O início de uma nova era
- Por Nelson Correa
- 16 março, 2007
- Nenhum comentário
Entre 1982 e 1985 eu trabalhava no Aeroporto de Jacarepaguá, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro. Estava gerente das oficinas de revisão de componentes aeronáuticos da Votec Serviços Aéres Regionais. O aeroporto fica muito próximo do Autódromo de Jacarepaguá (confirme aqui pelo Google maps), e naquela época, o Grande Prêmio Brasil era lá.
Mais do que ir para o local do Grande Prêmio que abria a temporada, as equipes fugiam do frio inverno europeu para fazer os testes de pré-temporada no Brasil, no ensolarado Rio de Janeiro. A tecnologia usada na Fórmula-1 era muito próxima da que usávamos na aviação. Eles, as equipes de Fórmula-1 estavam muito longe de suas sedes, e nós, ali no aeroporto, estávamos ao lado deles com tecnologia, técnicos e equipamentos que eles precisavam.
E eles sempre precisavam de soldas especiais, usinagem, e serviços ultra especializados que nós tínhamos para oferecer. Sem contar que eu estava lá, apaixonado, babando estupefato com aquelas maravilhas da tecnologia em quatro rodas. Fiz muitas amizades (conto outra hora), visitava os boxes, conversava com engenheiros e mecânicos sobre as novas tecnologias de cada ano, mas mantinha uma certa distância dos pilotos.
Tiéte de piloto havia milhares, mas tiéte dos técnicos, ninguém. Assim eu garantia um diferenciador e transitava livremente entre carros e boxes de quase todas as equipes. Mas o sonho estava junto com os milhares de tiétes: dentro de um macacão (os mecânicos naquela época usavam bermudas), sob um capacete e apertado naquela banheira barulhenta de combustível.
E foi a partir dessas amizades que assiti em todos aqueles anos, ao Grande Prêmio Brasil de Fórmula-1, de dentro dos boxes. Não havia aquelas tendinhas onde ficam hoje os chefes de equipe monitorando computadores e acompanhando vídeos, nós ficávamos pregados na mureta divisória entre os boxes e a pista. Lembro da primeira vez, em 1982, os carros chegando para o pit lane, coloridos, barulhentos. As arquibancadas como pano de fundo. Mecânicos, jornalistas, fotógrafos, cinegrafistas, mulheres, e o batimento cardíaco aumentando a cada troca de placa indicando os minutos que faltavam para a largada.
Lembro que me ofereceram algodão para proteger o ouvido. Blasfêmia encobrir a percepção plena daquela música de motores. Mantive meus ouvidos nus. Eu estava em frente ao segundo colocado no grid de largada. Quem era? O que importa? Enquanto os giros dos motores subiam aguardando a luz verde, meu coração funcionava na faixa vermelha, overheaded. Eles partiram… dentro de 2 segundos, carros fundiram-se em frente aos meus olhos em um borrão de cores de uma pincelada única e contínua. Meus tímpanos, ah meus tímpanos… descobri que eles existiam e que quase foram jogados para dentro da minha cabeça. Inesquecível.
Lembro desse fato porque hoje é o início de uma nova era na Fórmula-1. Quem sairá vencedor? Não importa que seja o Massa, o Alonso, o Raikkonen, ou até mesmo o Barrichelo, torço para que nós, os espectadores apaixonados da F1 sejamos os grandes vencedores dessa nova era. Vamos para a Austrália nas próximas duas madrugadas. Que nasça o próximo rei.
Ouça os sons da Fórmula-1, trazidos do http://www.f1-fansite.com/
Música 1: Partida do motor de uma Ferrari dentro dos boxes, e depois saindo e um crescente de aceleração.
Música 2: Schumacher em uma Ferrari chegando em um chicane, redução e reaceleração.
Música 3: Seis Fórmulas-1 passando seguidamente, um após o outro.
Deixe uma resposta