A Bolívia, o gas e o Brasil. Falando sério.
- Por Nelson Correa
- 16 fevereiro, 2007
- 1 Comentário
Me penitencio pela tendência a sair do sério quando vejo os principais atores políticos latino americanos e a forma bufa (*) como tratam da gente. Entendam bufa como quiserem, se da forma mais comumente usada no Brasil ou como a usam em Portugal. São estes desvios que provocam o post “A festa continua”, me desculpem. Mas agora vamos falar sério sobre esse tema.
Nesta semana mesmo, dois artigos publicados online, nos blogs do William Wack, no portal G1 (aqui), e da Miriam Leitão, no Globo Online (aqui), dão a verdadeira dimensão desse assunto. Tive o trabalho de ler todos os comentários postados pelos leitores dos dois jornalistas, e nenhuma contestação séria foi escrita. Quem não concordou, o fez de forma infantil e às vezes, até grosseira. Isso só dá a indicação que a chance deles estarem com a razão é muito grande.
Miriam Leitão escreveu na terça-feira (13/02/2007), portanto, alguns dias antes da visita ao Brasil do ex-cocaleiro e atual líder do poder executivo da Bolívia, Evo Morales. Ela explica com muita clareza no seu artigo “Evo está com a faca e o queijo” que o discurso do boliviano, apesar de querer apresentar-se verdadeiro e parecer honesta reivindicação, não tem nada de sério.
Os bolivianos, comandados por Don Evo, usam a Argentina como referência para o preço que querem cobrar do gás que exportam para o Brasil. A pequena diferença entre nuestros hermanos platinos y nosotros é que eles não coçaram o bolso para fazer o business “gás” acontecer na Bolívia. Enquanto a Petrobrás investiu vários milhões de dólares para tal, os argentinos vendiam gás e concorriam com a Bolívia.
William Waack escreveu na quinta-feira (15/02/2007), enquanto o ex-metalúrgico e atual líder do executivo do Brasil, Sr. Lula, dava continuidade à política externa brasileira para a América do Sul, oferecendo vantagens financeiras para a Bolívia com o dinheiro dos investidores da Petrobrás, incluindo o tesouro nacional. Em “Política externa brasileira apóia os experimentos no continente”, Waack inicia mostrando que os formuladores de nossa política externa ou são trapalhões ou ainda estão com vergonha de assumí-la, dada as constantes controvérsias e desmentidos.
O que o Brasil está fazendo é “facilitar a vida de um vizinho às custas do acionista da Petrobrás (quem paga o gás), entre eles milhares de trabalhadores brasileiros que compraram ações da empresa. Às custas também de consumidores, tanto empresas quando pessoas físicas. É um gesto, portanto, político.” Tudo isso em nome do patrocínio de uma pseudo revolução que acontece hoje na Bolívia, influenciada pelo coronel vizinho.
Aposto na proporção de 10 por 1… ok, covardia, mudo para 100 por 1, que a Bolívia, apesar de toda ajuda de seus generosos vizinhos, entrará a próxima década mais pobre e dividida do que iniciou essa. Pobre América Latina.
(*) bufa, s.f.
Em priberam.pt: ventosidade que sai sem ruído pelo ânus e que tem cheiro desagradável;
Em Houaiss.uol: derivação: sentido figurado. ato ou modos de fanfarrão; paparrotada, bazófia
Caro,
Os acionistas da Petrobras, para que saibamos, são 1) os contribuintes brasileiros, maioria absoluta os trabalhadores, que por décadas subsidiaram a construção desta que é das nossas maiores riquezas em conhecimento técnico e em divisas, 2) hoje muitas das ações são aberts, ou seja, são de qualquer um com dinheiro o suficiente para investir – ou seja, dificilmente a grande maioria dos cidadãos brasileiros, trabalhadores.
Os bolivianos, soberanos em seu território, são donos do gás, isto creio que concorda comigo. Entretanto, gás no subsolo não é riqueza em si, só com o trabalho de ir lá sacá-lo e etc, ele se torna valor realmente. A petrobras fez o investimento para iniciar a exploração desta riqueza, mas não se engane, para cada dólar que ela pôs naquele maquinário, na formação de pessoal, em técnica, ganhamos 8 dólares. Não podemos, portanto, falar em prejuízo per se, o investimento já havia sido recuperado. Ademais, a Petrobras foi ressarcida de maneira justa – compraram o maquinário que deixamos pra trás. Lembremos que a principal função do Estado nacional é cuidar do bem-estar do cidadão, e o cidadão boliviano é muito pobre – sem sentimentalismo esquerdista. Assim, agiu certo em pagar somente o justo.
Contrariando as predições da Leitão e do Waack, a Bolívia está cada vez melhor, sua economia crescendo. A ideologia funciona para os dois lados – nos cega.
Comentário do Pô, meu!
Caro Tião,
Antes de mais nada, é um prazer recebê-lo por aqui. Obrigado por colocar sua opinião no Pô, meu!
Veja só Tião, há alguns anos os trabalhadores brasileiros podem direcionar parte de seu FGTS para investir em ações da Petrobrás. E olha que o rendimento nos últimos 5 anos foi fantástico, se comparado ao padrãozão do FGTS.
;-)
Quanto à soberania de nações, sou totalmente a favor. Só acho que contratos não devem ser quebrados unilateralmente. Existem foros internacionais para mediar. A atitude do Sr. Morales é queima de fogos para agradar seus eleitores.
Me passe por favor esses números que mostram a Bolívia cada vez melhor. Gostaria muito de vê-los e publicá-los. Acredito que boa parte deles se deve ao investimento feito pela Petrobrás para proporcionar-lhes divisas com a venda do Gás.
Abraços e sucesso,
Nelson
P.S. Quanto à ideologia, é justamente por cegar, que hoje ando afastado dela. Atualmente sou pragmático, principalmente depois da eleição do segundo turno para prefeito do Rio, onde o valoroso PCdoB (e outros já acostumados com a lambança política como PT) cai de cabeça e apóia com corpo e alma o PMDB local