A Portelinha do Caribe

• Por Nelson Correa
• 21 fevereiro, 2008
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Diferente do Juvenal Antena da ficção brasileira, o tutor com mão de ferro da belíssima ilha caribenha, pediu para sair. Esse nosso Juvenal, o dono da Portelinha, diferente do cubano, não leva muito jeito de ditador, ele vai acabar perdendo o poder para o garanhão de ébano, que com malícia, empatia e política vai conquistando a Portelinha, começando pela mulherada.

Talvez eu não devesse dar palpite na vida dos cubanos. Mas a ditadura Castro nasceu quase junto comigo. Temos praticamente a mesma idade, sou só um pouquinho mais novo. Cresci ouvindo falar na ilha comunista. Cuba foi um quadro do quanto os países pobres são explorados, em todos os sentidos, pelos poderosos que os comandam. Esses poderosos constumam oferecer facilidades para estrangeiros canalhas que os ajudam internamente, enquanto roubam o país. Na partilha, os gringos sempre ficam com a melhor parte.

Cuba também foi um exemplo de que os podres poderosos podem ser expulsos do poder. A revolução cubana, comandada por Fidel Castro mudou a vida em Cuba. Isso é história. Isso é inegável. Mas é inegável também que o liberdador se transformou no novo dominador, um ditador que prendeu adversários políticos por anos e matou muitos outros. Tudo isso para não perder o poder. O podre poder.

Normalmente fanfarrões como Pinochet, Idi Amim, Saddam, Mussoline, Hitler, Stalin, Salazar, Franco, Vargas, Jong-il, Jaruzelski, Kadafi, Mobuto, Suharto, Tito, Mao, Ho Chi Minh, Pol Pot, Peron, Khomeini, Ferdinand Marcos, Milosevic, Papa Doc, Chiang Kai-shek, Lenin, Mugabe, não costumam pedir para sair. Nem mesmo alguns aprendizes de fanfarrão como Chavez e Morales pedem para sair. Infelizmente. Mas o fanfarrão Castro pediu para sair. Nem ele agüentou mais. Quase cinqüenta anos ditando o que o povo cubano queria ou teria que fazer, é dose até para o señor zero-uno.

O pior é a falta de prática e hábito. Nós brasileiros, que ficamos 25 anos sem escolher o presidente por conta de uma ditadura pseudo-democrática, quando voltamos a votar, deixamos políticos como Ulisses Guimarães e Mário Covas com votação medíocre. Nas três primeiras posições ficaram os figuraços Collor, Lulla e Brizolla. Mas era a primeira parte do reaprendizado, e foi bom demais. Tem sido bom demais, apesar de tudo. Já lá na Portelinha caribenha, para não ser reconduzido automaticamente, o ditador avisa que não quer mais. Como ele já deixou o irmão tomando conta das contas, espera-se que festança continue em família (e quem sabe, com uma boa parte para certos consultores).

Em lugares sérios do mundo, bastava não se candidatar. E os caras que a gente odiava (muitos fazem disso uma religião – eu particularmente nunca odiei e nem amei) praticam, praticam, praticam e vão ensinando ao resto do mundo que mesmo sendo uma porcaria, capaz de ter o Waltinho-de-olhos-juntos durante oito anos no poder, a democracia ainda é a melhor forma de tutelar o poder.

ATENÇÃO:

Momentos antes do fechamento dessa edição, recebemos de fontes confiáveis (serão?) a informação que, na verdade, Fidel cansou do comunismo e resolveu deixar de ser ditador para ser garoto propaganda da Adidas. O novo capitalista aproveitou também para pedir desculpas por não ter pago a prostituta que dormiu com ele em Siera Maestra, na véspera da tomada do poder. Ela se chamava Historia e não se tem mais notícias de seu paradeiro. Acredita-se que cansou de ter sido enganada, e tenta em vão, contar a verdade para seus netos. Mas há controvérsias. Estima-se que a fonte pode não ser confiável.