Democracia
- Por Nelson Correa
- 4 outubro, 2008
- 4 Comentários
Desde que os militares deram o golpe de 1964 e assumiram o poder no Brasil à força, eles nos tomaram alguns símbolos. O hino, a bandeira e algumas instituições, como a polícia militar, viraram, aos nossos olhos de povo brasileiro, símbolos dos militares, símbolos dos ditadores. Como também não tivemos culpa de nos tomarem aqueles símbolos, por favor me desculpem, mas também não tenho culpa se existe algum resquício, até hoje, de se pensar que militares ainda são ditadores. Aqueles caras que deram o golpe em 1964 e se perpetuaram até 1985 é que são os responsáveis por isso.
Por volta dos 11 ou 12 anos de idade, comecei a aprender violão. Minha jovem professora cansou de chegar atrasada no horário da aula na escola de música, às vezes até mesmo não comparecia porque estava no centro do Rio de Janeiro, com outros estudantes, protestando contra a ditadura (1970/71) e a polícia caçava os estudantes com a mesma truculência que caça bandidos hoje. Ela se escondia onde podia, nas portarias do prédios, em qualquer buraco, e minha aula era adiada. (Por conta disso ganhei outra professora, uma balzaquiana de coxas grossas e saias curtas, era essa a moda, mas isso agora é devaneio e fora de contexto. Sigamos.)
Paralelo a isso, nós víamos na TV ou em eventos públicos, os ladrões da democracia postados como donos de nossos símbolos, como a bandeira nacional e o hino nacional. Nós continuamos a pressionar pela democracia. Eles se cansaram de manter o poder. E largaram o osso no colo de um dos que sempre os apoiou – José Sarney – e foram para suas casas. Ficaram 21 anos, uma geração!
Nós, como filhos criados afastados dos irmãos, ainda não tínhamos intimidade com esses novos parentes: a bandeira e o hino. Não nos pareciam da mesma família. Aos poucos, fomos reconquistando e sendo reconquistados pela bandeira e pelo hino. Acho que a bandeira voltou a ser nossa durante as várias copas do mundo de futebol, ao pintarmos ruas e, definitivamente, quando pintamos as caras e fomos para as ruas protestar contra a roubalheira do grupo de Collor (ô saudade!).
O hino, começou a ser nosso novamente desde que vários cantores, principalmente cantoras e, alguns grupos de rock, talvez inspirados em Jimi Hendrix que tocou o hino americano em Woodstock, começaram a quebrar a rigidez protocolar de sua apresentação, com arranjos diferentes e maneiras que não nos faziam lembrar um general de óculos escuros perfilado sob a (nossa) bandeira.
Amanhã vamos voltar a praticar o exercício da democracia. Não é perfeita mas é a melhor forma de governo. Não vote em qualquer candidato. Como somos todos obrigados a comparecer, só vote se tiver certeza. Se não tiver, vote em branco ou anule seu voto. Mas da próxima vez, pesquise antes com carinho. E para comemorar que a democracia voltou a ser nossa, como a bandeira e o hino, gostaria de oferecer-lhes o Hino Brasileiro (presente do Rafa) regido pelo mangueirense Ivo Meireles e executado pela percursão do Funk’n’Lata. A gravação ocorreu durante o Poesia Voa 2.0 – um Festival de Poesia e Direitos Humanos acontecido no Circo Voador do Rio de Janeiro, em 2006.
Vote com alegria. Vote com convicção. Vote com determinação. Principalmente vote com a preocupação de buscar o melhor para todos nós. Boa eleição. Feliz Brasil!
Clique no player abaixo ou veja o vídeo no Youtube.
Hino Brasileiro |
---|
|
Atualizando:
1) Prá Ray, versão Heavy Metal.
2) Pro Batatinha, versão Cavaquinho.
Seu texto sempre emociona e por diversas razões. Não temos a mesma opinião político partidária, mas amamos a democracia. Ela sim, intocável. Ainda é o melhor dos sistemas. Dá pra fazer um filme com a sua narrativa, geekman. Pode colocar sua filha na direção e o Rafael na trilha. Por falar em Rafael, que lindoooooo o Hino do Brasil by Ivo e Funk’n Lata. Bonito, geek!:)
beijos
Comentário do Pô, meu!
Oi Sandra,
Obrigado. Que bom que o texto aqui do Pô, meu! emociona.
A defesa da democracia e das liberdades é um dos poucos pontos que sou radical. Os outros? Não tô lembrando, mas acabarei lembrando.
Vou passar a dica do filme prá Ju. Pódeixá.
;-)
Beijos,
Nelson
nelson obrigado pelo toque e tb é o unico ponto que sou radical democracia e liberdades civis!boa eleiçao!ab
Comentário do Pô, meu!
Oi Nine,
Deve ter mais alguma coisa que sou radical, mas esses são os que me vêm automaticamente à cabeça.
:-D
A essa hora, aqui no Rio, já sabemos que o Gabeira foi para o segundo turno. As chances de recuperação do Rio aumentaram.
Abraços,
Nelson
Opa Nelson!
Belíssimo texto (e belíssima trilha sonora) o único senão foi o incentivo a ineficácia do voto nulo ou em branco :-)
No mais assino ewm baixo!
[]’s
Sérgio F. Lima
Comentário do Pô, meu!
Oi Sérgio!
Muito obrigado!
Respeito sua posição quanto ao voto votado de qualquer maneira, mas eu sou a favor do voto consciente e amadurecido. Sou a favor da não obrigatoriedade do voto.
Se o cara chega no dia da eleição e não pensou em quem votar, vai acabar indo na onda de alguém e acredito mesmo, de coração, que esse é um voto perdido. Um voto falso.
Gosto da sua presença aqui.
:-)
Abração,
Nelson
Ah, que vergonha pela demora! Mil desculpas! Estou ouvindo nesse momento e devo dizer que está ótimo, hehehe! (Comentário parcial de uma fã de metal). Mas os hinos do país e seus símbolos fizeram parte de toda minha infância, pois meu pai é militar e nossa família sempre tinha que comparecer aos eventos militares, então, eu precisava saber os hinos e entender os símbolos.
Comentário do Pô, meu!
Oi Ray,
Olha, vou precisar de alguns anos para esquecer isso…
…
…
…
…
…
mentirinha… nem esquentei!
;-)
beijos,
Nelson