Acabei no Piranhão



Cochilando no Piranhão

Ninguém foi acordar o cavalheiro que cochilava enquanto aguardava sua vez de atendimento. Foto de Nelson Corrêa com BlackBerry 8100

Em algumas áreas de atividade a Internet Tecnologia da Informação chegou feito um tsunami, derrubando e arrastando tudo que parecia sólido e firme há muito tempo. Já em outras, ela se assemelha a uma infiltração de água através de rejunte mal feito no ralo do banheiro, vai se espalhando bem devagarinho.

Semana passada eu precisei pedir à Prefeitura do Rio a devolução de um ITBI (Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis) que foi pago mas a transação do imóvel não foi concretizada. Fui ao site da Secretaria de Fazenda do município e achei o procedimento que deveria ser seguido, incluindo lista de documentos que deveriam ser apresentados e versão para impressão dos formulários que deveriam ser preenchidos. Uau! Essa era a Internet tsunami, demolindo os “despachantes” que cafetizam nossas repartições públicas.

Mas em pouco tempo percebi que as exceções não são tão simples de serem administradas. Um dos formulários para preenchimento era uma declaração de extravio da guia de recolhimento do imposto (ITBI). Até aí, perfeito. O problema era que deveria ser colocado nessa declaração o número da guia de pagamento extraviada. Ora, quem guarda um número de uma guia de recolhimento de imposto por precaução para o caso de perdê-la, nunca a perderá. Eu não tinha o tal número. Não havia no site nenhum procedimento explicativo ou processo de pesquisa para achar o tal número.

Bem, não vai ter outro jeito, deve ser fácil ir lá e descobrir a solução, pensei eu, em função da experiência positiva que tive com o serviço na web. Saí cedo, peguei o metrô, desci no Estácio e após uma curtíssima caminhada, lá estava eu pela primeira vez entrando no Piranhão. Aliás, no anexo do Piranhão. Calma gente (para os não cariocas), não estou sendo grosseiro ou fazendo alusões ao prefeito ou a qualquer funcionário público do município. É que onde estão estes prédios da prefeitura, já foi a zona (de meretrício) do Rio, a famosa Zona do Mangue ou mais recentemente, a Vila Mimosa.

Primeiro, recepção, onde me indicaram uma fila única para assuntos de ITBI. Não estava grande, entre 10 a 20 pessoas. Chegou minha vez, expliquei que queria pedir a restituição do imposto mas que não tinha a guia, como proceder? O atendente imprimiu uma senha e me mandou para uma área onde haviam cadeiras (algumas mal ocupadas – vide foto) para o povo esperar e uma bateria de mesas, equipadas com computadores, com 4 a 8 atendentes trabalhando, dependendo da vontade de fazer xixi disponibilidade deles. Ganhei o código “Cinza 86”. Olhei para o monitor que chamava as senhas e junto com várias cores (cada atendente respondia por uma cor), descobri que a lista “cinza” estava no número 72.

Marolinha. A manhã foi passando por conta dos 5 a 10 minutos que cada pessoa na minha frente demorava para ser atendida, sentadinha com o funcionário da prefeitura. Ufa. Chegou a minha vez. Para a minha tristeza, fui reenviado para o atendente que distribuía senhas com a missão de pedir uma senha “vermelha”. Essa devia ser a minha cor, de raiva pela espera em vão. Voltei, peguei a senha “Vermelho 30”. O atendimento estava no “Vermelho 21”.

Vou poupá-lo do resto, até porque nada diferente aconteceu. No final, após uma estupidamente rápida pesquisa no sistema, recebi o número da guia perdida para colocar na solicitação de restituição. Saí do Piranhão com duas convicções:

1 – Se ali ainda funcionasse a antiga atividade como atividade fim, eu não ficaria esperando quase 3 horas para ser atendido, mesmo que no fim, fosse só para uma consulta, digamos, rapidinha.

2 – Independente da troca de atividade fim da localidade, ainda se vê proxenetas circulando pelo local. Ainda que sejam somente cafetões de papéis de repartições públicas.



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