Tropa de Elite, por outro ângulo
- Por Nelson Correa
- 25 setembro, 2007
- 1 Comentário
Wagner Moura é um dos jovens atores brasileiros que admiro. Comecei a reparar a versatilidade dele na sitcom da Globo – Sexo Frágil – de 2003. Apesar de já ter uma bagagem, talvez 2003 tenha sido um divisor de águas. Ele fez nesse ano: Deus é brasileiro e Carandiru.
Me impressiona como o público adora o mau caráter e cafajeste personagem Olavo em Paraíso Tropical. É fácil gostar da Bebel, ela só é uma prostituta desinibida, cheia de esperança de uma vida melhor e no fundo, uma apaixonada de bom coração. Mas Olavo não. Ele é rico e mau, muito mau. Isso é uma faceta que grandes atores colocam em seus personagens bandidos: vilões que apaixonam o público. Mas não era da novela que vai prender meio Brasil nos próximos dias que eu queria escrever. Quero falar do filme sensação no Rio de Janeiro: Tropa de Elite.
Eu fiquei impressionado como essa história permeia a vida da maioria dos cariocas. Eu sou um carioca de outra época, e voltar a morar no Rio depois de 21 anos, me trouxe algumas surpresas. Esse convívio com o duelo bandido x policial, tão próximo, no dia-a-dia, foi uma delas. Assim como me surpreendi como é estar por fora dos papos se não souber comentar sobre vans piratas, milícias ou gatonets. Acho que por isso, por ser a retratação da novela real, em que a população atua de verdade, que Tropa de Elite fez tanto sucesso antes mesmo do lançamento oficial.
Domingo passado (23/09/2007) li a entrevista do ex-capitão do Bope, Paulo Stovani dada à jornalista Márcia Vieira do Estadão (sem link, li no papel e não consegui o link do jornal online). Stovani foi peça muito importante na construção do filme e trabalhou para despertar a agressividade do Wagner Moura, treinando-o para fazê-lo ficar mais parecido com os policiais que ele comandou no passado. Sem a permissão formal ou informal da jornalista ou do jornal, tomo a liberdade de reproduzir uma resposta do ex-capitão, explicando como ele conseguiu “tirar” a raiva do ator. Aliás, o profissionalismo do Wagner ao mergulhar nesse treinamento é digno de respeito e admiração. Leia os pedaços mais impressionantes.
“A Fátima Toledo, que fez a preparação dos atores, pediu minha ajuda para despertar a agressividade no Wagner. Ele tinha acabado de ter o primeiro filho. Estava zen. Comecei com a pedagogia da humilhação. Depois de muito exercício, mandei ele buscar água.
Todas as ordens eram aos berros. Ele trouxe o primeiro copo de água. mandei ele pegar outro porque dizia que ele tinha cuspido no copo. Ele pegou. Reclamei que a água estava gelada. Ele foi até a geladeira seis vezes. Mandei ele ficar soprando no fundo do copo para esquentar a água. Perguntei se ele estava com sede. Quando ele começou a beber a água, peguei o copo, coloquei a água toda na boca, bochechei, cuspi a água de volta no copo e mandei: agora bebe. Ele bebeu. Fiquei perplexo. Tive que engrossar… Quando ele estava exausto, perguntei o que ele mais gostava no mundo? Meu filho. Você mataria pelo seu filho? Mataria. Então vamos ver. Você vai chegar em casa hoje, a porta vai estar arrombada, você vai encontrar um cenário de horror (e começou a descrever a cena). Wagner Moura bufafa… Até que eu disse: eu sou o cara que fez tudo aquilo com o seu filho. E aí? … Mas ele me surpreendeu com um soco cruzado e quebrou o meu nariz. O Capitão Nascimento nasceu ali.”
Impressionante a seriedade que um trabalho de entretenimento (ou seria só arte e cultura?) é tratado por determinados profissionais. Muitos foram os atores e atrizes que fizeram sacrifícios físicos ou chegaram ao limite do aceitável (no campo psicológico) na criação de suas personagens para o cinema. Wagner Moura é mais um. Não assisti ao filme Tropa de Elite “genérico”, vou vê-lo na tela grande e pagando. Diferente de música, que pode ser vista como o trailer do show, o filme é a obra completa, o show de dezenas de artistas. Não deixe de ver pagar para ver.
Nelson,
Se vc é parente do Nelson Rodrigues eu não sei. Só sei que você me deixou com uma enorme vontade de assistir o filme. Escreveu com sensibilidade e despertou uma vontade enlouquecedora para assistir o dito filme. Escolhe as palavras certas. By the way, Wagner Moura é um dos maiores da nova geração. Dá gosto ler um post assim !!!!
bjs
Comentário do Pô, meu!
Cara Sandra,
Obrigado, mas não sou parente do Nelson Rodrigues, apesar de não me importar se alguns de seus textos tivessem nascido na minha cabeça. :-)
Bjs,
Nelson