O bom velhinho


Imagem: Vice-presidente José Alencar no Programa do Jô“Todo mundo que foi à Zona um dia pode ser …(risos da platéia)… não é possível. Agora o que ocorre é o seguinte: por exemplo, são milhões de casos de pessoas que foram à Zona …(risos da platéia)… milhões de casos. Só que, provavelmente, grande parte desses casos não tenha sido objeto de interesse nem político nem econômico. Agora porque pelo fato de ter sido eu, vou me submeter a um DNA que também não é 100%? Também não é 100%. Tem mais essa.” (José Alencar Gomes da Silva, em entrevista no Programa do Jô em 03/08/2010)

Bastardo era o termo comumente usado para designar o filho (ou filha, claro) nascido fora do casamento. Independente se os pais fossem solteiros ou casados com outras pessoas (um ou ambos). O novo código civil brasileiro (2003) não usa mais esse termo, já que ao longo do tempo ele tornou-se pejorativo e discriminatório. Sendo até mesmo usado como xingamento, um xingamento digamos, “chique”, mas um xingamento. Em qualquer país, pelo menos levemente sério (nosso caso), não existem diferenças nos direitos de filhos de pais e mães legalmente casados ou que não sejam casados. Mas no passado já foi diferente.

Reinados e impérios cresceram e caíram vivenciando histórias ácidas de sucessões e intrigas, com a presença sempre obrigatória de filhos bastardos. Na maioria das vezes os bastardos, que não tinham os mesmos direitos de herança e sucessão, eram “calados” com prêmios que iam desde títulos nobiliárquicos até promoções a altas posições eclesiásticas, passando pela doação de riquezas e casamentos arranjados. É certo que houve situações em que a morte do bastardo foi a “alternativa” a uma negociação dura e complicada. Houve até bastardo que com golpe militar, assumiu o que por natureza, deveria ser o seu direito (D. João I, rei de Portugal).

Já a plebe, os que não eram nobres, enfim, entre os plebeus nesse mesmo período … bem, os nobres os consideravam, todos, bastardos. Vamos pular essa parte.

O vice-presidente do Brasil, um senhor quase octogenário, que nos últimos dois anos tem cativado todos os brasileiros com sua luta (vitoriosa) contra um câncer e seu aspecto doce de um vovôzinho, vem enfrentando há 12 anos uma cobrança de reconhecimento de paternidade na cidade de Caratinga, em Minas Gerais, onde viveu dos 16 aos 28 anos, trabalhando sozinho, longe da família, plantando as primeiras sementes do que viria a ser, hoje, um negócio industrial de extremo sucesso.

O senhor Alencar tem negado esse reconhecimento. Durante a entrevista no Programa do Jô (03/08/2010), ele diz que teve pequenos flertes e rápidos namoricos com moças com quem dançava no clube da cidade, afinal ele se considerava um ótimo partido, pois era um jovem comerciante já de sucesso, portanto, moças querendo casar com ele não faltavam. Ele disse também que a tal senhora que diz ser mãe de uma filha, fruto de um relacionamento entre ambos, nunca dançou com ele nas festinhas do clube. Ele disse: “Essa senhora que fala que é mãe de uma minha filha, esta, nunca podia ter posto o pé naquele clube, que aquilo lá era uma coisa… era uma religião.”

Na sequência, ele afirma que ninguém nunca poderia ter visto ele com a tal mulher, já que ela não frequentava o clube, que entendi, ser restrito à elite caratinguense da época. Ou seja, ela não foi uma das rápidas namoradinhas que teve antes de conhecer a sua única namorada de verdade, a atual esposa. Continuando, ele disse que era cultura da época os rapazes frequentarem a zona boêmia da cidade. Que para quem não sabe, era onde as prostitutas prestavam seus serviços de criação de fantasias sexuais para os homens. Bom, daí, mais alguns segundos depois, ele disse a triste frase que iniciei este artigo.

Conceitos retrógrados, como este de que prostitutas são pessoas de uma sub-classe, sem nem mesmo o direito de poder reivindicar o reconhecimento de paternidade dos possíveis filhos dos agora famosos e/ou ricos, infelizmente vivem muito mais do que os homens que os hospedam.

Havia um palhaço muito famoso na época em que palhaços eram famosos, chamado Carequinha. Minha primeira infância foi pontuada com disquinhos coloridos de músicas do Carequinha que tocavam no móvel-vitrola da casa dos meus avós. Uma dessas músicas (no Youtube, pelo Dominguinhos), falava no bom velhinho que trazia presentes para as crianças no Natal, fossem elas ricas ou pobres, ele não se esquecia nunca, e deixava o presente no sapatinho que ficava na janela. Esse sim, era um bom velhinho de verdade.



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