Preconceito é cinza
- Por Nelson Correa
- 10 março, 2011
- 2 Comentários
Minha primeira reação foi questionar como o jornal O Globo publicou artigo tão preconceituoso e bairrista na página onde opiniões são publicadas. Logo a seguir me recordei que houve uma vez no passado que tive um artigo publicado na mesma página. É bem verdade que foi em uma segunda-feira, este foi no sábado (05/03/2011). Ambos, o meu e este a que me refiro, foram os únicos da página brindados com ilustração. Mesmo tendo ficado no topo à direita da página, onde Zuenir, Veríssimo e outras feras escrevem diariamente, exceto às segundas (tá explicado), entendi que o filtro do jornal não é lá grande coisa e se publica em área nobre o que não deveria nem aparecer na seção de cartas dos leitores.
Me refiro ao artigo Ordem sem tristeza, cujo autor se apresenta como Rogério Correa, ator. Não, não é meu parente, pelo menos que eu saiba (e se fosse, nada se alteraria… ora, famílias!). No artigo, o autor reclama, e eu entendo seus motivos, da mudança das cores dos ônibus no Rio de Janeiro. Explicando um pouquinho para os que não moram na cidade. Meses atrás, com a intenção de mostrar que queria mudar o status quo dos transportes coletivos, a prefeitura da cidade do Rio de Janeiro promoveu uma licitação para as linhas urbanas de ônibus. Não mudou nada, as mesmas empresas, agora reunidas em consórcios, foram as vencedoras. Ah, claro, para mostrar a mudança, os ônibus agora serão pintados em função da área que atuam e não mais nas cores de cada empresa.
Se eu até concordei com os argumentos dele, apesar de tê-lo achado ingênuo de não ter percebido onde se escondem os verdadeiros problemas do transporte de ônibus da cidade maravilhosa, qual foi então o motivo da minha chateação com o texto? O problema é que lá quase no finalzinho, depois de reclamar da falta de alegria representada pelas cores dos ônibus, pela dificuldade de identificação que todos terão e pela predominância do cinza com toques esmaecidos e pastéis, o autor disse que essa perda de alegria do colorido do Rio, esta triste estética acinzentada só poderia ter sido planejada e escolhida por um fascista (nossa, isso é sério), ou por um daltônico (isso é problema genético), ou por um europeu (não entendi direito, seriam italianos semelhantes a suíços?) ou pasmem, por um paulista (!!!).
Ô Rogério, que preconceito! Se os paulistas fossem tacanhas e aproveitadores como muitos racialistas, eles já estariam tentando te colocar atrás das grades por racismo. Quanta injustiça meu caro, pois o evento mais multicolorido do planeta, a Parada do Orgulho Gay (+LBT), que atrai alguns milhões de pessoas na região da Avenida Paulista, acontece na cidade de São Paulo. Olhe, você precisa conhecer Sampa de verdade. Não vá com a intenção de achar praia, você não encontrará, mas se você liberar suas amarras do preconceito, conhecerá uma cidade cheia de cores, gentes, perfumes, texturas, sons e extremamente pulsante e vibrante.
Ah, sim, boa parte dos ônibus são cinzas ou pastéis. Mas trafegam em corredores, não costumam disputar a rua com os carros (nunca fui fechado por um ônibus saindo do ponto abruptamente em Sampa, no Rio é diário), não existem dezenas de linhas passando por avenidas principais, como passam na Av. N.S. de Copacabana e na Av. Rio Branco, onde a maioria das linhas faz trajetos muito semelhantes. É bem verdade que o metrô é muito maior e em teia, e não uma tripa onde até existem duas linhas trafegando em um único trilho (os não cariocas não entenderão). Enfim, alguns problemas são semelhantes, outros são diferentes, mas o mais importante é que você perderá excelentes oportunidades se achar que todo paulista é mané e triste. ;-)
Eu já venho alertando sobre esse preconceito… Agora temos que esconder que somos héteros. O que me dá medo é um regime facista gay! Como diabos seremos torturados? com vibradores e som bem alto tocando Village People?
Mas uma coisa tenho a dizer dos onibus do RJ: Andar em um onibus urbano descendo um declive dentro de um tunel a 140km/h, é coisa que só no RJ… Tem que ser macho :)
Chantinon,
Até aguento uns 8 minutos de Village People, mas o vibrador deixo para os motoristas dos ônibus do Rio que são campeões em fazer merda.
Abraços e sucesso,
Nelson