Celso Ming e a revolução em curso
- Por Nelson Correa
- 10 janeiro, 2007
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Entender o momento de transformações por que passamos, não é prerrogativa ou privilégio dos mais jovens ou dos iniciados na arte dos computadores. Depende tão somente de estar aberto e antenado com o mundo. E essas são características do jornalista Celso Ming. Não preciso dizer a idade do Sr. Ming, nem pesquisei, mas ele pratica a profissão de jornalista há 40 anos. Hoje, dentre outros lugares, ele pode ser lido no Estadão ou ouvido na rádio Eldorado AM São Paulo. Ele não é um blogueiro qualquer.
Seu artigo publicado hoje (10/01/2007) no Estadão é uma peça de sensatez e clareza com relação ao imbroglio Youtube. Ele até começa o artigo com um pouco de sarcasmo, já que diz que o que foi produzido pelo judiciário, foi muito mais que uma simples rima entre o nome do juiz (Santarelli) com o da artista (Cicarelli). Continuando, ele constata o que o Pô, meu! já havia constatado semana passada (aqui), e o Brasil inteiro também: “Mostrou que o Judiciário pouco entende de comunicação eletrônica.”
Celso Ming continua seu artigo: “E, assim, por nova ordem de Santarelli, o YouTube voltou sem a Cicarelli. Mas a guerra não acabou porque milhares de assinantes podem devolver as imagens à internet com outras palavras-chave e novos códigos, para evitar os filtros convencionais. Esta é mais do que uma questão que envolve o despreparo dos nossos juízes. Ficou difícil reverter ou reparar eventuais prejuízos à imagem pública ou à reputação de um cidadão por meio da divulgação de imagens e sons pela internet, mesmo onde a Justiça conhece a matéria, é eficiente e age rapidamente.”
Nesse ponto discordo humildemente do experiente jornalista. Não com relação ao despreparo, mas sim com a preocupação dele e de diversas outras pessoas, com quem conversei nos últimos dias, que são pouco ou nada iniciadas em tecnologia de computadores, quanto à impossibilidade, que o futuro nos reserva, de conter excessos e desvios por parte de pessoas mal intencionadas. Pela tecnologia difundida hoje, realmente vai ser difícil bloquear o vídeo “podrão” da artista com excitação descontrolada (ou o que tenha sido o motivador para aquela atitude). Mas em pouquíssimo tempo, algo como menos de 3 anos, teremos filtros disponíveis para avaliar imagens, e conseqüentemente, filtrá-las. Não ficaremos reféns da exposição pública descontrolada da imagem. O que o futuro não mudará em relação ao passado, é o foco para a repressão criminal: buscar e punir o criminoso.
Quando Ming escreve que estamos vivendo uma revolução tecnológica sem precedentes, ele definitivamente coloca o verdadeiro problema sobre a mesa: a revisão da nossa Lei Geral de Telecomunicações. Com a Internet é possível oferecer comunicação instantânea, escrita, falada ou filmada, sem precisar de sinal, como nos rádios, TVs ou como o ruído de discar dos telefones, como ainda pensa parte de nossa justiça. O que isso representa? Telefone, rádio, jornal e TV sem que toda a caixa preta de concessões públicas precise ser “usada”. Sem falar nas restrições ao capital estrangeiro ou então, na obrigatoriedade de diploma para jornalistas ou qualquer outra profissão diretamente relacionada com a comunicação.
Celso Ming termina seu artigo demonstrando uma preocupação, que eu acho um ponto altamente positivo, ele escreveu: “Não tem mais o que fazer com esse emaranhado de leis, regras e determinações regulamentares que tratam cada meio de comunicação como se fosse independente dos outros. Pior que tudo, não há clareza sobre o que colocar no seu lugar.” (grifado por mim)
Ótimo que não exista referência formal para reavaliar esse emaranhado de leis. Na maioria das vezes, precisamos evoluir gradativamente como sociedade. Todavia em certos momentos, ao invés de evolução, precisamos sim, de revolução. E como tudo está se mostrando ineficaz e desmontado, devemos aproveitar e começar a construir do zero essa nova forma de legislar nesse mundo que a tecnologia está definitivamente revolucionando.
Um brinde às oportunidades que o futuro nos oferece! ;-)
Tenho lido os artigos sobre a questão do judiciário e a “proibição” de acesso ao Youtube pelo Brasil e seus internautas. Infelizmente meu conhecimento tecnológico sobre internet se restringe a pequeno estudo que fiz e que tento continuar fazendo, não me acho habilitada a comentar sobre a tecnologia de ponta! Entretanto, me sinto habilitada para falar sobre o judiciário. Cheguei a fazer um comentário, via e-mail com o Nelson, sobre o arroubo ou coragem para expressar seus sentimentos através de sua ótica em relação ao judiciário e, não pude discordar de muitas coisas. Infelizmente pude verificar que a imagem que representa a justiça está tendo interpretação errônea no que tange aos olhos vendados, já que a representação é justamente do fazer a justiça sem ver a quem. Não deixo de concordar que deve haver algum buraquinho por onde a justiça está podendo ver a quem está fazendo a (in)justiça e, com isso, perdendo a credibilidade. Não nos compete falar sobre certo ou errado, mas nos compete cobrar os erros e aplaudir os acertos e o que vemos hoje é um acúmulo de erros que acontecem e se justificam pelo ego de cada errante. Talvez nosso Judiciário esteja sem tempo para aprender, ou mesmo sem conhecidos suficientes para lhes ensinar e, com isso vamos vendo as aberrações acontecendo como a do Youtube e nos sentido meio enfraquecidos, já que por muitas vezes, em vários artigos, públicos ou não, joga-se ao escárnio e à ironia o que deveria ser feito de forma cega, entretanto, cada vez mais se faz para ser visto. Lamento por ver não os erros calcados no egocentrismo, mas lamento por ver os erros corriqueiros de desastres na lingua portuguesa, de total falta de conhecimento em revogações e tantos outros. Se é para falar do Judiciário é fácil, se é para falar da “tecnologia de ponta”, mesmo com o pouco que estudei do assunto e dos poucos congressos que participei, já fica mais complicado para mim, mas concordo plenamente no que diz respeito a formalização ou unificação das Medidas, Decretos e afins que formaram a colcha de retalhos que pretendem fazer valer de lei. Certa ou errada, resolvi também me valer do arroubo e coragem, afinal, dizem que genética é assim mesmo.