas e tuiteiro, retuitou (reenviar uma mensagem comentando ou não) um tuíte do médico @dr_marcelo que dizia que quando chove, diminui a presença de pessoas nos pronto-socorros (PS) dos hospitais.
Pode parecer que as pessoas vão aos PS só porque não têm o que fazer ou porque sejam hipocondríacas. Quem sabe necessitam de um pouco de atenção? A chuva tem o poder de transformar pessoas doentes em saudáveis? Seriam estes os principais motivos dos pronto-socorros cheios, ou menos cheios? Eu acho que o problema não é por esse prisma. Vou contar uma história.
Há aproximadamente dois anos, durante o almoço, me senti mal, estava tonto, pensei até que desmaiaria no restaurante. Parei de comer, paguei a conta e voltei para o escritório. Melhorei um pouco, mas no final da tarde, ainda não estava 100%. Como já tive dois enfartes, resolvi ir para o PS do Instituto de Cardiologia Dante Pazzanese, em Sampa. O Dante é referência e é hospital público estadual.
Cheguei no início da noite, fui atendido rapidamente, pois a noite o PS sempre está mais vazio (dê preferência em ficar doente a noite) mas acabei tendo que fazer exames de acompanhamento durante toda a madrugada. Ao amanhecer, antes de me darem café da manhã e me liberarem por eu não ter nada, vi dezenas de pessoas chegando no PS. Pessoas simples, mas arrumadas, trazendo filhos e netos, conversando, nenhuma me parecia em situação de emergência.
Não foi preciso fazer grande exercício mental ou pesquisas com nível de doutorado. Aquelas pessoas, todas obviamente com alguma cardiopatia ou histórico de problemas de coração, estavam ali no PS fazendo por conta própria, visitas de acompanhamento médico, que se marcadas dentro da possibilidade de agenda do hospital, nunca são inferiores à seis meses, muitas até são anuais. Nessa visita ao PS, estas pessoas são examinadas por um médico, imagino que a maioria deve sair satisfeita por estar bem de saúde, e ficam mais tranquilas com sua doença sendo acompanhada em intervalos menores.
E qual a consequência desse problema de saúde pública em hospitais que não são especializados e referência como o Dante Pazzanese? Dias atrás, uma mãe levou seu filho de 7 anos ao Hospital Municipal Souza Aguiar, no Rio de Janeiro. O pequeno Wanderson tinha caído de um muro de 1,5m de altura, tendo batido com a cabeça nessa queda. A médica do PS, provavelmente sobrecarregada com excesso de atendimentos não emergenciais (talvez também despreparada), examinou o menino superficialmente, deu soro e liberou-o, conforme disse a mãe. Mas Wanderson morreu naquela madrugada, em casa, devido a hemorragia, traumatismo e fratura de crânio. (leia aqui)
Eu tenho absoluta certeza que nenhuma ação corretiva vai ser tomada pelo poder público da cidade do Rio de Janeiro. Outros casos já devem ter acontecido, e, certamente, muitos outros ainda acontecerão, com Jogos Olímpicos ou não. É revoltante ver que o estado não oferece, e pouco se preocupa em oferecer, o mínimo de dignidade no atendimento de saúde ao cidadão.
Isso me leva a outro caso, o acidente com o avião da TAM, no aeroporto de Congonhas, que matou quase 200 pessoas. Independente de investigações policiais, criminais ou não, existe um órgão na aviação brasileira inspirado por similar norte-americano, que avalia com exaustão e precisão as situações que levaram um avião a se acidentar. Esse órgão é o Cenipa, que acabou de liberar o relatório sobre o acidente com aquele avião. Todas as situações que levaram ao desfecho do acidente deverão ser avaliadas pela companhia aérea, pelo fabricante do avião, pela administração do aeroporto e por quem mais tenha alguma relação com o acidente, para que mudem seus processos, soluções de engenharia ou qualquer outra, para que acidentes semelhantes possam ser evitados no futuro.
Por que nossos políticos não podem gerenciar nossas vidas com a mesma dedicação e seriedade que esses profissionais do Cenipa tratam as pessoas que voam em aeronaves?
Eu, frequentador assíduo de Congonhas, só torço para não virar frequentador assíduo do Dante Pazzanese.
Oi Bruno!
Não é difícil só passar pelo Dante quando estiver a caminho ou vindo do aeroporto de Congonhas. Alguns cuidados básicos são imprescindíveis, mas nada muito complicado. Se precisar saber, me avise.
:-D
Abração,
Nelson
Eita! Deixa eu agradecer pelo “excelente blogueiro”, me alegrou bastante, apesar de eu achar que foi a única mentira contida no texto, no resto assino embaixo.
A saúde pública no Brasil é dose! Todos sabemos: Falta profissionais, materiais, máquinas, estrutura… os que estão ali trabalhando também estão doentes, fadigados, estressados, com problemas psicológicos… é difícil aguentar a pressão.
O comentário que eu fiz generaliza, claro que há aqueles que vão aos PSs em busca de um atestado para justificar a falta ao trabalho e outros que estão sentindo-se doentes por, muitas vezes, carência afetiva, mas certamente não é a maioria. A chuva evidencia uma série de problemas nas grandes cidades: ruas alagadas, problemas de transporte, e até comodismo fazem esquecer um pouco a dor até a chuva passar.
Sobre sua pergunta final: pobre não viaja de avião.
Oi sampson,
Menti não menino.
:-D
Eu só tenho que agradecer o disparo de inspiração que seu tuíte me deu. Obrigado.
;-)
E olhe, é uma grande sacanagem pobre não viajar de avião, em países ricos, a passagem é baratinha. Lá onde não precisa, os caras pagam passagem de pobre. Mas ainda tenho esperança que isso mude.
Abraços e sucesso,
Nelson
Ah, voltei pra dizer uma coisa. Mudei o nick no twitter. O endereço correto agora é http://twitter.com/sampsonsm
abraços, Nelson!!
Oi Sampson,
Já tá corrigido, e como bônus, aparecendo duas vezes.
;-)
Abração,
Nelson