Meio milhão


Meio milhão de mortes pode ser considerado genocídio? Não! Apesar do termo ter sido bastante repetido após os quase 2.000 palestinos mortos durante o conflito entre Israel e o grupo Hamas, não podemos dizer que essas mortes todas configuram genocídio. Mas determinam sim, o baixíssimo grau de desenvolvimento humano como sociedade, do país que em dez anos, de 2003 a 2012, teve 536 mil mortos em acidentes de trânsito. Esse é o retrato do Brasil.

Esse número acabou de sair do forno em uma pesquisa do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ). A matéria pode ser lida na Agência Brasil ou no Valor Econômico.

Me impressiona que não mais nos surprendamos com esse absurdo. Interessante tentar fazer um paralelo dessas mortes com a embriaguez dos motoristas e até mesmo dos acidentados. A pesquisa não faz referências ao tema, mas encontrei um estudo no site da Scielo Brasil feito por alunos da Escola Anna Nery onde é possível considerar que a terça parte dessas mortes são provenientes de casos de embriaguez.

Em junho de 2008, foi aprovada a Lei 11.705 que modificou o Código Nacional de Trânsito, que ficou marqueteiramente conhecida como Lei Seca. Essa é a lei criada para tentar impedir assassinatos no trânsito, mas que te considera um criminoso antes que você faça uma vítima, é o futuro trazido ao nosso presente por nossos legisladores fantásticos. Mas ela não conseguiu diminuir a quantidade de mortos causados por acidentes de trânsito. :-(

E isso não vai mudar (infelizmente) até que o motorista embriagado que assassine uma pessoa no trânsito, tenha o mesmo tratamento de quem aperta o gatilho de uma arma contra o peito de uma pessoa. Nossa cultura cria barreiras, muros altos para impedir o delito, mas costuma premiar quem consegue ultrapassar esses muros e cometer o delito. Outras culturas preferem muros e barreiras baixas, mas com firme e educativa punição para os que ultrapassem as barreiras e cometam delitos.

Nós ainda preferimos brincar de matar inconsequentemente.



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