Steve Jackson ou Michael Jobs
- Por Nelson Correa
- 15 outubro, 2011
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Hoje no escritório um jovem companheiro de trabalho me perguntou se eu sabia quem havia inventado a criptografia assimétrica. Me surpreendi com a velocidade que meu cérebro cuspiu os nomes Rivest, Shamir e Adleman. Seria confiável? Sei lá, a gente vai envelhecendo, pode já estar misturando os canais. Enfim, não custava nada ir na Wikipedia e verificar se a informação procedia.
Wikipedia, verbete RSA, em português, estava lá: Ron Rivest, Adi Shamir e Leonard Adleman, fundadores da empresa RSA e criadores da mais bem sucedida implementação de sistemas de chaves assimétricas e que foi também o primeiro algoritmo a possibilitar criptografia e assinatura digital, e uma das grandes inovações em criptografia de chave pública. OK, cheguei perto. Não foram eles os pais da criptografia de chaves públicas, antes deles Whitfield Diffie e Martin Hellman criaram o primeiro método de troca de chaves, o Diffie–Hellman key exchange. Por outro lado, criptografia é um estudo que remonta à Idade Média.
Bom, se a gente tem uma enciclopédia disponível ao simples toque de algumas teclas, por que eu precisaria ter toda essa informação na cabeça, não é? Acho que valeu por lembrar do trio lá de cima, afinal, eles foram os primeiros de sucesso nessa área de chaves públicas e seus conceitos perduram até hoje.
Se você foi valente e chegou até aqui neste texto específico, chato e sem noção, parabéns! Pois reler o trabalho e a história desses três caras nesse momento histórico da morte do Steve Jobs, me transportou automaticamente para a época da morte do Michael Jackson (wikipedia, por favor…), junho de 2009. Michael era o gênio da música pop. Pode ser que ele tenha feito mais pela vida das pessoas contemporâneas do que gênios da música erudita como Johann Sebastian Bach, Wolfgang Amadeus Mozart, Ludwig van Beethoven, Franz Schubert, Frédéric Chopin entre vários outros. Mas é bem provável que esses tiozinhos tenham feito muito mais pela música que Michael Jackson.
Jobs é o Michael Jackson da computação. Uma capacidade, inventividade e criatividade acima da média, alguns hits fantásticos, gritos histéricos de fans, popularidade com o poder de uma tsunami, quase uma religião popular de massas e ainda, um senso de business como poucos na história recente da humanidade. Provavelmente Rivest, Shamir e Adleman, dentre outros como Vinton Cerf, Yogen Dalal, Carl Sunshine e Robert Kahn (desenvolvedores do protocolo usado até hoje na Internet, o TCP/IP), Tim Berners-Lee (inventor da World Wide Web, essa mesmo, a www que estamos agora), os pesquisadores do National Center for Supercomputing Applications (que desenvolveram o primeiro browser para web que mostrava imagens, o Mosaic), E.A. Johnson (inventor no monitor touchscreen, aquele usado no iPad e outros devices) contribuíram muito mais para a Internet que conhecemos hoje e conectividade das pessoas, mas não são pop como Jobs (Apple), Gates (Microsoft), Zuckerberg (Facebook), Larry Page/Sergey Brin (Google) ou Bezos (Amazon).
O que concluo? Que a fé ainda é uma força muito poderosa nessa nossa humanidade. Que a fé continua sendo construída com muito marketing. Que a fé é a matéria prima básica de qualquer religião. Que a fé ainda é pop. Que um percentual imenso dos que choram mais copiosamente a morte de Jobs pensam que não têm religião.
Eu sempre coloquei o Jobs na lista dos homens que admiro como businessman. Lá Também está o Michael Dell, Bill Gates, João Carlos Paes Mendonça, Edson Mororó, Delmiro Golveia, Silvio Santos, etc. Ser bom nos negócios não necessariamente quer dizer que você seja um sujeito ético.
Porém, devemos analisar o que o Jobs plantou e deixou. Ele era perfeccionista, minucioso e sob sua batuta ele mudou muitos modelos de produção industrial, criando a precisão em escala industrial nunca vista antes. Peças passaram a se encaixar com simetria de microns. Eles também era um ditador, sim! E graças a ele era proibido conteúdo pornográfico e softwares de baixa qualidade na sua loja online. A Apple foi a única fabricante de PCs que não aceitou pulverizar sua plataforma, como os x86 da Intel e AMD. Sempre pareceu coisa de louco, mas hoje eles tem de 6 a 10% do mercado de PCs, e isso brigando com dezenas de fabricantes mundiais. O Jobs não foi só marketing. Mas sua morte sim, virou um circo como todas as outras de celebridades. E na minha humilde opinião, a fé é algo tão importante para a vida humana, que por mais que estejamos fazendo errado, ela sempre nos acompanha e por muitas vezes é o motor de mudanças. (E olha que eu sou agnóstico)
abraços!
[…] Os que se aventuram a ler este Pô, meu! sabem que não acho o Steve Jobs um semideus. Sabem que eu o admirava por sua criatividade e, principalmente, por seu tino de negócios. Escrevi logo depois da sua morte a minha opinião sobre ele no artigo Steve Jackson ou Michael Jobs. […]